Este
demónio do apostolado é muito activo. O apostolado da Igreja é bastante
organizado e hierarquizado, como é normal que aconteça em qualquer instituição
humana que tem uma missão a cumprir. Assim, na Igreja, há cargos e tarefas de
maior autoridade ou de maior poder ou prestígio que outras. Também existem
títulos e honras externas: a Igreja mantém isso com sábio realismo e
consideração com a condição humana. A tentação está em ir identificando o
apostolado com uma carreira eclesiástica e a sua importância e eficácia
profunda com o cargo que se ocupa.
O demónio
das gratificações terrenas pode tentar de muitas maneiras. A maneira mais rude
é quando se une ao apostolado a ganância pelo dinheiro, fazendo dele, não tanto
no nível das convicções como na prática, uma profissão lucrativa, seguramente
mais generosa e idealista que outras. Algo muito deferente é ganhar a vida com
o trabalho apostólico, sem ânsias de lucro, sobretudo quando se está dedicado a
ele em tempo integral. Quando esta tentação se agrava, chega-se a fazer do
apostolado a aparência de um negócio que, embora não seja “negócio”
estritamente falando, é suficiente para lhe tirar a credibilidade. Esta
tendência pode levar o apóstolo a interessar-se exclusivamente pelas tarefas
apostólicas remuneradas, perdendo, com isso, o sentido da gratuidade no serviço
e na evangelização.
Uma
outra tentação mais subtil deste demónio, é esperar reconhecimento e até
elogios das pessoas e da hierarquia da Igreja. Quem cai nesta tentação, passa a
necessitar deste tipo de gratificação para manter seu entusiasmo. Pareceria que
no apostolado não se devesse buscar agradar a Deus, mas recompensas humanas.
Quando não há elogios e reconhecimentos explícitos, interpreta-se isso como uma
ingratidão e uma falta de valorização, provocando uma baixa na própria
motivação e entrega. De modo semelhante, quando há críticas por parte das
pessoas com quem trabalha ou da hierarquia da Igreja, o apóstolo sente-se rejeitado
e perseguido. Mais uma gota de água, e o apóstolo deixará o seu trabalho.
Entretanto,
talvez o demónio mais subtil se dê na aspiração de postos e cargos; na
necessidade de que toda a mudança de apostolado signifique igualmente uma
promoção. Há uma expectativa latente por “ascender”. O apóstolo marcado por
esta tentação, se não ascende em tempo, fica ressentido e, às vezes, se
“desestrutura”. Trata-se de um demónio subtil, que costuma fantasiar-se de
“anjo da luz” [1]: dissimula a ambição de promoções e postos com a
desculpa do apostolado mais eficaz, de serviço à Igreja, etc… Na prática, faz-se
da “carreira” um factor de apostolado, e da ascensão um referencial constante,
em geral não totalmente consciente. O resultado desta tentação é a imperfeição
das motivações: interessa-lhe não só servir a Igreja gratuitamente e seguir a
Cristo pobre, mas ficar bem com todos e “ganhar pontos”. Esta tentação produz
também uma falta de liberdade no apostolado e uma preocupação pela própria
imagem. Evita-se toda a discordância ou oposição legitima com a autoridade, que
em certos momentos pode ser um dever no apostolado, não tanto por lealdade, mas
pelo interesse de mostrar-se agradável e dialogante.
Fonte:
presbíteros
(revisão
da versão portuguesa por ama)
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