Art.
2 — Se Cristo deve ser considerado como concebido do Espírito Santo.
O segundo discute-se assim. — Parece que
Cristo não deve ser considerado como concebido do Espírito Santo.
1 — Pois, segundo o Apóstolo: Dele e por ele e nele existem todas as
coisas, diz a Glosa de Agostinho: Atendamos
a que não diz — de ipso, mas — ex ipso; porque dele (ex ipso) se originou o céu
e a terra, por os ter feito; mas não dele (de ipso), como se o céu e a terra
fossem substância sua. Ora, o Espírito Santo não formou o corpo de Cristo
da sua substância. Logo, não devemos considerar Cristo como concebido do
Espírito Santo.
2. Demais. — O princípio activo na
concepção de um ser se comporta como o sémen na geração. Ora, o Espírito Santo
não exerceu nenhuma função seminal na geração de Cristo. Assim, diz Jerónimo:
Nós não dizemos, como certos impissimamente o pretenderam, que o Espírito Santo
desempenhou uma função seminal; mas dizemos que o corpo de Cristo foi feito,
isto é, formado pelo poder e pela virtude do Criador. Logo, não podemos
considerar Cristo como concebido do Espírito Santo.
3. Demais. — Um mesmo corpo não pode
ser formado de dois outros sem que estes de certo modo se misturem. Ora, o
corpo de Cristo foi formado da Virgem Maria. Se, pois, dissermos que Cristo foi
concebido do Espírito Santo, parece que houve uma mistura entre o Espírito
Santo e a matéria que a Virgem ministrou: O que é claramente falso. Logo,
Cristo não deve ser considerado como concebido do Espírito Santo.
Mas, em contrário, o Evangelho: Antes de coabitarem, se achou ter ela
concebido por obra do Espírito Santo.
Não dizemos que só o corpo
de Cristo foi concebido mas também que o foi o próprio Cristo, em razão do seu
corpo. Ora, descobrimos no Espírito Santo uma dupla relação com Cristo. Assim,
com o Filho mesmo de Deus, que consideramos como concebido, tem a relação de
consubstancialidade; e com o corpo de Cristo tem a relação de causa eficiente.
Ora, a preposição de designa ambas essas relações; assim, como quando dizemos,
que um certo homem nasceu de seu pai. Donde, podemos convenientemente dizer que
Cristo foi concebido do Espírito Santo, para significar que a eficiência do
Espírito Santo se refere ao corpo assumido, e a consubstancialidade, à pessoa
assumente.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. —
O corpo de Cristo, por não ser consubstancial com o Espírito Santo, não pode
ser propriamente considerado como concebido do Espírito Santo, mas antes, em
virtude (ex) do Espírito Santo. Por isso diz Ambrósio: O que procede de alguém (ex), ou procede da sua substância ou do seu
poder; da substância, como o Filho, que procede da substância do Pai; do poder,
como de Deus procede tudo, sendo também a esse modo que Maria concebeu no seu
ventre, do Espírito Santo.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Neste ponto há
divergência entre Jerónimo e alguns outros doutores, que afirmam ter o Espírito
Santo, na concepção de Cristo, exercido uma função seminal. Assim, diz
Crisóstomo: O Espírito Santo precedeu o Unigénito de Deus, que a Virgem ia
conceber, de modo que a divindade, exercendo a função do sémen, o Cristo
nascesse, segundo o corpo, na santidade. E Damasceno diz: A Sabedoria e a Virtude de Deus, desempenhando o papel do sémen,
cobriram-na com a sua sombra. — Mas esta divergência facilmente se resolve.
Porque entendendo-se por sémen uma virtude activa, então Crisóstomo e Damasceno
comparam o Espírito Santo, ou também o Filho, que é a Virtude do Altíssimo, ao
sémen. Mas, se se entende por sémen a substância corporal, transmutada na
concepção, nesse caso Jerónimo nega, que o Espírito Santo tivesse exercido a
função de sémen.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz
Agostinho, não é, no mesmo sentido que se diz ter sido Cristo concebido ou
nascido do Espírito Santo e da Santa Virgem. Pois de Maria Virgem nasceu
materialmente; mas, do Espírito Santo, como do princípio activo. Por isso, não
houve aí nenhuma mistura.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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