Tempo de Advento
Evangelho:
Mt 11, 28-30
28 «Vinde a Mim todos os que estais fatigados e
oprimidos, e Eu vos aliviarei. 29 Tomai sobre vós o Meu jugo, e
aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para
as vossas almas. 30 Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo leve».
Comentário:
Este texto de São Mateus bem poderia chamar-se: “a prudência de Deus!”
Com efeito o critério que termos de usar para com os outros sobretudo em
tarefas de apostolado mas também quando o assunto da conversa verse de alguma
forma questões de fé ou religião terá de ser enformado pela prudência.
Não se pode nem deve falar das mesmas coisas do mesmo modo a todos. Cada um tem
a sua própria cultura e entendimento.
Por isso mesmo e como a maioria de nós
não somos nem doutores nem mestres é aconselhável recorrer à direcção
espiritual para nos conduzir com segurança.
(ama, comentário sobre Mt 11 25-30
2015.04.29)
Leitura espiritual
Catequeses sobre a família 8
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Depois de ter passado em revista as
diversas figuras da vida familiar —mãe, pai, filhos, irmãos e avós — gostaria
de concluir esta primeira série de catequeses sobre a família, falando das
crianças.
Fá-lo-ei em dois momentos: hoje,
meditarei sobre a grande dádiva que elas são para a humanidade — é verdade, são
um dom grandioso para a humanidade, mas são também as grandes excluídas, porque
nem sequer as deixam nascer — e proximamente falarei sobre algumas feridas que
infelizmente prejudicam a infância.
Vêm-me ao pensamento as numerosas
crianças que encontrei durante a minha última viagem à Ásia (N.E.: Sri Lanka e
Filipinas): cheias de vida e entusiasmo e, por outro lado, vejo que no mundo
muitas vivem em condições indignas...
Com efeito, pode-se julgar a sociedade
pelo modo como as crianças são tratadas, e não só moral mas também
sociologicamente, se é uma sociedade livre ou escrava de interesses
internacionais.
Em primeiro lugar, as crianças
recordam-nos que todos, nos primeiros anos de vida, somos totalmente
dependentes dos cuidados e da benevolência dos outros.
E o Filho de Deus não evitou esta
passagem.
É o mistério que contemplamos todos os
anos, no Natal.
O Presépio é o ícone que nos comunica
tal realidade do modo mais simples e directo.
Mas é curioso: Deus não tem
dificuldade de se fazer entender pelas crianças, e as crianças não têm
problemas em compreender Deus. Não é por acaso que no Evangelho Jesus profere
palavras muito bonitas e fortes sobre os «pequeninos».
Este termo, «pequeninos», indica todas as pessoas que dependem da ajuda dos
outros e, de modo especial, as crianças.
Por exemplo, Jesus diz:
«Bendigo-te,
ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e
entendidos, revelando-as aos pequeninos» [i]. E acrescenta:
«Guardai-vos
de menosprezar um só destes pequeninos, porque Eu vos digo que os seus anjos no
céu contemplam sem cessar a face do meu Pai que está nos céus» [ii].
Assim, as crianças são em si uma
riqueza para a humanidade e também para a Igreja, porque nos chamam
constantemente à condição necessária para entrar no Reino de Deus: a de não nos
considerarmos auto-suficientes, mas necessitados de ajuda, de amor, de perdão.
E todos nós precisamos de ajuda, de
amor, de perdão!
As crianças recordam-nos mais uma
bonita realidade; recordam-nos que somos sempre filhos: até quando nos tornamos
adultos, ou mesmo quando somos pais ou desempenhamos funções de responsabilidade,
por detrás de tudo isto permanece a identidade de filhos.
Todos nós somos filhos.
E isto recorda-nos sempre que a vida
não no-la damos sozinhos, mas recebemo-la.
O grande dom da vida é o primeiro
presente que recebemos.
Às vezes corremos o risco de viver
esquecidos disto, como se nós fôssemos os senhores da nossa existência mas, ao
contrário, somos radicalmente dependentes.
Na realidade, é motivo de profunda
alegria sentir que em todas as fases da vida, em cada situação e condição
social, somos e permanecemos filhos.
Esta é a mensagem principal que as
crianças nos transmitem com a sua própria presença, só com a sua presença já
nos recordam que cada um e todos somos filhos.
Mas há muitos dons e riquezas que as
crianças oferecem à humanidade.
Recordo apenas alguns deles.
Dão-lhe o seu modo de ver a realidade,
com um olhar confiante e puro.
A criança tem uma confiança espontânea
no seu pai e na sua mãe; uma confiança espontânea em Deus, em Jesus, em Nossa
Senhora. Ao mesmo tempo, o seu olhar interior é puro, ainda não poluído pela
malícia, pelas ambiguidades, pelas «incrustações» da vida que endurecem o
coração.
Sabemos que até as crianças têm em si
o pecado original, com os seus egoísmos, mas conservam uma pureza e uma
simplicidade interior.
E as crianças não são diplomáticas:
dizem o que sentem, o que vêem, directamente.
E muitas vezes põem os pais em
dificuldade, dizendo diante de outras pessoas: «Não gosto disto, isto é feio!».
Mas as crianças dizem o que vêem, não
são pessoas ambíguas, ainda não aprenderam a ciência da duplicidade que nós
adultos, infelizmente, aprendemos.
Além disso, as crianças — na sua
simplicidade interior — têm em si a capacidade de receber e dar ternura.
Ternura significa ter um coração «de
carne» e não «de pedra», como diz a Bíblia [iii].
A ternura é também poesia: é «sentir»
as situações e os eventos, sem os tratar como meros objectos, só para os usar,
porque servem...
As crianças têm a capacidade de sorrir
e de chorar.
Algumas, quando pego nelas ao colo
para as abraçar, sorriem; outras, quando me vêem vestido de branco, pensam que
sou o médico que vim para lhes dar a vacina, e choram... mas espontaneamente!
As crianças são assim: sorriem e
choram, duas situações que em nós, adultos, com frequência se bloqueiam»; já
não somos capazes...
Muitas vezes o nosso sorriso torna-se
de papelão, sem vida, um sorriso que não é vivaz, um sorriso artificial, de
palhaço.
As crianças sorriem e choram
espontaneamente.
Depende sempre do coração, e muitas
vezes é o nosso coração que se bloqueia e perde a capacidade de sorrir e de
chorar.
E então, as crianças podem ensinar-nos
novamente a sorrir e a chorar.
Mas nós devemos perguntar: sorrio
espontaneamente, com vivacidade, com amor, ou o meu sorriso é artificial? Ainda
choro, ou perdi a capacidade de chorar?
Duas perguntas muito humanas, que as
crianças nos ensinam.
Por todos estes motivos, Jesus convida
os seus discípulos a «tornar-se como as
crianças», pois é «a quantos são como
elas que pertence o Reino de Deus» [iv].
Caros irmãos e irmãs, as crianças
trazem vida, alegria, esperança e também problemas.
Mas a vida é assim!
Sem dúvida, trazem inclusive
preocupações e por vezes muitas problemáticas; mas é melhor uma sociedade com
estas preocupações e estes problemas, do que uma sociedade triste e cinzenta,
porque permaneceu sem filhos!
Quando vemos que o nível demográfico
de uma sociedade só alcança um por cento, podemos dizer que esta sociedade é
triste e cinzenta, pois permanecem sem crianças!
papa francisco, Audiência Geral 18 de Março de 2015
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