Em seguida devemos tratar da própria concepção
do Salvador. Primeiro, quanto à matéria da qual o seu corpo foi concebido. Segundo,
quanto ao autor da concepção. Terceiro, quanto ao modo e à ordem da concepção.
Art. 1 — Se a carne de Cristo foi
tomada de Adão.
Art. 2 — Se Cristo tomou a sua carne
da raça de Davi.
Art. 3 — Se a genealogia de Cristo foi
bem discriminada pelos Evangelistas.
Art. 4 — Se a matéria do corpo de
Cristo devia ser tomada de uma mulher.
Art. 5 — Se a carne de Cristo foi
concebida do sangue mais puro da Virgem.
Art. 6 — Se uma parte determinada do
corpo de Cristo existiu em Adão e nos outros patriarcas.
Art. 7 — Se a carne de Cristo foi
contaminada do pecado, nos antigos patriarcas.
Art. 8 — Se Cristo foi dizimado na
pessoa de Abraão.
Art.
1 — Se a carne de Cristo foi tomada de Adão.
O primeiro discute-se assim. — Parece
que a carne de Cristo não foi tomada de Adão.
1. — Pois, diz o Apóstolo: O primeiro homem, formado da terra, é
terreno; o segundo homem, do céu, celestial. Ora, o primeiro homem foi
Adão; o segundo é Cristo. Logo, Cristo não descende de Adão, mas teve uma
origem distinta dele.
2. Demais. — A concepção de Cristo
devia ser miraculosa por excelência. Ora, maior milagre foi formar o corpo do
homem do limo da terra, do que de uma matéria humana, tirada de Adão. Logo,
parece que não era conveniente Cristo tirar a sua carne, de Adão. Portanto,
parece que o corpo de Cristo não devia ser formado da massa do género humano
derivada de Adão, mas de uma outra matéria.
3. Demais. — O pecado entrou neste
mundo por um homem, isto é, por Adão, porque todas as gentes nele pecaram
originalmente, como está claro no Apóstolo. Mas, se o corpo de Cristo tivesse
sido tomado de Adão, também ele teria estado originalmente em Adão, quando este
pecou. Logo, teria contraído o pecado original. O que não condizia com a pureza
de Cristo. Logo, o corpo de Cristo não foi formado da matéria tirada de Adão.
Mas, em contrário, diz o Apóstolo: Ele, isto é, o Filho de Deus, em nenhum
lugar tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. Ora, a
descendência de Abraão foi originada em Adão. Logo, o corpo de Cristo foi formado
de matéria tomada de Adão.
Cristo assumiu a natureza
humana para purificá-la da sua corrupção. Ora, a natureza humana não precisava
de purificação senão porque estava contaminada pela origem viciada da sua
descendência de Adão. Por isso foi conveniente que Cristo tomasse uma carne
derivada de Adão, de modo que a própria natureza fosse curada por essa
assunção.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Diz-se que o segundo homem, isto é, Cristo procedia do céu, não quanto à
matéria do seu corpo, mas, ou quanto sua à virtude formativa, ou também quanto
à sua própria divindade. Pois, quanto à matéria, o corpo de Cristo era terreno,
como o foi o de Adão.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Como dissemos, o
mistério da Encarnação de Cristo é um facto milagroso, não como ordenado à
confirmação da fé, mas como um artigo de fé. Por isso, esse mistério não
precisa de ser contado entre os maiores milagres, como o hão-de ser os milagres
feitos para a confirmação da fé. Mas, devemos descobrir nele uma conveniência
maior com a divina sabedoria e mais expediente à salvação humana, o que é
necessário a tudo o que é objecto de fé. Já podemos dizer que no mistério da
Encarnação não consideramos o milagre relativamente à matéria da concepção, mas
sobretudo quanto ao modo da concepção e do parto, isto é, por ter sido uma
virgem a que concebe e deu à luz a Deus.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como se disse,
o corpo de Cristo existiu em Adão pela sua origem material, isto é, porque a própria
matéria do corpo de Cristo foi derivada de Adão. Mas nele não existiu pela
origem seminal, pois não foi gerado do sémen humano. Por isso não contraiu o
pecado original, como os outros homens, derivados de Adão por via de origem
seminal.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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