Tempo comum XII Semana
Evangelho:
Mt 7, 6-12, 14
6 «Não
deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para que
não suceda que eles as calquem com os seus pés, e que, voltando-se contra vós,
vos despedacem. 12 «Portanto, tudo o que vós quereis que os homens
vos façam, fazei-o também vós a eles; esta é a Lei e os Profetas.
13 «Entrai
pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que leva à
perdição, e muitos são os que entram por ele. 14 Que estreita é a
porta, e que apertado o caminho que leva à Vida, e quão poucos são os que dão
com ele!
Comentário:
O critério no
apostolado é fundamental e de enorme importância. Não se vai… por aí como
porta-bandeira anunciando o Reino de Deus, não é este o modo de proceder do
cristão.
O apostolado
baseia-se, antes de mais, na amizade - antes de ser apóstolo ser amigo – isto
é, fomentar a amizade que deve levar à intimidade, ao conhecimento do outro
para, então, fazer o apostolado que melhor convenha.
As pessoas não
são todas iguais e não têm a mesmas necessidades ou gostos. Há que ir ao
encontro delas e dessas especificidades que reúnem para que o que se vai semear
tenha alguma possibilidade de enraizar e dar fruto.
(ama,
comentário sobre Mt 7, 6; 12-14, 2011.06.01)
Leitura espiritual
Virtudes
A graça e as
virtudes
A graça é a fonte
da santificação; cura e eleva a natureza tornando-nos capazes de agir como
filhos de Deus.
1. A graça
Deus chamou o homem a participar na
vida da Santíssima Trindade. «Esta vocação para a vida eterna é sobrenatural» [1], [2].
Para nos conduzir a
este fim último sobrenatural, concede-nos já nesta terra um início dessa
participação que será plena no céu. Este dom é a graça santificante, que
consiste num «começo da glória» 2[3]. Portanto,
a graça santificante:
- «É dom gratuito que Deus nos faz da
sua vida, infundida pelo Espírito Santo na nossa alma, para a curar do pecado e
a santificar» [4];
- É, portanto, uma nova vida,
sobrenatural; como um novo nascimento pelo qual somos constituídos filhos de
Deus por adopção, participantes da filiação natural do Filho: «filhos no Filho»
[7];
- Introduz-nos, assim, na intimidade
da vida trinitária. Como filhos adoptivos, podemos chamar «Pai» a Deus, em
união com o Filho único [8];
- É “graça de Cristo”, porque na
situação presente – quer dizer, depois do pecado e da Redenção operada por
Jesus Cristo – a graça chega-nos como participação da graça de Cristo [9]:
«Da sua plenitude
todos recebemos graça sobre graça”» [10].
A graça
configura-nos com Cristo [11]:
- É «graça do Espírito Santo», porque
é infundida na alma pelo Espírito Santo [12].
À graça santificante chama-se também
graça habitual porque é uma disposição estável que aperfeiçoa a alma pela
infusão das virtudes, para torná-la capaz de viver com Deus, de actuar por seu
amor [13], [14].
2. A justificação
A primeira obra da
graça em nós é a justificação [15].
Chama-se
justificação à passagem do estado de pecado ao estado da graça (ou “de
justiça”, porque a graça nos faz “justos”) [16].
Esta tem lugar no Baptismo, e cada vez
que Deus perdoa os pecados mortais e infunde a graça santificante
(ordinariamente no sacramento da penitência) [17].
3. A santificação
Deus não nega a
ninguém a sua graça, porque quer que todos os homens se salvem [20]; todos
estão chamados à santidade [21], [22].
A graça «é, em nós,
a nascente da obra de santificação» [23]; sara e
eleva a nossa natureza tornando-nos capazes de actuar como filhos de Deus [24], e de
reproduzir à imagem de Cristo [25]: quer
dizer, de ser, cada um, alter Christus, outro Cristo.
Esta semelhança com
Cristo manifesta-se nas virtudes.
A santificação é o
progresso em santidade; consiste na união cada vez mais íntima com Deus [26], até
chegar a ser não só outro Cristo mas ipse Christus, o próprio Cristo [27]; quer
dizer, uma só coisa com Cristo, como membro seu [28].
Para crescer em
santidade é necessário cooperar livremente com a graça, e isto requer esforço,
luta, por causa da desordem introduzida pelo pecado (o fomes peccati).
Consequentemente,
para vencer na luta ascética, antes de mais é preciso pedir a Deus a graça
mediante a oração e a mortificação – «a oração dos sentidos» [31]– e
recebê-la nos sacramentos [32].
A união com Cristo
só será definitiva no Céu. É necessário pedir a Deus a graça da perseverança
final: quer dizer, o dom de morrer na graça de Deus [33].
4. As virtudes
teologais
«As virtudes
teologais referem-se directamente a Deus e dispõem os cristãos para viverem em
relação com a Santíssima Trindade» [36].
«São infundidas por
Deus na alma dos fiéis para os tornar capazes de proceder como filhos seus» [37], [38].
As virtudes
teologais são três: fé, esperança e caridade [39].
A fé «é a virtude
teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele nos disse e revelou, e
que a santa Igreja nos propõe para acreditarmos» [40].
Pela fé «o homem
entrega-se completa e livremente a Deus» [41], e
esforça-se por conhecer e fazer a vontade de Deus [42], [43].
«O discípulo de
Cristo, não somente deve guardar a fé e viver dela, como também professá-la,
dar testemunho dela e propagá-la» [44].
