Tempo comum X Semana
Santo Anjo da Guarda de Portugal
Evangelho:
Lc 2, 8-14
8 Naquela mesma região, havia uns pastores que velavam e
faziam de noite a guarda ao seu rebanho. 9 Apareceu-lhes um anjo do
Senhor e a glória do Senhor os envolveu com a sua luz e tiveram grande temor. 10
Porém, o anjo disse-lhes: «Não temais, porque vos anuncio uma boa nova, que
será de grande alegria para todo o povo: 11 Nasceu-vos hoje na
cidade de David um Salvador, que é o Cristo, o Senhor. 12 Eis o que
vos servirá de sinal: Encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa
manjedoura». 13 E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da
milícia celeste louvando a Deus e dizendo: 14 «Glória a Deus no mais
alto dos céus, e paz na terra aos homens, objecto da boa vontade de Deus».
Comentário:
Aprendemos do Anjo de
Portugal esta oração tão singela e, ao mesmo tempo, de extraordinário alcance.
Mais… de actualidade que
espanta!
«Meu Deus, eu creio, adoro, espero
e amo-vos; peço-vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não
Vos amam».
As ofensas a Deus Nosso
Senhor só podem ser reparadas com a nossa oração constante e desagravadas com
os sacrifícios que, a exemplo dos Pastorinhos, voluntariamente façamos e,
também, dos oferecimentos quer de obras boas quer das próprias dificuldades e
“tormentas” que nos deparem na vida de todos os dias.
(ama, comentário sobre Lc 2, 8-14, 2014.06.10)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
SEGUNDA PARTE
COMO SER CRISTÃOS
ix as virtudes
Para que tendem as virtudes?
…/2
Todo o bem conduz ao Bem, toda a acção
boa só pode ter origem na Caridade, com maior ou menor profundidade, com maior
ou menor enraizamento, e, além disso, move o espírito a continuar a procura do
bem.
De facto, um
dos efeitos das virtudes é sustentar a vontade na intenção do fim recto das
suas acções.
Vivendo essa
procura do bem nos actos concretos das potências humanas unida à procura da
verdade nas coisas e nas pessoas, o ser humano acaba por descobrir, num
primeiro momento, a sombra da presença de Deus na criação, na liberdade dos
outros seres humanos, depois, a sombra dirige-o pra a origem da luz e, da luz,
termina descobrindo o próprio Deus pessoal.
Podemos aplicar aqui as palavras de
Jesus aos Apóstolos quando ao informá-lo que tinham descoberto um homem que
expulsava os demónios e lho proibiram porque «não era da nossa companhia» o
Senhor lhes disse que o deixassem actuar porque «quem não está contra vós está
convosco» [1].
Portanto, podemos afirmar que as
virtudes naturais humanas vão abrindo no espírito do homem a perspectiva da Fé,
da Esperança e da Caridade.
***
Deixamos de lado a Fé, a Esperança e a
Caridade que na realidade superam os limites do conceito virtual ainda que
sejam conhecidas sob o título de virtudes
teologais, porque provêm de Deus, para Deus tendem, por Deus são sustentadas
de Deus falam e para Deus dirigem o homem, e as que já tratámos e detemos a
nossa atenção nas chamadas virtudes
cardeais que manifestam como a Graça alimenta o desenvolvimento da vida
pessoal cristão e evidencia a vida de Cristo no cristão.
Estas virtudes são quatro: Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança.
E
chamam-se-lhes cardeais porque «dispõem todas as potências do ser humano para
se harmonizarem com o amor divino» [2].
Compreende-se
que vejamos já estas virtudes não como uma simples perfeição humana da pessoa,
mas como uma realização cristã do homem que via tornando possível que toda a
acção do crente seja ao mesmo tempo humana e divina.
«A prudência é a virtude que dispõe a
razão prática a discernir em qualquer circunstância o nosso verdadeiro bem e a
eleger os meios rectos para o realizar (…).
É a prudência
que guia directamente o juízo de consciência» [3].
«A justiça é a virtude moral que
consiste na constante firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é
devido» [4].
«A fortaleza é a virtude moral que
assegura a firmeza e a constância da procura do bem no meio das dificuldades.
Reafirma a
resolução de resistir às tentações e superar os obstáculos na vida moral
A virtude da
fortaleza torna capaz de vencer o temor, inclusive a morte, e fazer frente às
provas e perseguições» [5].
«A temperança é a virtude moral que
modera a atracão dos prazeres e procura o equilíbrio do uso dos bens criados.
Assegura o
domínio da vontade sobre os instintos e mantem os desejos nos limites da
honestidade» [6].
Com estas virtudes, como podemos
comprovar, a inteligência e a vontade adquirem, por um lado, clareza de visão
e, por outro, a capacidade de decisão para que a pessoa consiga actuar em harmonia
com o fim natural-sobrenatural que Deus deseja para o homem: «conhecê-lo,
amá-lo e servi-lo nesta terra e gozar para sempre com Ele no céu».
Como breve exemplo da livre actuação do
homem cristão enxertado em Cristo por acção do Espírito Santo e que vive por
Cristo, com Cristo, em Cristo podemos assinalar que a vinculação com a Fé, a
Esperança e a Caridade torna possível que as quatro virtudes cardeais adquiram
o seu verdadeiro sentido e finalidade.
