Tempo comum X Semana
Sagrado Coração de Jesus
Evangelho:
Jo 19, 31-37
31 Os judeus, visto que era o dia da
Preparação, para que os corpos não ficassem na cruz no sábado, porque aquele
dia de sábado era de grande solenidade, pediram a Pilatos que lhes fossem
quebradas as pernas e fossem retirados. 32 Foram, pois, os soldados e quebraram
as pernas ao primeiro e ao outro com quem Ele havia sido crucificado. 33 Mas,
quando chegaram a Jesus, vendo que já estava morto, não Lhe quebraram as
pernas, 34 mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança e
imediatamente saiu sangue e água. 35 Quem foi testemunha deste facto o atesta,
e o seu testemunho é digno de fé e ele sabe que diz a verdade, para que também
vós acrediteis. 36 Porque estas coisas sucederam para que se cumprisse a
Escritura: “Não Lhe quebrarão osso algum”. 37 E também diz outro passo da
Escritura: “Hão-de olhar para Aquele a quem trespassaram”.
Comentário:
Nesta
figura do soldado que trespassa o Coração de Jesus podemos, não poucas vezes, ver-nos
a nós próprios.
Aquele
utilizou uma lança, nós fazemo-lo com os nossos pecados, tal como Nossa Senhora
disse em Fátima.
Talvez
a consideração deste facto nos ajude a tudo fazer para não nos colocar-mos
nesta situação.
(ama, comentário sobre Jo 19, 31-37, 2015.06.10)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
SEGUNDA PARTE
COMO SER CRISTÃOS
x sacerdócio comum dos fiéis
missão profética
…/2
O cristão secular, o leigo, leva a cabo
esta missão profética de mil formas diferentes: conversas com os amigos
aconselhando em situações que requerem uma orientação clara e cristã, dando catequese
em paróquias, em associações, em irmandades de todo o tipo, escrevendo não só
tratados directamente espirituais ou religioso, mas também escritos de qualquer
índole – novelas, poesias, obras de teatro, contos, relatos vários, artigos,
ensaios, nos quais a luz da criação, da redenção se manifestem sem por isso
perder o que seja da sua composição artística.
Em suma, todas as suas acções podem
converter-se em testemunho da Ressurreição de Cristo, de que Cristo vive
verdadeiramente nele, na sua vida, na sua família.
É preciso sublinhar também a força
apostólica, profética da piedade pessoal bem vivida: participação na Santa
Missa, a celebração dos sacramentos que põem em relevo a Fé, a Esperança e a
Caridade do crente.
E também da
piedade colectiva, de toda a manifestação de vida cristã dirigida ao louvor e
adoração de Deus: procissões, peregrinações, actos eucarísticos, etc.
E tampouco podemos esquecer o sentido
apostólico e profético do trabalho:
«O cristão
há-de ter fome de saber.
Desde cultivar
os saberes mais abstractos até às realidades artesãs, tudo pode e deve conduzir
a Deus.
Porque não há
tarefa humana que não seja santificável, motivo para a santificação própria e
ocasião para colaborar com Deus na santificação dos que nos rodeiam» [1].
Também temos de ressaltar a força
testemunhal do bom exemplo de vida cristã que todos os crentes podem dar nas
suas relações sociais: detalhes de caridade, de preocupação pelos outros, de
devolver a confiança nas pessoas, nas instituições, de lealdade no trabalho e
nos compromissos adquiridos, de não ajuizar nem murmurar.
Nós cristãos
temos de ser testemunhas da paz que Cristo deu aos seus Apóstolos ao
encontra-los depois da Ressurreição: semeadores de paz e alegria.
São Josemaria Escrivá resume assim esta
missão do cristão:
«Apóstolo é o
cristão que se sente enxertado em Cristo, identificado com Cristo pelo
Baptismo, habilitado a lutar por Cristo pela Confirmação, chamado a servir Deus
com a sua acção no mundo, pelo sacerdócio comum dos fiéis que confere alguma
participação no sacerdócio e Cristo que – sendo essencialmente diferente aquela
que constitui o sacerdócio ministerial – capacita para tomar parte no culto da
Igreja e para ajudar os homens no seu caminho para Deus, com o testemunho da
palavra e do exemplo, com a oração e com a expiação»[2]
.
missão real
A colaboração do homem convertido em
«filho de Deus em Cristo» e partícipe da vida, dos afãs, das missões de Cristo,
com os planos de Deus, não se apoia nele próprio, mas antes alcança toda a
sociedade humana, o conjunto dos filhos de Deus, o conjunto da humanidade.
Como?
A realeza, o
domínio de Cristo sobre o mundo está expresso nas palavras do Prefácio da Missa
de Cristo Rei que a Lumen gentium
recolhe no nr. 36:
«Também por
meio dos fiéis leigos, o Senhor deseja dilatar o seu reino: reino de verdade e de vida, reino de
santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz.
Um reino no
qual a própria criação será libertada da servidão da corrupção para participar
na glória dos filhos de Deus [3].
«Devem, portanto, os fiéis conhecer a
natureza íntima de todas as criaturas, o seu valor e a sua ordenação à glória
de Deus.
Inclusive nas
ocupações seculares devem ajudar-se mutuamente a uma vida mais santa, de tal
forma que o mundo se impregne do espírito de Cristo e alcance o seu fim com
maior eficácia na justiça, na caridade e na paz» (…).
«Igualmente coordenem os leigos as suas
forças para sanear as estruturas e os ambientes do mundo quando incitem ao
pecado, de forma que todas estas coisas sejam conformes às normas da justiça e
antes favoreçam que obstaculizem a prática das virtudes.
