Tempo comum IX Semana
Evangelho:
Mc 12 35-37
35 Continuando a ensinar no templo, Jesus tomou a palavra e disse: «Como
dizem os escribas que o Cristo é filho de David? 36 O mesmo David
inspirado pelo Espírito Santo diz: “Disse o Senhor ao Meu Senhor: Senta-Te à
Minha direita, até que Eu ponha os Teus inimigos debaixo dos Teus pés”. 37
O próprio David, portanto, chama-Lhe Senhor; como é Ele, pois, seu filho?». A
numerosa multidão ouvia-O com gosto.
Comentário:
O
Senhor explica quanto a Ele próprio diz respeito. Fá-lo de forma clara com
perguntas cuja resposta encerram a verdade acerca da Sua Pessoa.
Mas,
além disso, com uma explanação lógica que não admite refutação.
E,
assim mesmo, o entendeu a numerosa multidão que o ouvia com gosto, segundo
relata o Evangelista.
(AMA, comentário
sobre Mc 12, 35-37, 2015.06.02)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
SEGUNDA PARTE
COMO SER CRISTÃOS
v o que é verdadeiramente uma conversão?
…/2
Todo o cristão adulto consciente das
suas misérias, dos seus pecados e do amor que Deus lhe tem, aceita humildemente
o convite de Cristo e põe em marcha dentro do seu espírito toda a riqueza da
conversão original e primeira com poderíamos chamar-lhe.
Arrepende-se: primeiro passo de qualquer
conversão.
Umas vezes
será o arrependimento por um pecado, outras por um desamor para com Deus,
noutras ocasiões a consciência da própria debilidade, da fragilidade, da falta
de generosidade nas quais não se descobre uma chamada de Deus.
O homem pode
sempre encontrar motivos para pedir perdão a Deus e voltar o seu coração para
Ele e, assim, amá-lo mais.
O arrependimento origina no arrependido
uma disposição mais profunda para descobrir a verdade e nela assentar o seu
espírito.
E origina-se
assim um segundo passo de qualquer conversão: Acreditai no Evangelho.
Neste processo o «acreditai no
Evangelho» podemos resumi-lo em acreditar em Cristo, que é «o caminho, a
verdade, a vida».
Acreditando em
Cristo, desenvolvendo a verdade que Cristo é «o Filho de Deus feito homem» o
cristão descobre a verdade que o constitui na sua realidade mais profunda: a
filiação divina.
To o cristão
consciente de ser «filho de Deus em Cristo» e consciente de necessitar do
perdão de Deus pode dizer que tem o rosto no Senhor, que está convertido em
Deus e para Deus.
Quando podemos dizer que há verdadeira
«conversão»?
Esta pergunta,
na realidade, ainda que possa responder-se dizendo que sempre que há
arrependimento e regresso a Deus há conversão, também pode revelar-se
desnecessária.
Porquê?
Simplesmente
porque toda a vida cristã – na medida em que é uma busca do reino de Deus – no
seu verdadeiro e profundo significado, é uma conversão contínua: tudo se «nos
dará por acrescento».
Pode haver momentos especialmente
assinalados mas não há-de ser necessariamente assim.
E sabemos que
o baptizado se converte em filho de Deus, ao receber a Graça, «certa
participação na vida divina».
Essa Graça é,
na realidade, uma nova vida – a vida cristã – que o baptizado, o cristão,
começa já a desenvolver desde o momento que a recebe.
E, ao mesmo
tempo, a plenitude da sua pessoa vai surgindo no âmbito dessa Graça.
Este é um
processo do qual talvez não sejamos de todo conscientes mas que alcança passo a
passo todas as facetas do nosso ser humano, sem nunca chegar a terminar
totalmente.
No homem o
humano vai-se tornando divino sem deixar de ser humano.
E não há no
homem nada divino que não seja ao mesmo tempo profundamente humano.
A «conversão» é um processo que há-de
ser sempre actual numa vida cristã pessoal em desenvolvimento e a razão está em
que toda a vida cristã tende para que cada crente possa dizer que Cristo vive
nele como horizonte último.
O «no cristão o viver em Cristo»
manifesta-se, por um lado e fundamentalmente, como já vimos na Primeira Parte,
no crescimento do homem na Fé, na Esperança e em caridade e, por outro lado,
quando no espírito do crente deitam raízes as disposições profundas com as
quais Cristo veio ao mundo e nos recomendou que sigamos.
São os sinais
inequívocos de que Ele vive no homem.
Poderíamos resumir essas disposições em
três: o espírito de «serviço», as virtudes da humildade e da mansidão e a
caridade.
Cristo expressou claramente estas
disposições referindo-as a si próprio e convidando o homem q que aprenda com
Ele:
«Não vim para ser servido, mas para
servir e dar a minha vida em redenção por muitos» [1].
