Em seguida devemos tratar da
anunciação da Santa Virgem.
E nesta questão discutem-se quatro
artigos:
Art. 1 — Se era necessário fosse
anunciado à Santa Virgem o que nela haveria de cumprir-se.
Art. 2 — Se à Santa Virgem a
anunciação devia ser feita por um anjo.
Art. 3 — Se o anjo anunciante devia
aparecer à Virgem em forma corpórea.
Art. 4 — Se a anunciação se cumpriu em
perfeita ordem.
Art.
1 — Se era necessário que fosse anunciado à Santa Virgem o que nela haveria de
cumprir-se.
O primeiro discute-se assim. — Parece que não
era necessário que fosse anunciado à Santa Virgem o que nela haveria de
cumprir-se.
1. — Pois, parece que a anunciação só
era necessária para obter o consentimento da Virgem. Ora, parece que não era
necessário o seu consentimento; pois, a conceição da Virgem foi prenunciada
pela profecia da predestinação, que se cumpre sem a cooperação do nosso
arbítrio, como diz uma certa glosa. Logo, não era necessário que tal anunciação
se fizesse.
2. Demais. — A Santa Virgem tinha fé
na Encarnação, sem a qual ninguém podia trilhar a via da salvação; pois, como
diz o Apóstolo, a justiça de Deus é
infundida pela fé de Jesus Cristo em todos. Ora, quem crê com certeza não
precisa ser instruído ulteriormente. Logo, à Santa Virgem não lhe era
necessário que fosse anunciada a encarnação do Filho de Deus.
3. Demais. — Assim como a Santa Virgem
concebeu corporalmente a Cristo, assim também qualquer alma santa o concebe
espiritualmente. Donde o dizer o Apóstolo: Filhinhos
meus, por quem eu de novo sinto as dores do parto, até que Jesus Cristo se
forme em vós. Ora, aos que devem conceber espiritualmente a Cristo, essa
conceição não lhes é anunciada. Logo, também não devia ser anunciado à Santa
Virgem, que conceberia no seu ventre ao Filho de Deus.
Mas, em contrário, está no Evangelho
que o Anjo lhe disse: Eis conceberás no
teu ventre e parirás um filho.
Era conveniente que fosse
anunciado à Santa Virgem que havia de conceber a Cristo. — Primeiro, para que
se observasse a ordem devida da união do Filho de Deus com a Virgem; isto é,
para que, antes de concebê-lo da sua carne, a sua alma tivesse disso
conhecimento. Donde o dizer Agostinho: Maria
foi mais feliz percebendo a fidelidade de Cristo que lhe concebendo a carne.
E depois acrescenta: A proximidade de seu
Filho em nada teria sido útil a Maria, se não tivesse com maior felicidade
trazido a Cristo no seu coração, que na sua carne. — Segundo, para que pudesse
ser mais certa testemunha desse sacramento, quando nele fosse instruída por
Deus. — Terceiro, para que oferecesse a Deus o voluntário dom da sua submissão,
ao que prontamente se ofereceu quando disse: Eis a escrava do Senhor. — Quarto, para que se mostrasse haver um
como matrimónio espiritual entre o Filho de Deus e a natureza humana. Por isso,
pela anunciação foi pedido o consentimento da Virgem, como representante de
toda a natureza humana.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A profecia da predestinação se cumpre sem a cooperação causal do nosso
arbítrio; não porém sem o consentimento dele.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A Santa Virgem
tinha fé expressa na Encarnação futura; mas, humilde como era, não se julgava
digna de tão altas coisas. Por isso, necessitava de ser instruída nessa
matéria.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A concepção
espiritual de Cristo, mediante a fé, precede a anunciação, realizada pela fé da
pregação, segundo o dito do Apóstolo, que a
fé é pelo ouvido. Mas nem por isso sabe ninguém com certeza que tem a
graça; conhece, porém, como verdadeira a fé que recebeu.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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