Art.
4 — Se foi conveniente que Cristo sofresse por parte dos gentios.
O
quarto discute-se assim. — Parece que não foi conveniente que Cristo sofresse por
parte dos gentios.
1. — Pois, como pela morte de Cristo os
homens deviam ser liberados do pecado, parecia conveniente que pouquíssimos
tivessem cometido o pecado da morte de Cristo. Ora, pecaram, entregando-o à
morte, os Judeus, das pessoas dos quais diz o Evangelho: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo. Logo, parecia conveniente que
no pecado da morte de Cristo não se tivessem implicado os gentios.
2. Demais. — A verdade deve corresponder
à realidade. Ora, os sacrifícios figurados da lei antiga os gentios não os
ofereciam, mas os judeus. Logo, nem a Paixão de Cristo, que foi um verdadeiro
sacrifício, devia ter sido infligida por mãos dos gentios.
3. Demais. — Narra o Evangelho que os
judeus queriam matar a Cristo, não só porque violava o sábado, mas ainda por
dizer que seu Pai era Deus, equiparando-se a este. Ora, isso parece que só
contrariava a lei dos judeus: por isso eles próprios diziam: Ele deve morrer segundo a lei, pois se fez
Filho de Deus. Parecia, logo, conveniente que Cristo sofresse, não da parte
dos gentios, mas dos judeus; e que era falso o que diziam - A nós não nos é permitido matar ninguém,
porque muitos pecados eram pela lei punidos de morte, como está claro na
Escritura.
Mas, em contrário, o próprio Senhor
disse: Entregá-lo-ão aos gentios para ser
escarnecido, açoitado e crucificado.
No modo mesmo da paixão de
Cristo lhe estava prefigurado o efeito. Assim, o primeiro efeito da morte de
Cristo aproveitou aos judeus, muitos dos quais foram baptizados na ocasião
dessa morte, como se lê na Escritura. Depois, mediante a pregação dos judeus, o
efeito da paixão de Cristo sentiram-no os gentios. Donde, foi conveniente que
Cristo começasse a sofrer da parte dos judeus e em seguida, entregue por estes,
a sua Paixão se consumasse pelas mãos dos gentios.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
Cristo, para mostrar a abundância da sua caridade, que o levou a sofrer, pediu
do alto da cruz perdão pelos seus perseguidores. Por isso, a fim de os frutos
dessa petição chegarem aos judeus e aos gentios, quis Cristo sofrer da parte de
uns, como de outros.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A Paixão de Cristo
foi à oblacção de um sacrifício, pois Cristo sofreu a morte movido pela
caridade, por vontade própria. Mas o sofrimento que lhe infligiram os perseguidores
não foi sacrifício, mas pecado gravíssimo.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como pondera
Agostinho quando os judeus disseram - A
nós não nos e permitido matar ninguém — entendiam
significar que não lhes era lícito matar ninguém por causa da santidade do dia
festivo, que já começavam a celebrar. — Ou
isso diziam, como ensina Crisóstomo, porque
queriam matar a Jesus, não como transgressor da lei, mas como inimigo público,
por se ter feito rei — do que não lhes competia julgar. — Ou porque não lhes era lícito crucificá-la,
como desejavam, mas sim lapidar — o que fizeram com Estevam. — Ou, melhor é
dizer, que pelos Romanos, a quem estavam sujeitos, era-lhes denegado o poder de
matar.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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