«Aprendei de mim que sou manso e humilde
de coração» [2].
«Dou-vos um mandamento novo: amai-vos
uns aos outros como eu vos amei, nisso conhecerão que sois meus discípulos» [3].
Logicamente a conversão comporta uma
transformação contínua, uma mudança em cada pessoa que Deus não impõe à força e
que requer sempre a colaboração humana.
Aqui podemos
aplicar o dito de Santo Agostinho: «Deus que te criou sem ti não te salvará sem
ti» e cabe acrescentar que, logicamente, tampouco te converterá nem te mudará
sem ti.
É uma tarefa
que também requer uma acção conjunta de Deus e do homem.
O processo desta
«conversão-transformação» supõe portanto uma cooperação activa de cada crente
com a acção da Graça.
Deus sempre
respeita e cultiva a liberdade do homem.
Já consideramos a influência e o
significado da oração e da união com Cristo na Eucaristia e na celebração do
sacrifício da Missa no processo de conversão.
E examinámos,
também brevemente, o papel que joga neste processo o que normalmente se conhece
com o nome de direcção espiritual.
Vamos agora
examinar a cooperação activa que se requer do cristão além do esforço que já
consideramos para se aproximar mais de Cristo e permitir que a Graça se
desenvolva mais plenamente no seu espírito.
Poderíamos resumir esta cooperação num
decidido esforço que se desenvolve numa direcção dupla.
a) Para não se deixar vencer pelas
insídias do demónio que induz a cair em pecado
b) Para não se desviar do caminho para
Deus.
Em consequência, a conversa
comporta a necessidade de enfrentar de maneira adequada os obstáculos que o
cristão encontrará ao longo da sua vida: as tentações e as mortificações e
esclarecer o verdadeiro sentido da luta ascética.
vi motivo e
sentido das tentações
Normalmente
considera-se a tentação como uma mera incitação ao mal, ao pecado, um convite
ao cristão para que não se arrependa e para que não acredite.
E certamente essa realidade dá-se
em todas as tentações e, talvez de forma particular, na que considerámos ao
analisar o texto do Pai-nosso como a tentação básica: abandonar a procura do
Senhor, deixar de nos dirigir a Cristo, deixar de orar.
Parece
agora muito oportuno prestar atenção ao significado e aos efeitos positivos que
o cristão obtém na sua «conversão» ao lutar com as tentações.
Limitar-nos-emos
dentro dos objectivos deste livro, a assinalar o sentido da tentação sem entrar
na grande variedade de motivos, situações, formas e modos nos quais o cristão é
tentado.
Além disso, somos conscientes de
que por ser uma experiência normal na vida cristã nenhum leitor é alheio à
realidade existencial da tentação: soberba, orgulho, sensualidade, preguiça,
ira, falta de piedade, desespero, etc.
Porque
somos tentados?
«’O homem persuadido pelo Maligno,
abusou da sua liberdade desde o começo da história» [4].
Sucumbiu à tentação e cometeu o
mal.
Todavia, conserva o desejo do bem
mas a sua natureza tem a ferida do pecado original.
Ficou inclinado ao mal e sujeito ao
erro, bem consciente, por outro lado, que essa inclinação ao mal não o impede,
em absoluto, procurar e fazer o bem.
‘Daí que o homem esteja dividido no
seu interior.
Por isto toda a vida humana
singular ou colectiva aparece como uma luta certamente dramática entre o bem e
o mal, entre a luz e as trevas’ [5].
Já
assinalámos que ao viver com Cristo, o cristão se vai convertendo em Cristo, ao
espírito de Cristo que veio «não para ser servido mas para servir».
O
acto mais definitivo de serviço ao homem que Cristo leva a cabo é o «fazer-se
pecado».
São Paulo expressa-o de forma
inequívoca:
«Em nome de Cristo vos suplicamos:
reconciliai-vos com Deus! A quem não cometeu pecado, fê-lo pecado por nós para
que viéssemos a ser justiça de Deus nele» [6].
Feito
pecado, não feito pecador.
E, feito pecado Ele «que não
conheceu o pecado».
O que significa «feito pecado»?
É doutrina comum afirmara que
Cristo assumiu os pecados de todos os homens e se ofereceu na Cruz como
sacrifício expiatório por todos esses pecados [7].
Um
breve esclarecimento sobre estes termos.
A
alguns pagãos parece-lhes blasfémia afirmar que Deus se fez homem porque
consideram indigno da majestade de Deus ser homem.
A alguns cristãos parece-lhes
incompreensível afirmar que Cristo se fez pecado sem por isso deixar de ser
«santo, inocente e sem mancha» [8].
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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