IV.
O CELIBATO NA DISCIPLINA DAS IGREJAS ORIENTAIS
O
testemunho de Epifânio de Salamina
Em sua defesa da origem apostólica do
celibato, C. Bickell recorreu principalmente a testemunhos orientais. Vamos
agora olhar para a história celibatária no Oriente, apenas em linhas gerais, já
que não podemos analisar todos os testemunhos disponíveis. Mas de tudo o que se
disse até agora (e do que acrescentaremos adiante) podemos ter um panorama
aceitável da verdadeira situação naquela Igreja.
Uma importante testemunha é o bispo de
Salamina (posteriormente denominada Constância) na ilha de Chipre, Epifânio
(315 – 403). Ele é considerado um bom conhecedor e defensor da ortodoxia e da
Tradição da Igreja, uma vez que ele viveu quase todo o século quarto. Embora em
alguns pontos, especialmente na luta contra as idéias, como na questão de
Orígenes, demonstrou um menor zelo, seus testemunhos sobre os fatos e as condições
de seu tempo, especialmente sobre questões disciplinares da Igreja, não pode
ser facilmente posto em dúvida.
Sobre a questão do celibato, ou
continência dos ministros sagrados, faz um típico relato dos acontecimentos. Em
sua obra principal, chamado Pananon, escrita na segunda metade do século IV,
afirma que Deus mostrou o carisma do sacerdócio novo por meio de homens que
tinham renunciado ao uso do único casamento antes da Ordenação, ou que sempre
viveram virginalmente. Isso, diz ele, é a norma estabelecida pelos Apóstolos
com sabedoria e santidade.
No entanto mais importante ainda é a
constatação que faz no “Expositio fidei” acrescentada à obra principal. A
Igreja, diz ele, apenas admite ao ministério episcopal e sacerdotal (também
diaconal) aos que renunciam, através da continência, à sua própria esposa ou
ficam viúvos. Assim, continua, se vive onde se mantém fielmente as disposições
da Igreja. Pode-se constatar que, em diferentes lugares, sacerdotes, diáconos e
subdiáconos continuam gerando filhos. Mas isso não está em conformidade com a
norma vigente, mas é uma consequência da debilidade humana, que sempre tende ao
que é mais fácil. E depois, segue explicando, os sacerdotes são escolhidos
especialmente entre os que são celibatários ou monges. Se entre eles não se
encontram suficientes candidatos, são eleitos entre os casados que tenham
renunciado ao uso do casamento, ou entre aqueles que, após um único matrimónio,
ficaram viúvos.
Estas afirmações de um homem conhecedor
de muitas línguas e que viajou muito para o Oriente – dividido já por muitas
doutrinas – no primeiro século de liberdade da Igreja são um bom testemunho
tanto da norma como da situação real da questão do celibato na Igreja Oriental
dos primeiros séculos.
(Revisão da versão portuguesa por ama)
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