Tempo comum X Semana
Evangelho:
Mt 5, 1-12
1 Vendo Jesus aquelas multidões, subiu a um monte e, tendo-Se sentado,
aproximaram-se d'Ele os discípulos. 2 E pôs-Se a falar e ensinava-os,
dizendo: 3 «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o
Reino dos Céus. 4 «Bem-aventurados os que choram, porque serão
consolados. 5 «Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. 6
«Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7
«Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8
«Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9
«Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10
«Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é
o Reino dos Céus. 11 «Bem-aventurados sereis, quando vos insultarem,
vos perseguirem, e disserem falsamente toda a espécie de mal contra vós por
causa de Mim. 12 Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa
recompensa nos céus, pois também assim perseguiram os profetas que viveram
antes de vós.
Comentário:
O Sermão da Montanha, como para sempre
ficou conhecido, pode dizer-que contém todo o Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
A universalidade das exortações contempla toda a humanidade com o mesmo amor, a mesma esperança, igual certeza: a Bem-Aventurança eterna.
Ninguém fica de fora ou é, de alguma forma, excluído da misericórdia divina.
É o mais extraordinário legado de confiança, amor e carinho que o Senhor nos poderia ter deixado.
(ama, comentário
sobre Mt 5, 1-12 2014.06.09)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
SEGUNDA PARTE
COMO SER CRISTÃOS
viii a luta ascética para a conversão
…/2
Enraizando o espírito na Esperança as raízes
da avareza, da gula e da preguiça desvanecem-se.
A perspectiva
da vida a eterna ajuda a contemplar no seu verdadeiro valor e riqueza todos os
bens da terra.
E a esperança
torna o homem diligente, forte.
Crescendo na Caridade enfraquecem a
inveja, a ira e a injúria.
O cristão
descobre a alegria de ver nos outros os dons de Deus, anseia responder sempre
com amabilidade e a sexualidade, como todas as outras potências do homem põe-se
ao serviço do verdadeiro amor a Deus e aos outros, no celibato, no matrimónio,
na família.
E ao mesmo tempo quando se esfriam a Fé,
a Esperança e a Caridade robustecem-se as raízes dos pecados capitais e os
outros caminhos que levam o homem para longe de Deus.
É muito significativo que um bom número
de santos tenha terminado os seus dias na terra com um clamor quase constante
no seu coração: «Senhor, aumenta-se a Fé, a Esperança e a Caridade».
Eram bem
conscientes de que a vida cristã não pretende principalmente construir no homem
a imagem da perfeição divina mas sim reflecti-la.
Sem esquecer a ideia da «identificação
com Cristo» e da «imitação de Cristo» queremos sublinhar – e é-nos também
confirmado por esse clamor dos santos – que a Graça leva o cristão a viver «com
Cristo, por Cristo, em Cristo», todas as qualidades da nossa natureza que são
dom de Deus.
Cristo vive
realmente em nós sem que deixemos de ser quem somos.
Daí que, na
verdade, pode dizer-se do cristão que «é outro Cristo, «o próprio Cristo».
Com esta perspectiva a luta ascética
cristã centrar-se-á muito especialmente no esforço por crescer na Fé, crescer
na Esperança, crescer na Caridade.
Como?
1º Crescer
na Fé.
Activamente, o cristão pode fazer actos de Fé ante possíveis dúvidas que
surjam na sua imaginação ou na sua mente: por exemplo reafirmar a sua crença na
presença real de Cristo na Eucaristia se ao ir comungar surgir alguma dúvida
sobre essa realidade, confirmar-se na realidade da vida eterna ante a pena
produzida pela morte de um ente querido que introduz alguma treva no espírito.
Ao rezar o Credo ou ao lê-lo
simplesmente para se inteirar melhor do seu conteúdo, o Cristão abre a sua
inteligência à luz das grandes verdades reveladas por Cristo.
Os Dogmas
descobrem a sua luz, não serão nunca para ele – como alguns pretendem – limites
à inteligência humana mas sim luzes que ajudam a mente do homem a penetrar
insondáveis campos da criação, do universo, do mistério do viver, do mistério
do amor de Deus.
O cristão cresce na Fé vivendo os
sacramentos: por exemplo, viver o sacramento da reconciliação é um profundo
acto de Fé; viver com devoção a Santa Missa é talvez o maior acto de Fé que o
homem pode viver na terra.
Qualquer manifestação externa de Fé
também ajuda a crescer interiormente na Fé.
Por exemplo: o
testemunho da Fé ante pessoas que maltratam a religião, falam mal de Cristo,
dos sacramentos, supõe sempre um robustecimento da Fé; assim como qualquer
acção para sustentar a Fé dos outros: uma catequese, uma explicação de alguma
verdade, o recordar algumas das recomendações do Magistério da Igreja, etc.
O cristão também tem a possibilidade de
aumentar a Fé: ao cumprir os Mandamentos sem fazer distinções entre uns e
outros.
