Tempo de Advento
Evangelho:
Lc 1, 39-45
39 Naqueles dias, levantando-se Maria,
foi com pressa às montanhas, a uma cidade de Judá. 40 Entrou em casa
de Zacarias e saudou Isabel. 41 Aconteceu que, logo que Isabel ouviu
a saudação de Maria, o menino saltou-lhe no ventre, e Isabel ficou cheia do
Espírito Santo; 42 e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as
mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre. 43 Donde a mim esta
dita, que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44 Porque, logo que
a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, o menino saltou de alegria no
meu ventre. 45 Bem-aventurada a que acreditou, porque se hão-de cumprir
as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor».
Comentário:
A presença de Jesus
Cristo inspira sempre alegria naqueles que O reconhecem, porque, a alegria, é
fruto da paz e Cristo é o Príncipe da Paz.
Estes tempos que
antecedem o Seu Nascimento são, normalmente, tempos de alegria em que os
homens, mesmo os mais “empedernidos” sentem alguma ternura no coração, como que
um “amolecimento” na sua virulência ou má-disposição. Há, sem dúvida alguma,
uma atitude generalizada de simpatia de uns para com os outros.
Tudo isto é fruto
do Nascimento que se vai celebrar no dia vinte e cinco.
Se o nascimento de
uma criança é sempre motivo de festa e alegria quanto mais o será o do próprio
Salvador e Redentor da humanidade?
(ama,
comentário sobre, Lc 1, 39-45, 2012.12.21)
Leitura espiritual
Eucaristia
A
Presença Real de Cristo na Eucaristia - Parte I
…/ 1
Os "primeiros
cristãos", os "reformadores protestantes" e os "modernos
evangélicos" diante das palavras de Jesus sobre a Eucaristia...
- "O Corpo e o Sangue
do Senhor deveriam experimentar um contínuo aumento de massa à medida que, por
tantos séculos, todos os dias, se tem 'transubstanciado' pão e vinho" [i].
- "Quanto ao facto de
(o Corpo de Cristo) estar num lugar (ou vários ao mesmo tempo, nas hóstias
consagradas), já vos disse antes e vos intimo: não quero nada de
matemáticas!" [ii].
INTRODUÇÃO [iii]
O presente trabalho tem
por finalidade aproximar o leitor de fala portuguesa dos textos patrísticos
mais importantes, bem como dos textos de outros escritores eclesiásticos
antigos, sobre o modo da presença de Jesus Cristo na Eucaristia (real,
simbólico, virtual, dinâmico etc.). Foram acrescentados também os textos de
alguns "reformadores" do século XVI.
Os textos de alguns
"modernos evangélicos" são aqui expostos para compará-los com o
pensamento da Igreja do primeiro milênio e com o pensamento dos
"reformadores" protestantes.
O que motivou este
trabalho foi o surgimento na Internet de artigos que não apenas negam a
realidade da presença de Jesus Cristo na Eucaristia, como também se atrevem a ironizá-la.
Neste artigo esses autores
- e também os nossos leitores - descobrirão se as suas palavras e doutrinas se
assemelham àquelas dos antigos cristãos e até mesmo dos hereges de todos os
tempos.
É importante perceber nitidamente
que a Igreja (Católica) não nasceu ontem; esquecer a História da Igreja é
negar, na prática, a acção do Espírito Santo nestes últimos 2000 anos.
Com efeito, visto que
estes "cristãos evangélicos" se aproximam das Escrituras "sem a
mediação de tradições humanas" - segundo nos afirmam com notável
insistência - o resultado inevitável é que cada geração de
"evangélicos" deve recomeçar sua interpretação das Escrituras, como
se eles fossem os primeiros a descobrir as dificuldades apresentadas pela
Revelação e o texto bíblico, ou como se fossem os únicos capazes de interpretar
as Escrituras "mediante uma exegese adequada".
Deste modo, obtém-se uma
situação que, em qualquer outra área do saber humano, se tornaria a maior das
negligências, isto é: os problemas, questões e soluções que foram feitos e
fixados sobre o Evangelho no decorrer dos séculos tornam a ser tratados como se
nunca ninguém os tivessem considerado antes[iv].
Sobre a doutrina
eucarística, os exemplos são numerosos.
