202
Aproxima-se da figueira: aproxima-se de ti e
aproxima-se de mim.
Jesus
tem fome e sede de almas.
Do
alto da cruz clamou: sítio!, tenho
sede.
Sede
de nós, do nosso amor, das nossas almas e de todas as almas que lhe devemos
levar pelo caminho da Cruz, que é o caminho da imortalidade e da glória do Céu.
Abeirou-se da figueira, mas não encontrou
senão folhas.
É
lamentável.
Não
acontecerá assim também na nossa vida?
Não
haverá nela, infelizmente, falta de fé e de vibração de humildade, ausência de
sacrifícios e de obras?
Não
será que apresentamos um cristianismo só de fachada e sem frutos?
É
terrível, porque Jesus ordena: Nunca mais
nasça fruto de ti. E, imediatamente, secou a figueira.
Entristece-nos
esta passagem da Sagrada Escritura, ao mesmo tempo que, por outro lado, nos
anima a avivar a fé, a viver conformes à fé, para que Cristo receba sempre
algum lucro da nossa parte.
Não nos enganemos.
Nosso
Senhor não depende nunca das nossas construções humanas. Os projectos mais
ambiciosos são, para Ele, brincadeiras de crianças. Ele quer almas, quer amor.
Quer
que todos venham gozar do seu Reino, por toda a eternidade. Temos de trabalhar
muito na terra e temos de trabalhar bem, porque essa ocupação corrente é a que
devemos santificar.
Mas
nunca nos esqueçamos de a realizar por Deus.
Se
trabalhássemos por nós mesmos, isto é, por orgulho, só conseguiríamos produzir
folhas e nem Deus nem os homens poderiam saborear, numa árvore tão frondosa, a
doçura dos frutos.
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Então, ao olharem para a figueira seca, os
discípulos admiraram-se, dizendo: como secou a figueira imediatamente?
Aqueles
primeiros doze, que tinham presenciado tantos milagres de Cristo, ficam
estupefactos mais uma vez, porque a sua fé ainda não era ardente.
Por
isso o Senhor afirma: Na verdade vos digo
que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito a esta
figueira, mas ainda se disserdes a este monte: sai daí e lança-te ao mar, assim
se fará.
Jesus
Cristo estabelece esta condição: que vivamos da fé, porque depois seremos
capazes de remover montanhas.
E
há tantas coisas a remover... no mundo e, antes de mais, no nosso coração.
Tantos
obstáculos à graça!
Tenhamos,
pois, fé. Fé com obras, fé com sacrifício, fé com humildade.
Na
realidade, a fé converte-nos em criaturas omnipotentes: E tudo o que pedirdes com fé na oração o recebereis.
O homem de fé sabe julgar bem as questões
terrenas, sabe que a vida terrena é, no dizer de Santa Teresa, uma má noite
numa má pousada.
Renova
a sua convicção de que a nossa existência na terra é tempo de trabalho e de
luta, tempo de purificação para saldar a dívida para com a justiça divina,
pelos nossos pecados.
Sabe
também que os bens temporais são meios e usa-os generosamente, heroicamente.
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A fé não serve só para ser pregada, mas
especialmente para ser posta em prática.
Talvez
nos faltem as forças com frequência.
Nesses
momentos - e de novo nos socorremos do Santo Evangelho - comportai-vos como
aquele pai do rapaz lunático.
Deseja
a salvação do filho, espera que Cristo o cure, mas não acaba de acreditar em
tamanha felicidade.
Por
isso Jesus, que sempre pede fé, conhecendo as perplexidades daquela alma, antecipa-se:
se tu podes crer, tudo é possível ao que crê.
Tudo
é possível: omnipotentes!
Mas
com fé.
Aquele
homem sente que a sua fé vacila, teme que essa escassez de confiança impeça que
o seu filho recupere a saúde.
E
chora.
Que
não nos envergonhemos deste pranto: é fruto do amor de Deus, da oração
contrita, da humildade.
E
o pai do menino, banhado em lágrimas, exclamou: eu creio, Senhor, mas ajuda a minha incredulidade .
Ao terminar agora esta nossa meditação,
digamos-lhe com as mesmas palavras: Senhor, eu creio!
Eduquei-me
na tua fé, decidi seguir-te de perto.
Ao
longo da minha vida, implorei insistentemente a tua misericórdia. E, repetidas
vezes também, pareceu-me impossível que pudesses fazer tantas maravilhas no
coração dos teus filhos.
Senhor,
creio!
Mas
ajuda-me, para que eu creia mais e melhor!
Dirigimos igualmente uma súplica a Santa
Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa, Mestra de fé: Bem-aventurada tu que creste,
porque se hão-de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas.
