Tempo de Advento
Evangelho:
Lc 10, 21-24
21 Naquela mesma hora Jesus exultou de alegria no
Espírito Santo, e disse: «Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondeste estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelaste aos
simples. Assim é, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado. 22 Todas as
coisas Me foram entregues por Meu Pai; e ninguém sabe quem é o Filho, senão o
Pai, nem quem é o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar». 23
Depois, tendo-Se voltado para os discípulos, disse: «Felizes os olhos que vêem
o que vós vedes. 24 Porque Eu vos afirmo que muitos profetas e reis
desejaram ver o que vós vedes e não o viram, ouvir o que vós ouvis e não o
ouviram».
Comentário:
Jesus Cristo confirma o que nós sabemos pela
Fé: Ele é o Dono e Senhor de todas as coisas.
Um Senhor assim, que Se empenha na salvação e
redenção definitivas dos Seus servos que somos todos os homens, merece e tem
absoluto direito à nossa confiança, esperança e cumprirmos estrito dever de
fazermos, em tudo, a Sua Vontade.
Esta Vontade é o penhor da nossa salvação, e
fazê-la é a garantia de que a conseguiremos.
(AMA, comentário sobre Lc 10, 21-24, 2014.12.03)
Leitura espiritual
Resumos da Fé cristã
TEMA 35
O sexto mandamento do Decálogo
Deus
é amor, e o seu amor é fecundo. Deus quis que a pessoa humana participasse
desta fecundidade, associando a geração a um acto específico de amor entre o
homem e a mulher.
1. Criou-os homem e mulher
A
ordem de Deus ao homem e à mulher para «crescer e multiplicar-se», há-de ler-se
na perspectiva da criação «à imagem e semelhança» da Trindade [i].
Isto
faz com que a geração humana, no contexto mais vasto da sexualidade, não seja
algo «puramente biológico», mas diga «respeito à pessoa humana como tal, no que
ela tem de mais íntimo» [ii]; logo,
é essencialmente diferente da própria vida animal.
«Deus
é amor» [iii] e o
seu amor é fecundo.
Nesta
fecundidade, quis Deus que a pessoa humana participasse, associando à geração
de cada nova pessoa um acto específico de amor entre um homem e uma mulher [iv].
Por
isso, «o sexo não é uma realidade vergonhosa; é uma dádiva divina que se
orienta limpidamente para a vida, para o amor, para a fecundidade» [v].
Sendo
o homem um indivíduo composto de corpo e alma, o acto amoroso generativo exige
a participação de todas as dimensões da pessoa: a corporeidade, os afectos, o
espírito [vi].
O
pecado original quebrou a harmonia do homem consigo mesmo e com os outros.
Esta
fractura teve particular repercussão na capacidade da pessoa viver
racionalmente a sexualidade.
Por
um lado, obscurecendo na inteligência o nexo inseparável que existe entre as
dimensões afectivas e generativas da união conjugal; por outro lado,
dificultando o domínio que a vontade exerce sobre os dinamismos afectivos e
corporais da sexualidade.
A
necessidade de purificação e maturidade que a sexualidade exige nestas
condições não significa de modo algum a sua rejeição, ou uma consideração
negativa deste dom que o homem e a mulher receberam de Deus.
Significa,
isso sim, a necessidade de que «o amor – o eros – possa amadurecer até à sua
verdadeira grandeza» [vii].
Nesta
tarefa joga um papel fundamental a virtude da castidade.
2. A vocação para a castidade
O
Catecismo da Doutrina Católica fala de vocação para a castidade, porque esta
virtude é condição e parte essencial da vocação para o amor, para o dom de si,
ao qual Deus chama cada pessoa.
A
castidade torna possível o amor na corporeidade e através dela [viii].