Fazemos este breve comentário utilizando
textos de São Josemaria Escrivá um autor que penetrou profundamente na realidade
da presença divina nas presenças humanas quotidianas e normais.
A Fé permite que a inteligência actue
com Prudência ao torna-la capaz de conhecer a verdade de Deus.
A verdadeira
prudência é a que permanece atenta às insinuações de Deus e nessa escuta
vigilante recebe na alma promessas e realidades de salvação» [7].
A Caridade dá o seu verdadeiro sentido à
justiça e à temperança.
«Justiça é dar a cada um o seu mas eu
acrescentaria que isto não basta.
Por muito que
cada uma mereça, há que dar-lhe mais porque cada alma é uma obra-prima de Deus.
A melhor
caridade é exceder-se generosamente na justiça, caridade que costuma passar
inadvertida mas que é fecunda no Céu e na terra» [8].
E a razão do assinalado parece clara.
Se a justiça
supõe dar a cada um o que «lhe é devido» e o Senhor nos indica que devemos
amar-nos uns aos outros «como Eu vos amei», seria impossível viver a verdadeira
justiça sem a Caridade.
O «mandamento novo»
que Cristo proclamou antes da sua Paixão e confirmou definitivamente depois da
Ressurreição ilumina até aos últimos rincões da natureza humana as suas
tendências, os seus impulsos, as suas sensações.
«É um equívoco pensar que as expressões meio-termo ou justo termo, como algo característico das virtudes morais,
significam mediocridade algo assim como que a metade do que é possível realizar.
Esse meio
entre o excesso e o defeito é um cume, um ponto álgido., o melhor que a
prudência indica.
Por outro
lado, as virtudes teologais não admitem equilíbrios: não se pode acreditar,
esperar, o amar demasiado.
E essa amor a
Deus em limites reverte sobre os que nos rodeiam em abundância de generosidade,
de compreensão, de caridade» [9].
A Caridade também torna o homem capaz de
viver a temperança e ajuda-o a descobrir «onde estão os seus verdadeiros bens».
Quando se
vence a tentação de se deixar levar pelo que alguns chamam «impulsos naturais»
e que tendem a uma afirmação indiscriminada dos sentidos externos do homem,
«então a vida recobra os matizes que a intemperança espalha, está-se em
condições de se preocupar com os outros, de partilhar o próprio com todos, de
dedicar-se a tarefas grandes» [10].
E a Esperança sustém o cristão na
fortaleza que necessita para manifestar o seu amor a Deus e aos homens em todas
as circunstâncias do seu viver e em manter-se firme no meio das tormentas de
cada dia que nunca faltarão na vida do cristão, na vida de qualquer homem.
Como?
Abrindo a sua
memória, a sua inteligência à segurança da presença de Deus, da proximidade de
Cristo e do Espírito Santo na realidade da vida quotidiana.
O exemplo dos mártires de Fortaleza
sustentada na Fé e na Esperança que pessoas frágeis e débeis de carácter
viveram no martírio acompanhou a história da Igreja e acompanhá-la-á até ao fim
dos tempos.
A fortaleza é especialmente necessária
para perseverar na obra de santificação que Deus deseja realizar em cada
criatura e que só é possível quando a paciência – sinal claro da fortaleza
esperançada – se une à magnanimidade.
Então o homem
aberto à graça divina descobre a proximidade de Nosso Senhor Jesus Cristo e
pode dizer com o salmista: «se se levantam contra mim os meus inimigos não
temerei, não se amedrontará o meu coração» [11].
«Magnanimidade: ânimo grande, alma ampla
na qual cabem muitos.
É a força que
nos dispõe a sair de nós mesmos para preparar-nos para empreender obras
valiosas em benefício de todos.
A tacanhez não
aninha no ânimo do magnânimo, não medeia mesquinhez, nem o cálculo egoísta, nem
o enredo interessado.
O magnânimo
dedica sem reservas as suas forças ao que vale a pena por isso é capaz de
entregar-se.
Não se
conforma com dar: dá-se.
E então
consegue entender a maior mostra de magnanimidade: Dar-se a Deus» [12].
***
O exercício
das virtudes manifesta o enraizamento da Graça na pessoa humana e vai tornado
visível o grau de conversão do homem cristão e do cristão em santo, ao mesmo
tempo essa conversão leva o cristão a descobrir o verdadeiro sentido da sua
missão na terra, da sua participação com Cristo na Redenção e na santificação
do mundo.
São Pedro expressou-o com palavras
inefáveis: «Ao aproximar-nos dele, pedra viva desprezada pelos homens mas
eleita e preciosa diante de Deus, também vós, como pedras vivas, sois edificados
como edifício espiritual para um sacerdócio santo com o fim de oferecer
sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por meio de Jesus Cristo, (…)
Vós sois
linhagem eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido em propriedade
para anunciar as maravilhas daquele que vos chamou das trevas à Sua luz
admirável» [13].
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
[1]
Lc 9, 50
[2]
Catecismo, n. 1804
[3]
Catecismo, n. 1806
[4]
Catecismo, n. 1807
[5]
Catecismo, n. 1808
[6]
Catecismo, n. 1809
[7]
São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus,
n. 87
[8]
São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus,
n. 83
[9]
São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus,
n. 83
[10]
São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus,
n. 84
[11]
Sal 26 (27) 3
[12]
São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus,
n. 80
[13]
1 Pd 2, 4-5, 9
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