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Há já bastantes anos, com uma convicção que
crescia de dia para dia, escrevi: Espera tudo de Jesus; tu nada tens, nada
vales, nada podes. - Ele agirá, se n'Ele te abandonares.
Passou
o tempo e aquela minha convicção tornou-se ainda mais forte, mais profunda.
Tenho
visto, em muitas vidas, que a esperança em Deus acende maravilhosas fogueiras
de amor, com um fogo que mantém palpitante o coração, sem desânimos, sem
desfalecimentos, embora ao longo do caminho se sofra e, às vezes, se sofra
deveras.
Enquanto lia o texto da Epístola da Missa,
comovi-me e imagino que vos aconteceu o mesmo.
Compreendia
que Deus nos ajudava, com as palavras do Apóstolo, a contemplar a teia divina
das três virtudes teologais, que compõem o fundo sobre o qual se tece a
existência autêntica do homem cristão, da mulher cristã.
Ouvi de novo S. Paulo: Justificados pela fé, tenhamos paz com Deus, por meio de Nosso Senhor
Jesus Cristo, por quem temos acesso pela fé a esta graça, na qual permanecemos
firmes e nos gloriamos na esperança da glória dos filhos de Deus. Mas não nos
gloriamos somente nisto; alegramo-nos também nas tribulações, sabendo que a
tribulação exercita a paciência, a paciência a prova e a prova a esperança;
esperança que não engana, porque a caridade de Deus foi derramada em nossos
corações pelo Espírito Santo.
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Aqui, na presença de Deus, que nos está a
presidir do sacrário - como fortalece esta proximidade real de Jesus! - vamos
meditar hoje esse suave dom de Deus, a esperança, que enche de alegria as
nossas almas, spe gaudentes,
jubilosos, porque - se formos fiéis - nos aguarda o Amor infinito.
Não esqueçamos jamais que para todos - para
cada um de nós, portanto - só há dois modos de estar no mundo: ou se vive vida divina,
lutando para agradar a Deus, ou se vive vida animal, mais ou menos humanamente
ilustrada, quando se prescinde d'Ele.
Nunca
concedi demasiado peso aos santões que fazem alarde de não serem crentes:
quero-lhes realmente muito, como a todos os homens, meus irmãos; admiro a sua
boa vontade, que em determinados aspectos pode mostrar-se heróica, mas tenho
pena deles, porque têm a enorme desgraça de lhes faltar a luz e o calor de Deus
e a inefável alegria da esperança teologal.
Um cristão sincero, coerente com a sua fé,
não actua senão com os olhos em Deus, com visão sobrenatural; trabalha neste
mundo, que ama apaixonadamente, metido nos afãs da terra, com o olhar no Céu.
É
S. Paulo quem o confirma: quæ sursum sunt
quærite; buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de
Deus; saboreai as coisas do Céu, não as da terra.
Porque
estais mortos - para as coisas terrenas, pelo Baptismo - e a vossa vida está
escondida com Cristo em Deus.
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Esperança
terrena e esperança cristã
Com monótona cadência sai da boca de muitos o
ritornello já tão vulgar, de que a esperança é a última coisa que se perde;
como se a esperança fosse um apoio para continuarmos a deambular sem
complicações, sem inquietações de consciência; ou como se fosse um expediente
que permite adiar sine die a oportuna rectificação do procedimento, a luta para
alcançar metas nobres e, sobretudo, o fim supremo de nos unirmos com Deus.
Eu diria que esse é o caminho para confundir
a esperança com a comodidade.
No
fundo, não há ânsias de conseguir um verdadeiro bem, nem espiritual, nem
material legítimo; a mais alta pretensão de alguns reduz-se a evitar o que
poderia alterar a tranquilidade - aparente - de uma existência medíocre.
Com
uma alma tímida, acanhada, preguiçosa, a criatura enche-se de egoísmos subtis e
conforma-se com o facto de os dias, os anos decorrerem sine spe nec metu, sem aspirações que exijam esforço, sem os
perigos da peleja: o que importa é evitar o risco do desaire e das lágrimas.
Que
longe se está de obter uma coisa, se se malogrou o desejo de a possuir, por
temor das exigências que a sua conquista comporta!
Também não falta a atitude superficial dos
que - inclusive com visos de afectada cultura ou de ciência - compõem poesia
fácil com a esperança.
Incapazes
de se enfrentarem sinceramente com a sua intimidade e de se decidirem pelo bem,
limitam a esperança a uma ilusão, a um sonho utópico, ao simples consolo ante
as angústias de uma vida difícil.
A
esperança - falsa esperança! - transforma-se para estes numa frívola veleidade
que a nada conduz.
(cont)
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