De
algum modo, pode-se dizer que a castidade é a virtude que possibilita e conduz
a pessoa humana na arte de viver bem, na benevolência e na paz interior com os
outros homens e mulheres e consigo mesmo; visto que a sexualidade humana
atravessa todas as potências, do mais físico e material ao mais espiritual,
colorindo as diversas faculdades no masculino e feminino.
A
virtude da castidade não é simplesmente um remédio contra a desordem que o
pecado origina na esfera sexual, mas uma afirmação gozosa, porque permite amar
a Deus e, através d’Ele, os outros homens, com todo o coração, com toda a alma,
com toda a mente e com todas as forças [ix], [x].
«A
virtude da castidade gira na órbita da virtude cardeal da temperança» [xi] e
«significa a integração conseguida da sexualidade na pessoa, e daí a unidade
interior do homem no seu ser corporal e espiritual» [xii].
É
muito importante na formação das pessoas, sobretudo dos jovens, falar da
castidade, explicando a profunda e estreita relação entre a capacidade de amar,
a sexualidade e a procriação.
Se
não for assim, pode parecer que se trata duma virtude negativa, já que boa
parte da luta por viver a castidade caracteriza-se pela tentativa de dominar as
paixões, que nalgumas circunstâncias se orientam para bens particulares que não
são ordenáveis racionalmente em função do bem da pessoa considerada como um
todo [xiii].
No
estado actual, o homem não pode viver a lei moral, e por conseguinte a
castidade, sem a ajuda da graça.
Isto
não significa a impossibilidade da virtude humana ser incapaz de conseguir um
certo controlo das paixões nesta área, mas sim a constatação da magnitude da
ferida produzida pelo pecado, a qual exige o auxílio divino para a perfeita
reintegração da pessoa [xiv].
3. A educação da castidade
A
castidade exige o domínio da concupiscência, que é parte integrante do domínio
de si. Este domínio é uma tarefa que dura a vida inteira e supõe esforço
reiterado que pode ser especialmente intenso nalgumas épocas. A castidade deve
crescer sempre, com a graça de Deus e a luta ascética [xv], [xvi].
«A
caridade é a forma de todas as virtudes. Sob a sua influência, a castidade
aparece como uma escola de doação da pessoa. O domínio de si ordena-se para o
dom de si» [xvii].
A
educação da castidade é muito mais do que alguns denominam “educação sexual”,
que se ocupa fundamentalmente de proporcionar informação sobre os aspectos
fisiológicos da reprodução humana e os métodos contraceptivos.
A
verdadeira educação da castidade não se limita a informar sobre aspectos
biológicos, mas ajuda a reflectir sobre os valores pessoais e morais que entram
em jogo em tudo o que se relaciona com o nascimento da vida humana e a
maturidade pessoal. Por outro lado, fomenta grandes ideais de amor a Deus e aos
outros através do exercício das virtudes da generosidade, do dom de si, do
pudor que protege a intimidade, etc., os quais ajudam a pessoa a superar o
egoísmo e a tentação de se fechar sobre si mesma.
Neste
empenho, os pais têm grande responsabilidade, visto que são os primeiros e
principais mestres na formação da castidade dos seus filhos [xviii].
Meios
importantes na luta por viver esta virtude:
a)
A oração: pedir a Deus a virtude da santa pureza [xix] e a
frequência dos sacramentos são os remédios para a nossa debilidade;
b)
Trabalho intenso, evitar o ócio;
c)
Moderação na comida e na bebida;
d)
Cuidado dos pormenores de pudor e modéstia no vestuário, etc.;
e)
Rejeitar as leituras de livros, revistas e jornais inconvenientes; e evitar os
espectáculos imorais;
f)
Muita sinceridade na direcção espiritual;
g)
Esquecer-se de si próprio;
h)
Ter uma grande devoção a Maria Santíssima, Mater
pulchrae dilectionis (Mãe do Amor formoso).