Crescendo na Fé, o crente compreende
mais claramente toda a realidade a partir da luz de Deus, daí a importância de
renovar dentro de nós actos de Fé concretos para que jamais nos acostumemos a
estas verdades: a Encarnação do Filho de Deus, a Ressurreição de Cristo, a
presença real de Cristo na Eucaristia, a Vida Eterna e a Santíssima Trindade:
Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, um só Deus verdadeiro em Três
Pessoas distintas.
2º Crescer
na Esperança.
O crente cresce na Esperança ao voltar
uma e outra vez à procura de Cristo em cada ocasião em que sente a sua falta.
O desânimo,
antes da desesperança, é uma das maiores e mais fortes tentações que o homem
encontra no seu caminhar com Deus e para Deus.
Por vezes esse desânimo não é fruto da
distância com que se contempla Deus, noutras é o «silêncio» de Deus que se
torna incompreensível para o homem.
Deus nem sempre
é fácil de entender e até as pessoas mais santas, em muitas ocasiões, não
compreendem os planos de Deus.
Todas estas situações cooperam para que
o cristão caia na tentação de concentrar o seu esforço na vida terrena e chegue
a esquecer-se da perspectiva da Vida Eterna.
Outras vezes, sãos meios que Deus nos
oferece para viver com Ele que nos parecem desproporcionados para conseguir o
fim desejado, como sucedeu a Naamã, o general sírio, ante as recomendações do
profeta Ezequiel para curar a sua lepra.
Que
importância pode ter viver a Missa todos os Domingos e Festas de Guarda?
O que
significará deixar de pedir perdão pelos pecados quando Deus já é por si mesmo
misericordioso?
Acaso rezar
vai resolver todos os problemas?
A paciência ante a adversidade e a
paciência confiada ante a proximidade de Deus é um caminho seguro para suster
um homem na Esperança, não é, simplesmente, ter a segurança de receber um
prémio pelas batalhas que temos de travar em nome de Cristo.
Uma esperança
assim interesseira acabaria por converter-se em desesperança, em abandono.
O cristão cresce em Esperança na medida
em que cresce em Caridade, no Amor, porque descobre que espera de Deus que o
ama e quer dar a Deus a alegria de receber da sua mão tudo quanto Deus lhe
queira dar.
A Esperança é uma virtude que fortifica
o homem na sua luta contra o pecado e na sua confiança os desejos e a vontade
manifestados por Deus nele: a vocação, por exemplo.
Crescendo
assim, também passivamente, em Esperança o cristão descobre a verdade da
afirmação de São Paulo: «Tudo coopera para o bem dos que amam a Deus» [1]
e consegue perseverar, consciente, além disso, de que «Quem começou em nós a
boa obra levá-la-á a cabo até ao dia de Cristo Jesus» [2].
Afirmação que não comporta a realização
das nossas aspirações e muito menos de todos os nossos desejos.
A Esperança é
a janela aberta para «o novo Céu, a nova terra» que Cristo já enxertou no
crente pela acção da Graça e que se apresentarão com todo o seu vigor e todos
os seus resplendores na Vida Eterna.
Abraão santificou-se na Esperança, que
soube esperar «contra toda a esperança» porque sabia em Quem acreditava, em
Quem confiava, em Quem esperava.
Depois da Ressurreição de Cristo toda a
esperança do cristão assenta no viver com Cristo ressuscitado, com Cristo
Eucaristia, na terra e no céu.
3º Crescer
em Caridade.
O cristão cresce activamente em Caridade
com actos de amor a Deus e de amor ao próximo.
A piedade é o
canal pelo qual flui o coração do homem nas suas relações com Deus.
A oração é
sempre um acto de Caridade com Deus, além de um acto de Fé e de Esperança.
No desejo de amar a Deus e ao próximo,
mandamentos em que se resume toda a lei e os profetas, não o esqueçamos, é onde
ocorre a conversão do cristão que chega a descobrir com o Apóstolo São Paulo
que «ainda que tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a
ciência e ainda que tenha tanta fé que mova montanhas, se não tenho caridade,
não sou nada» [3].
A Caridade transforma sempre.
Deus criou o
universo por Amor.
E no Amor, na
Caridade, a criação sustém-se em pé e converte-se em perene glória de Deus.
Cristo disse
de si próprio, como já recordámos, que tinha vindo «não para ser servido mas
para servir».
Conhecemos
também o que São João disse aos crentes:
«Não vos maravilheis,
irmãos, se o mundo vos aborrece. Sabemos que fomos trasladados da morte à vida
porque amamos os irmãos. O que não ama permanece na morte» [4].
O conceito supremo da Caridade está
recolhido nas palavras de Cristo: «amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» [5],
e em dar a vida pelos outros: «Nisto conhecemos a Caridade, em que Ele deu a
vida por nós e nós devemos dar as nossas vidas pelos nossos irmãos» [6].
E desse preceito surge o amar os
inimigos.
Deus ama a
todos, não é inimigo de ninguém.
Cristo perdoa
a todos e morre pela salvação de todos.
O cristão, ao
amar com o Coração de Cristo e como Cristo ama não pode ter nenhum outro ser
humano como inimigo.
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.