«A esperança é a
virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como
nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e
apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo»
[45], [46].
«A caridade é a
virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas por Ele mesmo, e
ao nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus [47].
(cont)
[1] Catecismo, 1998
[2] Esta vocação «depende inteiramente
da iniciativa gratuita de Deus, porque só Ele pode revelar-Se e dar-Se a si
mesmo.
E ultrapassa as capacidades da inteligência e as forças
da vontade humana, como de qualquer criatura (cf. 1 Cor 2, 7-9”
(Catecismo, 1998).
[3] s.
tomás de aquino, Summa Theologica,
II-II, q. 24, a. 3, ad 2.
[4] Catecismo, 1999
[5] Catecismo, 1997; cf. 2
Pe
1,4
[6] cf. Catecismo , 1999
[8] cf. Catecismo, 1997
[9] Catecismo, 1997
[10] Jo 1, 16
[11] cf. Rm 8, 29
[12] Qualquer dom criado procede do Dom
incriado, que é o Espírito Santo.
«O amor de Deus derramou-se nos nossos corações pelo
Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5; cf. Gl 4, 6).
[13] cf. Catecismo, 2000
[14] Deve-se distinguir entre graça
habitual e graças actuais, «que designam intervenções divinas que estão na
origem da conversão ou no decorrer da obra da santificação» (cf. Ibidem).
[15] cf. Catecismo, 1989
[16] «A justificação envolve o perdão
dos pecados, a santificação e a renovação interior» (Concílio de Trento: DS
1528).
[17] Nos adultos, esta passagem é fruto
da moção de Deus (graça actual) e da liberdade do homem.
«Sob
a moção da graça, o homem volta-se para Deus e desvia-se do pecado, acolhendo
assim o perdão e a justiça do Alto» (Catecismo, 1989).
[18] Catecismo, 1994
[19] cf. Ef 2, 4-5
[20] 1 Tm 2, 4
[21] cf. Mt 5, 48
[22] Deus quis recordar esta verdade com
especial força e novidade, por meio dos ensinamentos de são josemaria a partir do dia 2 de Outubro de 1928.
A
Igreja proclamou no Concílio Vaticano II (1962-65): «Todos os fiéis, de
qualquer estado ou regime de vida, são chamados à plenitude da vida cristã e à
perfeição da caridade» (Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 40).
[23] Catecismo, 1999
[24] Cf. s.
tomás de aquino, Summa Theologiae,
III, q. 2, a. 12, c.
[25] cf. Rm 8, 29
[26] cf. Catecismo, 2014
[27] Cf. São Josemaria, Cristo que
Passa, n. 104
[28] cf. 1 Cor 12, 27
[29] Catecismo, 2015
[30] Mas a graça «não faz concorrência
de modo nenhum, à nossa liberdade, quando esta corresponde ao sentido da
verdade e do bem que Deus colocou no coração do homem» (Catecismo, 1742).
Pelo contrário, «a graça corresponde às aspirações
profundas da liberdade humana» (Catecismo, 2022).
[31] são
josemaria, Cristo que Passa, 9
[32] Para alcançar a graça de Deus
contamos com a intercessão da nossa Mãe Maria Santíssima, Medianeira de todas
as graças, e também com a de S. José, dos Anjos e dos Santos.
[33] cf. Catecismo, 2016 e 2849
[34] Catecismo, 1803
[35] Pelo contrário, os vícios são
hábitos morais que se seguem às obras más e inclinam a repeti-las e a piorar.
[36] Catecismo, 1812
[37] Catecismo, 1813
[38] Tal como a alma humana opera
através das suas potências (entendimento e vontade), o cristão em graça de Deus
opera através das virtudes teologais, que são como as potências da “nova
natureza” elevada pela graça.
[39] cf. 1 Cor 13, 13
[40] Catecismo, 1814
[41] Concílio Vaticano II, Const. Dei Verbum, 5.
[42] cf. Rm 1, 17
[43] A fé manifesta-se pelas obras: a fé
viva «actua pela caridade» (Gl 5, 6), enquanto «a fé sem obras está morta» (Tg
2, 26), mesmo que o dom da fé permaneça em quem não pecou directamente contra
ela (cf. Concílio de Trento: DS 1545).
[44] Catecismo, 1816; cf. Mt 10, 32-33
[45] Catecismo 1817
[46] Cf. Heb 10, 23; Tt 3, 6-7.
«A
virtude da esperança corresponde ao desejo de felicidade que Deus colocou no
coração de todo o homem» (Catecismo, 1818), purifica-o e eleva-o; protege-o do
desalento; dilata-lhe o coração na espera da bem-aventurança eterna; preserva-o
do egoísmo e condu-lo à alegria (cf. Ibidem).
[47] Catecismo, 1822
[48] Jo 15, 12
[49] A caridade é superior a todas as
virtudes (cf. 1 Cor 13, 13).
«Se não tivesse caridade nada seria nada» (1 Cor 13,3).
«O exercício de todas as virtudes é animado e inspirado
pela caridade» (Catecismo, 1827).
É a forma de todas as virtudes: “informa-as” ou
vivifica-as”, porque as orienta o amor de Deus; sem caridade, as outras
virtudes estão mortas.
A caridade purifica a nossa faculdade humana de amar e
eleva-a à perfeição sobrenatural do amor divino (cf. Catecismo, 1827).
Há uma ordem na caridade.
A caridade manifesta-se também na correcção fraterna
(cf. Catecismo 1829).
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