O discurso de Jesus em
João 6, as palavras de instituição nos Sinópticos e nos testemunhos de Paulo,
cuja misteriosa realidade impactou a Igreja de Deus desde sempre e provocou
tanta aversão entre os inimigos da Igreja, são agora tratados pelos modernos
opositores do mistério eucarístico como nunca ninguém tivesse lido as
Escrituras antes deles.
E querem desde logo que a
Igreja, ou pelo menos os católicos menos instruídos, aceitem essas novas
interpretações, que depois certamente terão que abandonar para aceitar as
próximas novidades interpretativas do "evangélico" seguinte que
decida estudar os textos bíblicos como se fosse o primeiro a concluir e se
convencer de que a sua interpretação é a autêntica "exegese adequada"[v].
Diante desta realidade,
pareceu-me oportuno apresentar ao leitor o que outras pessoas pensaram e
ensinaram acerca da Eucaristia, pessoas estas que conheciam as Escrituras muito
melhor que qualquer um destes "evangélicos", e que foram tidos em
vida - e também depois de falecidos - como autênticos discípulos de Cristo,
estando muito mais próximos da Igreja Apostólica e possuindo o Espírito Santo
tanto ou até mais que qualquer um dos que hoje se apresentam quase que como Sua
atual personificação.
Citarei em primeiro lugar
algumas expressões que o leitor pode encontrar nesses sites "evangélicos"
e, a seguir, proporei os textos patrísticos e dos "reformadores" do
século XVI: a contraposição de textos falará por si mesma.
Apresentarei também os
textos patrísticos que são extraídos desses Sites "evangélicos" como
"simbólicos", por serem lidos fora do contexto e sem o conhecimento
das circunstâncias.
OS "CRISTÃOS
EVANGÉLICOS"
Usarei textos do Site
"evangélico" Conoceréis la Verdade, pertencente à denominação cristã
evangélica batista.
Há na Internet (...)
outros artigos anti-eucarísticos, mas este Site batista apresenta as objeções
mais comuns neste sentido.
Aí é possível encontrar as
seguintes doutrinas sobre a Eucaristia:
- "O Cristianismo
evangélico afirma que (a Eucaristia) é apenas uma comemoração do momento em que
Jesus representa o sentido de Seu sacrifício expiatório aos Seus discípulos.
Por consequência, por ser
uma 'recordação', o resultado é que o pão continua sendo pão e o vinho continua
sendo vinho"[vi].
- "E o comer Seu
corpo físico seria canibalismo, um ato que Ele não aprovaria e muito menos
recomendaria"[vii].
Comentando as palavras de
Jesus na Última Ceia, diz também:
- "Ninguém poderia
ter interpretado literalmente essa declaração, pois Ele estava ali sentado, em
seu corpo físico, e sujeitando o pão em suas mãos. É óbvio que o pão era
simbólico".
E ainda:
- "Podemos estar
seguros de que nenhum dos discípulos de Cristo imaginou que o pão por Ele
sustentado era Seu corpo literal. Que isto fosse o Seu corpo literal e, ao
mesmo tempo, Cristo estar ali em seu corpo literal era impossível.
Tal fantasia não ingressou
na mente dos presentes e não foi inventada a não ser muito tempo depois.
Certamente as palavras de
Cristo não comunicaram tal coisa, nem temos qualquer razão para crer que os
discípulos derivaram delas semelhante significado.
Foi o Papa Pio III quem
fez do 'sacrifício' da Missa um dogma oficial em 1215"[viii].
Se lê também nesse Site
expressões ofensivas e descaradas, como uma que afirma que a Eucaristia, como
presença real de Jesus Cristo, seria parte de um "truque" para manter
os católicos na Igreja, visto que fora da Igreja - conforme ensina a doutrina
católica - não há celebração eucarística válida e, portanto, não há jeito de se
receber o Corpo salvífico do Senhor a não ser participando das celebrações
católicas: "O truque está aí", conclui o apologista baptista.
Assim, ou seja, pela
doutrina eucarística, "o Catolicismo está separado, por um abismo
intransponível, de todas as outras religiões e, especialmente, do Cristianismo
evangélico".
Em um artigo sobre a Ceia
do Senhor assinado por Guillermo Hernández Agüero, publicado no Site
"Conoceréis la Verdad", faz-se uma fugaz referência ao que
"alguns Padres patrísticos" ensinam acerca do pão eucarístico.
