Art.
2 — Se Cristo devia pregar aos judeus sem os chocar.
O segundo discute-se assim. — Parece que
Cristo devia pregar aos judeus sem os chocar.
1. — Pois, como diz Agostinho, Jesus
Cristo, homem e Filho de Deus, deu-se-nos como exemplo de vida. Ora, devemos
evitar não só o escândalo dos fiéis, mas também o dos infiéis, conforme o
Apóstolo: Portai-vos sem dar escândalo,
nem aos Judeus nem aos gentios. Logo, parece que também Cristo devia
ensinar os judeus sem os chocar.
2. Demais. — Ninguém que proceda com
sabedoria deve agir de modo a contrariar o efeito da sua obra. Ora, Cristo
contrariando os judeus com a sua doutrina encontrava-lhe os efeitos. Assim,
quando repreendeu os escribas e os fariseus, começaram a apertá-lo com fortes
instâncias e a quererem-no fazer calar com a multidão das questões a que o
obrigavam a responder, armando-lhe desta maneira laços e buscando ocasião de
lhe apanharem da boca alguma palavra para o acusarem. Logo, parece que não
devia chocá-los com a sua doutrina.
3. Demais. — O Apóstolo diz: Não repreendas com aspereza ao velho, mas
adverte-o como o pai. Ora, os sacerdotes e os príncipes dos judeus eram os
anciãos do povo. Logo, parece que não devia argui-los com duras increpações.
Mas, em contrário, a Escritura
profetizou que Cristo seria pedra de tropeço e pedra de escândalo às duas casas
de Israel.
O bem comum é preferível ao
de qualquer particular. Donde, o pregador ou o doutor, para prover ao bem
comum, não deve temer atacar aqueles que perversamente se opõem a esse bem.
Ora, os escribas, os fariseus e os príncipes dos judeus eram, com a sua
malicia, um grande obstáculo ao bem do povo, quer por se oporem à doutrina de
Cristo, única donde podia provir a salvação; quer também porque corrompiam com
os seus maus costumes a vida do povo. Por isso o Senhor ensinava publicamente a
verdade, que eles odiavam, e lhes increpava os vícios, embora assim os
chocasse. Donde, como se lê no Evangelho, aos discípulos que diziam ao Senhor —
Sabes que os fariseus, depois que ouviram
o que disseste, ficaram escandalizados? Respondeu: Deixai-os, cegos são e condutores de cegos; e se um cego guia a outro
cego, ambos vêm a cair no barranco.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Devemos proceder sem chocar ninguém, não dando a quem quer que seja ocasião
de queda por algum dito ou acto nosso menos certo. Mas se a verdade for ocasião de escândalo, devemos antes arrastar o
escândalo que abandonar a verdade, como diz Gregório.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo, arguindo
publicamente os escribas e fariseus, longe de impedir, promovia o efeito da sua
doutrina. Pois, como o povo lhes conhecia os vícios, as palavras dos escribas e
dos fariseus, que sempre se opunham à doutrina de Cristo, tinham menos poder
para o desviarem dele.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Essas palavras
do Apóstolo devem ser entendidas dos anciãos que o eram, não só pela idade ou
pela autoridade, mas também pela honorabilidade, conforme a Escritura — Junta-me setenta homens dos anciãos de
Israel que tu souberes serem os mais experimentados do povo, Mas, se a
autoridade da velhice a transformarem em instrumento da malícia, pecando
publicamente, devem ser manifesta e acremente increpados, como o fez Daniel
quando objurgou: Homem inveterado no mal,
etc.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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