(cont)
[i] cf. Gn 1
[ii] Catecismo , 2361
[iii] 1Jo 4, 8
[iv] Cada
um dos dois sexos é, com igual dignidade, embora de modo diferente, imagem do
poder e da ternura de Deus. A união do homem e da mulher no matrimónio é um
modo de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador: “O homem
deixará o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só
carne” (Gn 2, 24). Desta união procedem todas as gerações humanas (cf. Gn 4,
1-2.25-26; 5, 1)» (Catecismo, 2335).
[v] S. Josemaria, Cristo
que Passa, 24.
[vi] Se o homem aspira a
ser somente espírito e quer rejeitar a carne como uma herança apenas
animalesca, então espírito e corpo perdem a sua dignidade. E se ele, por outro
lado, renega o espírito e consequentemente considera a matéria, o corpo, como
realidade exclusiva, perde igualmente a sua grandeza» (Bento XVI, Enc. Deus
Caritas Est , 25-XII-2005, 5).
[vii] Certamente «o eros
quer elevar-nos “em êxtase” para o Divino, conduzir-nos para além de nós
próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias,
purificações e saneamentos» (Ibidem)
[viii] Deus é amor e vive
em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem e
conservando-a continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da
mulher a vocação, e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da
comunhão» (João Paulo II, Ex. Ap. Familiaris Consortio, 22-XI-1981, 11).
[ix] cf. Mc 12, 30
[x] A castidade é a
afirmação gozosa de quem sabe viver o dom de si, livre de toda a escravidão
egoísta» (Conselho Pontifício para a Família, Sexualidade humana: verdade e
significado, 8-XII-1995, 17). «A pureza é consequência do amor com que
entregámos ao Senhor a alma e o corpo, as potências e os sentidos. Não é uma
negação; é uma alegre afirmação». (S. Josemaria, Cristo que Passa, 5).
[xi] Catecismo, 2341
[xii] Catecismo, 2337
[xiii] «A castidade implica
uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A
alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se
deixa dominar por elas e torna-se infeliz (cf. Sir 1, 22.). “A dignidade do
homem exige que ele proceda segundo uma opção consciente e livre, isto é,
movido e determinado por uma convicção pessoal e não sob a pressão de um cego
impulso interior ou da mera coacção externa. O homem atinge esta dignidade
quando, libertando-se de toda a escravidão das paixões, prossegue o seu fim na
livre escolha do bem e se procura de modo eficaz e com diligente iniciativa os
meios adequados” (Gaudium et Spes, 17)» (Catecismo, 2339).
[xiv] «A castidade é uma
virtude moral. Mas é também um dom de Deus, uma graça, um fruto do trabalho
espiritual (cf. Gl 5, 22). O Espírito Santo concede a graça de imitar a pureza
de Cristo (cf. 1 Jo 3,3) àquele que regenerou pela água do Baptismo»
(Catecismo, 2345).
[xv] cf. Catecismo, 2342
[xvi]
A
maturidade da pessoa humana inclui o domínio de si, que supõe o pudor, a
temperança, o respeito e abertura aos outros (cf. Congregação para a Educação
Católica, Orientações educativas sobre o amor humano, 1-XI-1983, 35).
[xvii] Catecismo, 2346
[xviii] Este aspecto da
educação tem hoje maior importância do que no passado, já que são muitos os
modelos negativos que a sociedade actual apresenta (cf. Conselho Pontifício
para a Família, Sexualidade humana: verdade e significado, 8-XII-1995, 47).
«Diante de uma cultura que «banaliza» em grande parte a sexualidade humana,
porque a interpreta e a vive de maneira limitada e empobrecida coligando-a
unicamente ao corpo e ao prazer egoístico, o serviço educativo dos pais deve
dirigir-se com firmeza para uma cultura sexual que seja verdadeira e plenamente
pessoal» (João Paulo II, Ex. Ap. Familiaris Consortio, 37).
[xix] «Deus concede a
santa pureza aos que Lha pedem com humildade» (S. Josemaria, Caminho, 118).
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