Não me causa espanto a
magra apresentação "patrística" que ali se faz: uma das notas
características do evangelismo fundamentalista é precisamente a atitude
sectária de rejeitar na prática - e frequentemente também na teoria - a
experiência e o pensamento dos cristãos, mártires e santos, pastores e simples
fiéis que viveram antes de nós, sem excluir aquelas que são testemunhas
valiosas da Igreja Apostólica e Pós-Apostólica.
Digo "magra
apresentação patrística" porque esse artigo traz só 2 (duas) citações dos
"Padres patrísticos" para ilustrar aos (desprevenidos) leitores do
Site baptista:
- "Podemos nos
aprofundar mais nos Padres, mas nosso tema neste caso é sobre a Santa Ceia [ix].
No entanto, há alguns
Padres que podem nos dizer algo sobre o nosso tema [x]:
'Cristo, tendo tomado o pão e o tendo distribuído aos seus discípulos, o tornou
seu corpo, dizendo: «Este é meu corpo», isto é, «a figura do meu corpo»' [xi].
Tertuliano dá-nos a
entender que não ocorre uma transubstanciação com o pão; ao contrário, ensina-nos
que isso é símbolo.
'O pão, depois da
consagração, é digno de ser chamado «Corpo do Senhor», ainda que a natureza de
pão permaneça nele' [xii],
[xiii].
O interessante disto tudo,
é que nem nos próprios Padres existe uma clareza sobre a Santa Ceia e menos
ainda sobre a transubstanciação".
Estas duas citações de
dois Padres, é todo o material patrístico que pode ser encontrado nos artigos
"eucarísticos" do Site "Conoceréis la Verdad".
O leitor entenderá o
porquê quando terminar de ler a presente (série de) artigo(s).
Hernández Agüero, depois
de tentar desvirtuar o testemunho geral dos Padres (para que prevaleça o seu
próprio testemunho, como é óbvio, e que ele afirmará ser "o que ensina a
Bíblia"), pretende que seus leitores saibam "algo" do que
"alguns Padres podem nos dizer acerca do nosso tema", mas suas duas citações
dificilmente podem ser tidas seriamente como "algo", bem como seus
dois Padres apenas podem cumprir o requisito mínimo para que se possa dizer
"alguns Padres".
Pergunto então:
Pela mente destes
"evangélicos", o que terá ocorrido com o mar de citações onde podemos
ver os "Padres patrísticos" ensinarem a doutrina da presença real?
Não conhecem elas?
Não querem conhecê-las?
Não lhes interessa mostrar
o que a Igreja pensava nos primeiros séculos?
Pois se eles conhecem
essas citações, estaríamos diante de uma desonestidade intelectual bastante
grosseira.
Mas, se pelo contrário,
não as conhecem, por que falam do que não sabem, dando aos seus leitores uma
visão totalmente falsa da realidade patrística?
Bem além do palavreado de
Hernández Agüero, no seu artigo o leitor não poderá encontrar virtualmente nada
do que os "Padres patrísticos" ensinaram sobre esta matéria.
Seja qual for a intenção
desta indouta docência "evangélica", abandonamo-la ao juízo de
Deus...
A seguir, percorrermos a
História da Igreja em seus melhores expoentes - os Santos Padres, os grandes
escritores e testemunhas da Fé antiga - de modo que o leitor poderá depois
reconhecer qual é a doutrina que está separada "por um abismo intransponível"
do que a Igreja ininterruptamente crê desde as suas origens [xiv].
Apresentaremos também o
que os Pais do Protestantismo ensinavam acerca desse tema.
E para o benefício do
leitor, acrescentaremos ainda uma breve resenha biográfica dos autores citados,
que será mais detalhada naqueles mais antigos e mais resumida à medida que
formos avançando nos séculos.
(cont)
p.
juan carlos sack
Revisão
da versão portuguesa por ama.
[i] Jetónio, evangélico
[ii] Martinho Lutero
[iii] Trabalho
dedicado a Silvana, Adrián, Carlos e Pablo, José Luis e Claudio, que ou já
regressaram ao lar (=a Igreja Católica), ou então já estão a caminho...
