Em seguida devemos tratar dos milagres
feitos por Cristo. Primeiro em geral. Segundo, em especial, de cada género de
milagres. Terceiro, em particular, da sua transfiguração.
Na primeira questão discutem-se quatro
artigos:
Art. 1 — Se Cristo devia fazer
milagres.
Art. 2 — Se Cristo fez milagres por
poder divino.
Art. 3 — Se Cristo começou a fazer
milagres por ocasião das bodas de Caná, mudando água em vinho.
Art. 4 — Se os milagres que Cristo fez
foram suficientes a lhe manifestar a divindade.
Art.
1 — Se Cristo devia fazer milagres.
O primeiro discute-se assim. — Parece que
Cristo não devia fazer milagres.
1. — Pois, as obras de Cristo deviam
concordar com as suas palavras. Ora, ele próprio disse: Esta geração má e adúltera pede um prodígio; mas não lhe será dado
outro prodígio senão o prodígio do profeta Jonas. Logo, não devia fazer
milagres.
2. Demais. — Assim como Cristo, no seu
segundo advento, há-de vir com grande
poder e majestade, como diz o Evangelho; assim no primeiro se manifestou
como fraco, segundo a Escritura: Varão de
dores e experimentado nos trabalhos. Ora, fazer milagres é antes próprio do
poder que da fraqueza. Logo, não foi conveniente que no seu primeiro advento
fizesse milagres.
3. Demais. — Cristo veio salvar os
homens pela fé, segundo o Apóstolo: Pondo
os olhos no autor e consumador da fé, Jesus. Ora, os milagres diminuem o
mérito da fé, donde o Senhor dizer: Vós
se não vedes milagres e prodígios não credes. Logo, parece que Cristo não
devia fazer milagres.
Mas, em contrário, o Evangelho diz,
das pessoas dos adversários de Deus: que
fazemos nós? Que este homem faz muitos milagres.
Deus permite ao homem fazer
milagres por duas razões. - Primeiro e principalmente para confirmar a verdade
que se ensina. Pois, como as verdades da fé excedem a razão, não podem ser
provadas por meio de razões humanas, mas é preciso que tirem a sua prova do
poder divino. E assim, quando alguém faz obras, que só Deus pode fazer, devemos
crer que tais obras têm em Deus a sua causa; do mesmo modo que quando alguém
expede cartas assinadas com o selo do rei, devemos crer que da vontade do rei
procede o que elas contêm - Segundo, para mostrar a presença de Deus no homem,
pela graça do Espírito Santo; de modo que creiamos que Deus habita pela graça
em quem faz as obras de Deus. Donde o dizer o Apóstolo: Aquele que vos dá o Espírito Santo obra milagres no meio de vós.
Ora, devia tornar-se manifesto aos homens, que Deus habitava em Cristo pela
graça, não de adopção, mas de união; e que a sua doutrina sobrenatural procedia
de Deus. Por isso foi convenientíssimo que fizesse milagres. Donde o Evangelho
dizer: Quando não quiserdes crer em mim,
crede as minhas obras. E noutro lugar: As
obras que meu Pai me deu que cumprisse, essas mesmas são as que dão testemunhos
de mim.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— O dito do Evangelho — Não lhe será dado
outro prodígio senão o prodígio do profeta Jonas — significa, segundo
Crisóstomo, que então não receberam o
prodígio que pediram, isto é, do céu; e não, que não lhes deu nenhum prodígio.
— Ou porque fazia prodígios, não por
causa daqueles que sabia terem coração de pedra, mas para que purificasse os
outros. Por isso, esses milagres eram feitos, não para eles, mas para os
outros.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora Cristo
viesse na fraqueza da carne que se manifesta pelo sofrimento, veio, contudo com
o poder de Deus, que devia manifestar-se pelos milagres.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Os milagres
diminuem o mérito da fé na medida em que manifestam a dureza daqueles que não
querem crer no que a Escritura divina ensina, senão por meio de milagres. E,
contudo melhor lhes é que, por meio de milagres, se convertam à fé, do que
permanecerem totalmente na infidelidade. Mas, o Apóstolo diz que os milagres foram feitos para os infiéis.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.