Art.
2 — Se Cristo tomou a sua carne da raça de David.
O segundo discute-se assim. — Parece que
Cristo não tomou a sua carne da raça de David.
1. — Pois, quando Mateus descrimina a genealogia
de Cristo condu-la até José. Ora, José não foi pai de Cristo, como se disse.
Logo, parece que Cristo não descendia da raça de David.
2. Demais. — Arão foi da tribo de
Levi. Ora, Maria, Mãe de Cristo, é chamada prima de Isabel, descendente de
Adão. Como, pois, David era da tribo de Judá, parece que Cristo não descendia
da raça de David.
3. Demais. — O profeta Jeremias diz,
de Jeconias: Escreve que este homem será
estéril, pois não sairá de sua linhagem varão que se assente sobre o trono de
David. Ora, de Cristo diz a Escritura: Assentar-se
à sobre o trono de David. Logo, Cristo não era da raça de Jeconias. E por
consequência, nem da raça de David, pois, Mateus conduz a série das gerações
partindo de David e passando por Jeconias.
Mas, em contrário, o Apóstolo: Que foi feito da linhagem de David segundo a
carne.
Como se lê no Evangelho,
Cristo era especialmente considerado filho dos dois antigos Patriarcas, Abraão
e David. E isso por muitas razões. - Primeiro, porque a eles foi especialmente
feita a promessa, da descendência de Cristo. Assim, foi dito a Abraão: Todas as gentes da terra serão benditas
naquele que há de proceder de ti. O que o Apóstolo aplica a Cristo, quando
diz: As promessas foram feitas a Abraão e
à sua semente. Não diz – e às sementes, como de muitos; senão como de um –
e à tua semente, que é Cristo. E a David foi dito: Do fruto do teu ventre porei sobre o teu trono. Por isso, o povo
dos Judeus, ao receber honorificamente o seu rei, clamava: Hosana ao filho de David. - Segundo, porque Cristo havia de ser
rei, profeta e sacerdote. Pois, Abraão foi sacerdote, como se conclui das
palavras que o Senhor lhe disse: Toma-me
uma vaca de três anos, etc. Foi também profeta, segundo aquela outra
citação: ele é profeta e rogará por ti.
Ora, David foi rei e profeta. - Terceiro. porque com Abraão teve início a
circuncisão; e em David manifestou-se sobretudo a eleição de Deus, segundo o
dito da Escritura: O Senhor buscou para
si um homem conforme ao seu coração. Por isso, Cristo é especialissimamente
chamado filho de um e de outro, para mostrar que veio trazer a salvação aos Judeus
circuncisos e aos pagãos eleitos.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Essa objecção foi feita por Fausto Maniqueu, que pretendia provar Cristo não era
filho de David, por não ter sido concebido de José, até quem Mateus conduz a
série das gerações. Mas Agostinho assim lhe responde: Como o mesmo Evangelista diz que José era o esposo de Maria e Cristo
era da raça de David, que resta senão crermos que Maria não era estranha ao
parentesco com David? Que não foi em vão chamada a esposa de José, em razão da
união das suas almas e não de seus corpos? E que a série das gerações foi
conduzida até José, antes por causa da dignidade inerente à descendência
masculina? Assim, pois, cremos que Maria era do parentesco de David, por
crermos na Escritura. E esta diz, tanto que Cristo era da raça de David segundo
a carne, como que sua Mãe Maria não teve nenhum comércio com o esposo, mas
permaneceu virgem. Pois, como diz Jerónimo, José e Maria eram da mesma tribo;
donde o estar ele obrigado pela lei a recebê-la, como parenta. Por isso
figuravam juntos no censo, em Belém, como gerados de um mesmo tronco.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Gregório
Nazianzeno responde a essa objecção quando diz, que foi por vontade divina que uma raça real se uniu à uma família
sacerdotal, a fim de que Cristo, ao mesmo tempo rei e sacerdote, nascesse de
ambos, segundo a carne. Por isso, Arão, o primeiro sacerdote da lei, casou
com Isabel, da tribo de Judá, e filha de Anínadab. E assim foi também possível
que o pai de Isabel tivesse uma esposa da estirpe de David, em razão do que a
Santa Virgem Maria pertencente à raça de David, foi prima de Isabel. Ou antes e
inversamente, que o Pai da Santa Maria, sendo da estirpe de David, casou na
estirpe de Arão. - Ou, como diz Agostinho, se
Joaquim, pai de Maria, foi da estirpe de Arão, como o herético Fausto afirmava,
fundado em certas escrituras apócrifas, devemos crer que a mãe de Joaquim foi
da estirpe de David, ou também a sua mulher; e assim, de algum modo, podemos
dizer que Maria era da raça de David.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A citada
autoridade profética, como diz Ambrósio, não nega que nenhuma descendência
houvesse de nascer da raça de Jeconias. Por isso Cristo fez parte da sua
estirpe. E o ter Cristo reinado não vai contra a profecia. Pois, o seu reino não
era temporal; e ele próprio o confessou quando disse: O meu reino não é deste mundo.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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