Art.
5 — Se Cristo com a sua Paixão nos abriu as portas do céu.
O quinto discute-se assim. — Parece que
Cristo com a sua Paixão não nos abriu as portas do céu.
1. — Pois, diz a Escritura: Para o que semeia justiça há fiel
recompensa. Ora, a recompensa da justiça é a entrada do reino celeste.
Logo, parece que os Santos Patriarcas, que praticaram obras de justiça, teriam
obtido pela fé a entrada no reino celeste, mesmo sem a Paixão de Cristo. Logo,
a Paixão de Cristo não foi a causa de abertura das portas do reino celeste.
2. Demais. — Antes da Paixão de Cristo
Elias foi arrebatado ao céu, como se lê na Escritura. Ora, o efeito não é
anterior à causa. Logo, parece que a abertura das portas do céu não foi efeito
da Paixão de Cristo.
3. Demais. — Como se lê no Evangelho no
baptismo de Cristo abriram-se os céus. Ora, o baptismo foi anterior à Paixão.
Logo, a abertura do céu não foi efeito da Paixão de Cristo.
4. Demais. — A Escritura diz: Aquele que
lhes há-de abrir o caminho irá adiante deles. Ora, parece que abrir o caminho
do céu outra coisa não é senão abrir-lhe as portas. Logo, parece que as portas
do céu nos foram abertas, não pela Paixão, mas pela ascensão de Cristo.
Mas, em contrário, diz o Apóstolo: Temos
confiança de entrar no santuário, isto é, celeste, pelo sangue de Cristo.
Portas fechadas são um
obstáculo a nos impedirem a entrada. Ora, os homens estavam impedidos de entrar
no reino celeste por causa do pecado; pois, como diz a Escritura, haverá um
caminho que se chamará o caminho santo e não passará por ele o impuro. Ora, há
duas espécies de pecado que impedem a entrada no reino celeste. — Um é comum a
roda a natureza humana, e esse é o pecado dos nossos primeiros pais, o qual
fechou ao homem a entrada do reino celeste. Por isso, como lemos na Escritura,
depois do pecado do primeiro homem, pôs Deus um querubim com uma espada de fogo
e versátil para guardar o caminho da árvore da vida. — Outro é o pecado
especial de cada pessoa, cometido por acto próprio de cada um.
Ora, pela Paixão de Cristo fomos libertados,
não só do pecado comum de toda a natureza humana, tanto quanto à culpa como
quanto ao reato da pena, porque Cristo pagou o preço por nós, mas também dos
pecados próprios de cada um de nós, que comungamos com a sua Paixão pela fé,
pela caridade e pelos sacramentos da fé. E assim pela Paixão de Cristo se nos
abriram as portas do reino celeste. E tal é o que diz o Apóstolo: Estando Cristo já presente, pontífice dos
bens vindouros, pelo seu próprio sangue entrou uma só vez no santuário, havendo
achado uma redenção eterna. O mesmo significa a Escritura onde diz que o homicida ali ficará, isto é na cidade em que se tinha refugiado, até à
morte do sumo-sacerdote, que foi sagrado com o óleo santo; e morto este poderia
voltar aquele para a sua casa.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
Os santos Patriarcas, tendo praticado obras justas, mereceram a entrada no
reino do céu pela fé na Paixão de Cristo, segundo o Apóstolo: Os Santos pela fé conquistaram reinos,
obraram acções de justiça; pela qual também cada um se purificava do pecado, o
quanto condizia com a purificação da própria pessoa. Mas a fé ou a justiça de
cada um não bastava a remover o impedimento proveniente do reato de toda a
natureza humana. Mas esse impedimento foi removido pelo preço do sangue de
Cristo. Donde, antes da Paixão de Cristo, ninguém podia entrar no reino
celeste, isto é, alcançando a beatitude eterna, consistente no gozo pleno de
Deus.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Elias foi
arrebatado ao céu aéreo não ao céu empíreo, que é o lugar dos santos. O mesmo
se deu com Enoch; mas foi arrebatado ao paraíso terrestre, onde cremos que vive
junto com Elias até o advento do Anticristo.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como dissemos os
céus abriram-se por ocasião do baptismo de Cristo, não em benefício do próprio
Cristo, a quem sempre o céu estava patente; mas para significar que o céu se
abre aos baptizados, pelo baptismo de Cristo, que tira a sua eficácia da sua Paixão.
RESPOSTA À QUARTA. — Cristo pela sua
Paixão mereceu-nos a entrada no reino celeste e removeu o obstáculo que no-lo
impedia. Mas, pela sua ascensão, como que nos introduzia na posse do reino
celeste. Por isso a Escritura diz que aquele
que lhes há-de abrir o caminho irá adiante deles.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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