Qualquer coisa, escrito,
ideia, acto, afirmação... o que for emanado do ser humano tem, pelo menos, duas
interpretações, duas reacções, dois impactos.
Evidentemente que se conta
com o primeiro, isto é, daquele que pensou, disse, fez ou concluiu.
Depois haverá os outros em
que dificilmente se encontrarão coincidentes resultados.
A razão parece simples: não
há duas pessoas iguais... absolutamente iguais logo, a sua reacção tende a ser
diferente.
Isto que parece óbvio -
tanto que dispensaria mais elucubrações - é maior riqueza ou o bem mais notável
do ser humano o que no fundo o distingue do irracional.
A idiossincrasia de cada ser
está intimamente associada ao progresso da sociedade porque, esta, não é um
"bloco" uniforme e indivisível mas sim um conjunto mais ou menos
equilibrado de várias idiossincrasias que concorrem para um mesmo resultado: a
variedade pluriforme da sociedade humana.
Gregário por natureza o ser
humano não se confunde nem se deixa absorver pelo conjunto antes concorre e
contribui com o que lhe é próprio para o que é comum.
Tantas vezes se tenta algo
diferente do habitual daquilo que ao longo dos dias vamos construindo, às vezes
laboriosamente - forçado ou não - e não conseguimos encontrar o "fio
condutor" que nos leve onde não programamos ir mas que ambicionados
chegar.
E quem tem por hábito, sina
ou feitio escrever sente de forma muito radical por vezes um como que bloqueio
inexplicável não conseguindo "arrancar" de dentro de si mesmo o que
sente necessidade de expor mas, como não sabe bem o que é, está-lhe ausente e
foge do seu controlo.
Escrever por escrever pode
se bom e até saudável. Sem esforço, deixando as palavras fluírem livremente
acaba por se envolver num processo quase automático de escalpelização íntima
como que uma catarse que tem de incluir um esforço muito concreto de não se
deixar cair na auto-comiseração, no "esmagamento" do "eu" -
sempre uma forma fácil de dar guarida ao amor-próprio e orgulho - e tentar
manter o pensamento lógico e saudável.
Escrever sobre si mesmo não
é nem fácil nem difícil se se segue uma regra simples: escrever para si mesmo
sem a preocupação ou desejo que outros venham a ler o escrito.
Aliás, penso que só deste
modo a escrita tem autenticidade concreta porque se por detrás dela se encontra
algum - por ténue ou indefinido que seja - desejo ou intento de ser lido, é
praticamente impossível fugir ao uso da máscara ou disfarce da realidade.
Sem querer, talvez, é-se
levado pelo desejo de parecer inteligente, original, interessante mas, depois,
ao rever o escrito, fica-se com um sentimento - bem amargo por vezes - de
inutilidade.
O "truque" está
numa fórmula muito simples: escrevi o que me apeteceu!
Está conclusão que não se
pretende transformar em corolário, resolve muitos dilemas futuros, como, por exemplo,
concluir: já escrevi isto! Não vale a pena repetir!
E, daqui, pode surgir uma
nova ideia que leve a uma elaboração diferente de um tema já rebuscado.
Parece-me aceitável esta
conclusão.
(ama, Reflexão, Cascais, 2015.09.15
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