Como falar de alegria sem evocar quanto nos afasta
dela, isto é, sem "desmontar" as inúmeras "razões
circunstanciais" que pensamos ter que nos impedem de gozar a alegria
saudável e gratificante que Deus quer que os Seus filhos - que somos todos os
homens - vivam?
Será que o contrário de alegria é o sofrimento?
Não me parece que a pergunta tenha qualquer razão de
ser.
É verdade que quem sofre não pode estar alegre?
Porque não?
O que tem uma coisa a ver com a outra?
Em primeiro lugar o sofrimento é uma condição humana enquanto a alegria é um estado de espírito.
O sofrimento - refiro-me ao sofrimento moral ou psíquico - pode ser uma condicionante da própria vida pessoal porque se se lhe der rédea solta pode "tomar conta" da pessoa, condicionar o seu pensamento, afectar a sua esperança e, até no ponto de vista mais íntimo, alterar profundamente a sua capacidade de reacção perante os factos mais comezinhos da vida corrente.
Acontece quase sempre que, quando isto acontece - isto é - quando não se lhe impõe um controlo, tende a evoluir numa espiral ascendente que acaba por dominar a pessoa.
Não é algo sem importância, bem pelo contrário, a pessoa nesta situação sofre realmente e tanto mais quanto se "deixa ir" ou se "entrega" sem reagir.
Evidentemente que neste caso a alegria não é possível como de resto não são quaisquer outros sentimentos a não ser uma crescente auto-comiseração, ou até vitimização que se traduz num estado de ânimo cada vez mais condicionado e incapacitado de reagir.
Daqui ao isolamento é um pequeno passo em que se chega a um estado moral deplorável em que nada apetece, ninguém interessa, caindo num estado abúlico de "morto vivo".
Normalmente dá-se a esta situação o nome de depressão.
E que pode estar na origem de tal?
Um problema mental?
Uma circunstância traumatizante que não se conseguiu ultrapassar?
Um hábito?
Sim... um hábito porque o estado depressivo tende a repetir-se e cada vez com maior frequência e durante mais tempo.
Voltemos a considerar o tema por onde começámos: a
alegria.
Se entendemos alegria por um sentimento de satisfação provocado por algo que pode ser uma consideração, a constatação de uma realidade, uma conclusão definitiva de um bem a que temos acesso ou nos é próprio, então poderíamos concluir que a " cura " para os estados depressivos reside na alegria.
Mas como fazer? Como dar a alguém a alegria que não tem?
Penso que uma
forma de o conseguir será começar por "mostrar" à pessoa o lado
positivo da sua vida e de quanto a ela respeita.
Evidentemente que ao "aplicar" este método se está de alguma forma a "invadir "a intimidade do outro pelo que só deve ser posto em prática por quem tem uma sólida formação humana no que ela envolve nos aspectos intelectuais e morais.
Não havendo nenhum homem igual a outro, também estas situações não têm um "padrão" que permita desenhar uma mesma "receita" para qualquer situação.
É claro que a
medicina tem possibilidades de prestar auxílio importante, quer com a
psicologia ou a psiquiatria, quer, tanto num caso como noutro, com recurso a
fármacos.
Seja como for, embora prestando um auxílio não descartável, raramente resolve o problema por completo e de forma definitiva.
Penso que a melhor forma e prestar auxílio importante seja a companhia, o convívio.
Será, com
certeza, por vezes muito difícil porque, como já se disse, a pessoa nessas
circunstâncias como que foge ao contacto mesmo com os mais próximos ou íntimos.
Há, então, que
"forçar" esse convívio, "obrigar" ao diálogo,
"puxar" por um assunto.
É fundamental ter paciência, muita paciência e não desistir e, sobretudo, mostrar enfado ou desilusão.
Tendo sempre
consciência que a pessoa não está no "seu estado normal", se encontra
limitada até na capacidade de raciocinar, não esperar por reacções
positivas, aliás, poderá até acontecer que estas sejam bastante negativas e
desencorajadoras.
Mas o que realmente importa é considerar que não se está a " aplicar uma receita" mas a prestar um serviço de autêntica caridade para com o nosso próximo sofredor e necessitado.
Uma obra de misericórdia?
Sem dúvida e de
inestimável valor.
Por isso mesmo, devemos pedir ao Pai da Misericórdia, que nos inspire o que fazer e como fazer.
ama, 2016.03.14
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