IV. PAULO PRISIONEIRO
DE CRISTO [i]
Capítulo 26
Discurso de Paulo
perante Agripa
1Agripa disse a Paulo: «Estás autorizado a falar em tua
defesa.» Então, estendendo a mão, Paulo começou a sua defesa:
2«Sinto-me feliz, ó rei Agripa, por ter de me defender
hoje diante de ti, das acusações apresentadas pelos judeus contra mim, 3tanto
mais que estás ao corrente de todos os costumes e controvérsias dos judeus.
Rogo-te, por isso, que me oiças com paciência. 4A minha vida, a partir da
mocidade, tal como decorreu desde os primeiros tempos, no meu povo e em
Jerusalém, conhecem-na todos os judeus. 5Eles conhecem-me de longa data e, se
quiserem, podem atestar que eu vivi, como fariseu, segundo o partido mais
severo da nossa religião. 6E, agora, encontro-me aqui a ser julgado por causa da
minha esperança na promessa feita por Deus a nossos pais, 7promessa que as
nossas doze tribos esperam ver realizada, servindo a Deus, noite e dia,
continuamente. É a respeito dessa esperança, ó rei, que os judeus me acusam.
8Porque é que, entre vós, se afigura incrível que Deus ressuscite os mortos?
9Quanto a mim, julguei dever levantar grande oposição ao nome de Jesus de
Nazaré. 10E foi precisamente o que fiz em Jerusalém: com o pleno assentimento
dos sumos sacerdotes, meti na prisão grande número de santos e, quando eram
mortos, eu dava o meu assentimento. 11Muitas vezes ia de sinagoga em sinagoga e
obrigava-os a blasfemar, à força de torturas. Num excesso de fúria contra eles,
perseguia-os até nas cidades estrangeiras.
12Foi assim que, indo para Damasco com poder e delegação
dos sumos sacerdotes, 13vi no caminho, ó rei, uma luz vinda do céu, mais
brilhante do que o Sol, que refulgia em volta de mim e dos que me acompanhavam.
14Caímos todos por terra e eu ouvi uma voz dizer-me em língua hebraica: ‘Saulo,
Saulo, porque me persegues? É duro para ti recalcitrar contra o aguilhão.’
15Perguntei: ‘Quem és tu, Senhor?’ E o Senhor respondeu: ‘Eu sou Jesus a quem
tu persegues. 16Ergue-te e firma-te nos pés, pois para isto te apareci: para te
constituir servo e testemunha do que acabas de ver e do que ainda te hei-de
mostrar. 17Livrar-te-ei do povo e dos pagãos, aos quais vou enviar-te, 18para
lhes abrires os olhos e fazê-los passar das trevas à luz, e da sujeição de
Satanás para Deus. Alcançarão, assim, o perdão dos seus pecados e a parte que
lhes cabe na herança, juntamente com os santificados pela fé em mim.’
19Desde então, ó rei Agripa, não resisti à visão celeste.
20Pelo contrário, aos habitantes de Damasco, em primeiro lugar, depois aos de
Jerusalém e de toda a província da Judeia, em seguida, aos pagãos, preguei que
se arrependessem e voltassem para Deus, fazendo obras dignas de tal
arrependimento. 21Eis o motivo por que os judeus se apoderaram de mim no templo
e tentaram matar-me. 22Amparado pela protecção de Deus, continuei a dar o meu
testemunho, diante de pequenos e grandes, sem nada dizer além do que os
Profetas e Moisés predisseram que havia de acontecer: 23que o Messias tinha de
sofrer e que, sendo o primeiro a ressuscitar de entre os mortos, anunciaria a luz
ao povo e aos pagãos.»
Agripa reconhece a
inocência de Paulo
24Neste ponto da sua defesa, Festo exclamou em voz alta:
«Estás doido, Paulo! A tua grande sabedoria faz-te perder o juízo.» 25Disse
Paulo: «Eu não estou doido, excelentíssimo Festo! Pelo contrário, estou a falar
a linguagem da verdade e do bom senso. 26O rei está inteirado destas coisas e,
por isso, lhe falo francamente, pois não creio que ele ignore nada disto, tanto
mais que não foi a um canto que tudo se passou! 27Acreditas nos Profetas, rei
Agripa? Eu sei que acreditas.»
28Agripa respondeu a Paulo: «Por pouco não me persuades a
fazer-me cristão!» 29Disse Paulo: «Prouvera a Deus que, por pouco ou por muito,
não só tu, mas todos quantos hoje estão a ouvir-me se fizessem tais como eu
sou, à excepção destas cadeias!»
30O rei levantou-se, assim como o governador, Berenice e
os que estavam sentados com eles. 31Ao retirarem-se, diziam entre eles: «Este
homem nada fez que mereça a morte ou os grilhões.» 32Agripa disse a Festo:
«Este homem poderia ser posto em liberdade, se não tivesse apelado para César.»
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