Art.
3 — Se pela Paixão de Cristo os homens foram libertados da pena do pecado.
O
terceiro discute-se assim. — Pela Paixão de Cristo os homens não foram libertados
da pena do pecado:
1. — Pois, a pena principal do pecado é a
condenação eterna. Ora, os condenados ao inferno pelos seus pecados não foram libertados
pela Paixão de Cristo, porque para o inferno não há nenhuma redenção. Logo,
parece que a Paixão de Cristo não libertou os homens da pena.
2. Demais. — Aos livres do reato da pena
não se lhes deve acrescentar nenhuma pena. Ora, aos penitentes acrescenta-se-lhes
a pena satisfatória. Logo, pela Paixão de Cristo os homens não foram livrados
do reato da pena.
3. Demais. — A morte é a pena do pecado,
segundo o Apóstolo: O estipêndio do
pecado é a morte. Ora, mesmo depois da Paixão de Cristo os homens morrem.
Logo, pela Paixão de Cristo não fomos libertados do reato da pena.
Mas, em contrário, a Escritura: Ele foi o que tomou sobre si as nossas
fraquezas e ele mesmo carregou com as nossas dores.
Pela Paixão de Cristo fomos libertados
do reato da pena, de dois modos. - Primeiro directamente; isto é, porque a
Paixão de Cristo foi uma satisfação suficiente e superabundante pelos pecados
de todo o género humano; ora, dada a satisfação suficiente, fica eliminado o
reato da pena. - De outro modo, indirectamente, isto é, enquanto a Paixão de
Cristo é a causa da remissão do pecado, no qual se funda o reato da pena.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
A Paixão de Cristo produz o seu efeito naqueles a quem se aplica pela fé, pela
caridade e pelos sacramentos da fé. Por isso, os condenados ao inferno, que não
estão unidos à Paixão de Cristo do modo que acabamos de referir, não lhe podem
colher o efeito.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Como dissemos,
para conseguirmos o efeito da Paixão de Cristo, é necessário que nos
assemelhemos com ela. Ora, assemelhamo-nos com ela no baptismo, sacramentalmente,
segundo o Apóstolo: Fomos sepultados com
ele para morrer ao pecado pelo babtismo. Por isso aos baptizados não se
lhes impõe nenhuma pena satisfatória, por estarem totalmente libertados pela
satisfação de Cristo. Mas porque Cristo
morreu pelos nossos pecados uma só vez, no dizer da Escritura, por isso o
homem não pode uma segunda vez assemelhar-se com a morte de Cristo pelo
sacramento do baptismo. E por isso, os que depois do baptismo pecam hão-de
assemelhar-se com Cristo, padecente por alguma penalidade ou sofrimento, que suportem
na sua pessoa. Mas essa penalidade basta, apesar de muito menor que a merecida
pelo pecado, por causa da cooperação da satisfação de Cristo.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A satisfação de
Cristo produz efeito em nós, se nos incorporarmos com ele como os membros com a
cabeça, conforme dissemos. Ora, os membros hão-de conformar-se com a cabeça, Donde,
assim como Cristo teve primeiro a graça na alma com a passibilidade do corpo, e
chegou pela Paixão à glória da imortalidade, assim também nós, que somos os seus
membros, somos pela sua Paixão libertados do reato de qualquer pena. Mas para
isso devemos primeiro receber na alma o Espírito da adopção de filhos pelo qual
adimos a herança da glória da imortalidade, enquanto ainda temos um corpo
passível e mortal. Mas depois assemelhados aos sofrimentos e à morte de Cristo,
chegaremos à glória imortal segundo o Apóstolo: Se somos filhos somos também herdeiros; herdeiros verdadeiramente de
Deus e co-herdeiros de Cristo, se é que, todavia nós padecemos com ele para que
sejamos também com ele glorificados.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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