Numa sala de tratamentos mesmo ao lado ouvem-se os
contínuos lamentos e ais de um homem já com alguma idade, percebendo-se que
deve estar a sofrer dores difíceis de suportar.
Faz impressão porque não se ouve ninguém a falar com ele,
a tentar distrai-lo do seu sofrimento, a, de algum modo, amenizar a situação em
que se encontra, embora muita gente passe por ele continuamente.
Pelas pessoas que estão na sala, percebe-se que foi
deixado no hospital por alguém que já ali não está e que nestes momentos se
deve encontrar sozinho, sem ninguém.
Pelo meio dos simples ais, ouve-se de quando em vez um
“ai Jesus” que parece ser mais uma manifestação de dor, do que uma invocação do
Santo Nome do Senhor.
Interiormente faço uma oração a Deus, ao Pai, que o
envolva no seu amor, ao Filho que lhe dê a mão e ao Espírito Santo que o cure e
liberte do sofrimento.
Mesmo com a oração, o sentimento de impotência, (pois não
posso entrar ali), é enorme e o meu coração derrete-se com os ais de quem nem
sequer conheço, nem reconheço.
Lembro-me da poesia, “mas às crianças Senhor porque lhes
dais tanta dor, porque padecem assim”, e troco as crianças pelos velhos, (dos
quais rapidamente me aproximo em idade), e fico ainda mais triste, revoltado
mesmo, porque às dores, ao sofrimento, vem sempre acompanhado um certo
abandono, que leva à terrível sensação de que “já não estou a fazer nada nesta
vida”.
Em que momento deixamos nós, sociedade, de nos preocupar
verdadeiramente, emocionalmente, com os outros, sobretudo com aqueles que estão
no início da vida, (matamo-los até no ventre da mãe), e no fim da vida, criando
em tudo o que é lugar “dispensários de velhos” mais ou menos abandonados”?
Tem compaixão, Senhor, não de nós egoístas, fechados nas
nossas vidas, mas daqueles de quem se ouvem os ais, que entram no coração e
fazem chorar sentimentos antigos, de famílias reunidas à volta de todos,
custasse o que custasse.
Aos poucos parecem esbater-se os ais!
Acredito que foste Tu, Senhor, que ouviste os “ai Jesus”,
ou então foi o cansaço que venceu a dor.
De qualquer modo, obrigado Senhor, porque só em Ti
encontramos o descanso que vence a dor, só em Ti encontramos a paz e a vida.
JOAQUIM MEXIA ALVES, Leiria, 7 de Janeiro de 2017 (05:30)
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