Art.
6 — Se a Paixão de Cristo obrou a nossa salvação a modo de eficiência.
O
sexto discute-se assim. — Parece que a Paixão de Cristo não obrou a nossa
salvação a modo de eficiência.
1. — Pois, a causa eficiente da nossa
salvação é a grandeza da virtude divina, segundo a Escritura: Eis ai está que a mão do Senhor não é
abreviada para não poder salvar. Ora, Cristo foi crucificado por
enfermidade. Logo, a Paixão de Cristo não obrou eficientemente a nossa
salvação.
2. Demais. — Nenhum agente material age
eficientemente senão por contacto; assim, o próprio
Cristo curou o leproso tocando-o, para mostrar que a sua carne tinha uma
virtude curativa, como diz Crisóstomo (Teofilacto). Ora, a Paixão de Cristo
não podia estar em contacto com todos os homens. Logo, não podia obrar
eficientemente a salvação de todos.
3. Demais. — Não pode um mesmo agente
obrar o modo de mérito e de eficiência; porque quem merece espera receber o
efeito, de outrem. Ora, a Paixão de Cristo obrou a nossa salvação a modo de
mérito. Logo, não a modo de eficiência.
Mas, em contrário, o Apóstolo diz que a palavra da cruz é a virtude de Deus para os
que se salvam. Ora, a virtude de Deus obra eficientemente a nossa salvação.
Logo, a Paixão de Cristo na cruz obrou eficientemente a nossa salvação.
Há uma dupla espécie de
eficiência: a principal e a instrumental. Ora, o eficiente principal da
salvação humana é Deus. Sendo, porém a humanidade de Cristo o instrumento da
divindade, como se disse, por isso e consequentemente, todas as acções e
paixões de Cristo obram instrumentalmente, em virtude de divindade, para a
salvação humana. E, a esta luz, a Paixão de Cristo causa eficientemente a
salvação humana.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
A paixão de Cristo, referida à carne de Cristo, convinha à enfermidade que
assumiu. Referida, porém à divindade, resulta dela uma virtude infinita, segundo
o Apóstolo: O que parece em Deus uma
fraqueza é mais forte que os homens. Isto é, porque a enfermidade própria
de Cristo, enquanto de Deus, tem uma virtude excedente a toda virtude humana.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A Paixão de
Cristo, embora fosse a do seu corpo, contudo tem uma virtude espiritual
procedente da divindade que lhe estava unida. E desse contacto espiritual lhe
advém a eficácia; isto é, pela fé e pelos sacramentos da fé, segundo o
Apóstolo: Ao qual propôs Deus para ser
vítima de propiciação pela fé no seu sangue.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A Paixão de Cristo
referida à sua divindade, age a modo de eficiência. Referida, porém à vontade
da alma de Cristo, age a modo de mérito, Referida ainda à própria carne de
Cristo age a modo de satisfação, enquanto que por ela somos libertados do reato
da pena; mas a modo de redenção, enquanto por ela somos libertados da servidão
da culpa; e enfim a modo de sacrifício, enquanto fomos por ela reconciliados
com Deus, como a seguir se dirá.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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