Perseverança! OBS.: [A] Os comentários que aqui são feitos têm por finalidade
esclarecer o contexto histórico das citações ou ressaltar algum aspecto
importante. As citações bíblicas que aparecem nos textos entre colchetes ou
parêntesis são sempre acréscimos; o que segue entre colchetes nos textos
patrísticos ou de outros autores são acréscimos feitos para se compreender o
contexto. [B] O artigo [completo] contém textos de 80 autores patrísticos e
ainda alguns outros. (...)
[iv] Devemos,
no entanto, matizar esta afirmação, já que na verdade ninguém consegue se
libertar de toda espécie de tradição na hora de ler as Escrituras, de modo que
até os "evangélicos" "mais bíblicos" receberam, juntamente
com as Escrituras, uma certa chave de interpretação. Tendo deixado isto bem
claro, também é correto o que afirmamos, a saber: as correntes
"evangélicas" fundamentalistas pretendem fazer uma leitura das
Escrituras ignorando tudo o que os outros cristãos antes deles pensaram sobre
as mesmas; costumam a chamar isso de "leitura sem preconceitos".
[v] A
expressão "exegese adequada" aplicada aos textos eucarísticos
encontra-se pelo menos no Site "Conoceréis la Verdad", onde se
afirma, no artigo "A Teoria da Transubstanciação", que o crente
deveria rejeitar a interpretação da Igreja Católica baseado no "senso comum"
e numa "exegese adequada". Resta averiguar com base em quê se poderia
chamar "adequada" a exegese desse Site e "não adequada" ou
"falta de senso comum" à exegese de Justino [de Roma] e Inácio de
Antioquia (séculos I e II), ou a de Agostinho [de Hipona] e João Crisóstoo
(séculos IV e V), ou a de Tomás de Aquino (século XIII), para mencionar apenas
alguns.
[vi] O autor dessas
linhas se apresenta tacitamente como o porta voz do Cristianismo evangélico...
Pode então ser comparado, por exemplo, com o que Lutero pensava sobre este tema
(ver mais adiante, nesta série de artigos).
[vii] As acusações de
canibalismo, repetidas aqui pelo "evangélico" batista, não são senão
repetição das mesmas acusações feitas pelos pagãos anticristãos dos dois
primeiros séculos. Uma coincidência que não deixa de causar surpresa!
[viii] A presença real de
Cristo na Eucaristia e o aspecto sacrificial da celebração, ainda que
intimamente ligadas, são dois aspectos diferentes do mistério eucarístico, que
o autor batista aqui confunde. Quão errônea é a afirmação segundo a qual a
interpretação realista das palavras da Última Ceia são tão tardias quanto o
século XIII poder-se-á comprovar ao longo [desta série de artigos]. Além disso,
o que é de 1215 (ou mais exatamente 1202) é o surgimento da palavra
"transubstanciação" em um documento da Igreja. E, finalmente, o Papa
Pio III reinou em 1503 e não em 1215. Logo, o Papa em questão é, na verdade,
Inocêncio III.
[ix] O que até aqui
Hernández Agüere fez em seu artigo não foi "aprofundar" nos Padres,
mas tentar desautorizá-los por suas supostas "contradições".
[x] Há "alguns
Padres que podem nos dizer algo sobre o nosso tema" - diz Hernández, citando
[só] DOIS Padres. Espero que após ler este artigo, o sr. Hernández Agüero possa
encontrar mais alguns que possam nos "dizer algo" sobre o nosso tema.
[xi] Tertuliano, Contra
Marcião 4:40
[xii] Crisóstomo, Epístola
a Cesarium
[xiii] Retornaremos a estas
citações de Tertuliano posteriormente.
[xiv] Numa
colecção mais ampla de textos em espanhol encontramos em "A Presença Real
de Cristo na Eucaristia", de José A. de Aldama, Edicep, Valência, 1993;
empregarei este livro em muitas citações. [Em inglês, temos] também "The
Faith of the Early Fathers", em 3 volumes, de William A. Jurgens. A melhor
coleção em espanhol é, sem dúvida, "Textos Eucarísticos Primitivos",
do Pe. Jesús Solano (sj), em 2 volumes. Uma coleção mais simples, porém com
muitíssimo material apologético, temos em "Bíblia y Eucaristia", de
Ernesto Bravo (sj). O facto totalmente
indiscutível é que qualquer cristão que queira saber o que ensinaram antes de
nós todos os melhores líderes do Cristianismo primitivo acerca da presença de
Cristo na Eucaristia terá que recorrer à literatura católica. Por que será?
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