Obrando deste
modo, impregnarão de valor moral a cultura e as relações humanas.
Simultaneamente com este proceder prepara-se melhor o campo do mundo para a
sementeira da palavra divina e à Igreja mais se lhe abrem de par em par as
portas pelas quais introduzir no mundo a mensagem de paz».
A missão
real que o cristão há-de desenvolver recorda-lhe que em todo o seu viver na
terra há-de unir na terra as duas verdades que Cristo manifestou a propósito do
Reino dos Céus:
O homem, o cristão, o santo estão
chamados a colaborar com Deus Pai, Filho e Espírito Santo para que a vida na
terra seja na verdade um começo da vida no céu: um começo e um caminho porque
em todas as suas actuações a graça esteja vigente, que já está actuando na
terra e permanecerá sempre no céu: a Caridade na Liberdade realizada na
Verdade.
O cristão consegue levar a cabo esta
missão na medida em que impregne todo o seu actuar de Caridade e transmita em
todos os lugares e ambientes do seu viver o «bom aroma de Cristo».
Como pode ser
isto?
A vida de Fé, de Esperança, de Caridade
e o desenvolvimento das Virtudes facilitam que as tendências e os anseios do
homem respondam à acção do Espírito Santo.
Assim,
provocam no ser humano a conversão de que falámos.
Essa
conversão, como também indicámos, torna possível que no espírito do homem se
vão assentando firmemente as disposições que Cristo expressou de si próprio e
que guiam todo o desenvolvimento do seu labor, e que já anteriormente lembrámos
ao referir-nos à conversão contínua, que é a vida cristã.
Estas disposições são fundamentalmente três:
- «Aprendei de Mim que Sou manso e humilde de coração» [6].
- «Não vim para ser servido mas para servir e dar a vida em redenção de
muitos» [7].
- «Dou-vos um mandamento novo que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos
amei, amai-vos também uns aos outros» [8].
Disposições que podemos considerar
originadas no «Espírito Santo que foi derramado nos nossos corações» e que
portanto têm a sua origem na Caridade, no Amor de Deus.
Tendem a fazer
crescer na alma a Caridade, o amor de Deus e tronam possível que o actuar do
cristão manifeste a Caridade, o Amor de Deus.
Cristo reina servindo: «Não vim para ser
servido mas para servir» e oferecendo a todos a Redenção alcançada na Cruz: «a
dar a vida em redenção de muitos» [9].
E assim, os cristãos com a sua vida, o
seu trabalho, com a sua amizade, com o seu amor e com o seu sacrifício
colaboram com Cristo na redenção do mundo.
São Josemaria Escrivá
deixou-o escrito com palavras claras e expressivas:
«Não
me cansarei de repetir, portanto, que o mundo é santificável, que a nós,
cristãos, essa tarefa nos toca especialmente, purificando-o das ocasiões de
pecado com que os homens o desfiguramos e oferecendo-o ao Senhor como hóstia
espiritual apresentada e dignificada coma graça de Deus e com o nosso esforço.
Em
rigor, não se pode dizer que haja realidades nobres exclusivamente profanas uma
vez que o Verbo se dignou assumir uma natureza humana íntegra e consagrar a
terra com a sua presença e com o trabalho das suas mãos.
A
grande missão que recebemos no Baptismo é a coredenção.
Urge-nos
a Caridade de Cristo para tomar sobre os nossos ombros uma parte dessa tarefa
divina de resgatar as almas» [10].
E não só na vida pessoal do cristão.
O
crente vive em comunhão com os outros homens e, de uma forma mito especial, em
comunhão com todos os baptizados em Cristo na Igreja, a comunhão de santidade e
de vida alcança todos os humanos.
Com
efeito, não existem realidades afastadas do amor de Deus, da providência de
Deus.
O cristão tem a missão de fazer com que
essa marca de Deus no mundo seja respeitada e ao mesmo tempo querida, amada,
seguida em plena liberdade.
A
dignidade da pessoa humana, a defesa da vida e da família, a afirmação da
liberdade com as condições que os cristãos hão-de tratar que todos os homens
possam viver em qualquer situação.
E esta tarefa levada a cabo com a palavra,
com o exemplo, com o testemunho da vida de Cristo em cada cristão, dará frutos
de paz e de caridade na sociedade.
É
uma verdade que talvez nós cristão tenhamos de repetir mais amiúde: que os
verdadeiros transformadores da sociedade – mais que «revolucionários – são os
santos que dirigem todas as suas potências humanas ao serviço do amor entre os
homens como o Poder divino está ao serviço do Amor Misericordioso de Deus aos
homens.
Desta
fora o reinado de Cristo será real e completo:
«Pois é vontade de meu Pai que todo o que
veja o Filho e acredite nele tenha a vida eterna e eu o ressuscite no último
dia» [11].
«E, quando tudo lhe estiver sujeito então
o próprio Filho estará submetido Àquele que submeteu a Ele todas as coisas,
para que Deus seja tudo em todas as coisas» [12].
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
[1]
são josemaria escrivá, Es cristo que passa, n. 10
[2]
são josemaria escrivá, Es cristo que passa, n. 120
[3]
Cfr. Rom 8, 21
[4]
Jo 18, 36
[5]
Lc 17, 21
[6]
Mt 11, 29
[7]
Cfr Mt 20, 28
[8]
Jo 13, 34
[9]
Cfr Mt 20, 28
[10]
são josemaria escrivá, Es cristo que passa, n. 120
[11]
Jo 6, 40
[12]
1 Cor 15, 28
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