10/06/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual (A beleza de ser cristão)


  
Tempo comum X Semana


Santo Anjo da Guarda de Portugal

Evangelho: Lc 2, 8-14

8 Naquela mesma região, havia uns pastores que velavam e faziam de noite a guarda ao seu rebanho. 9 Apareceu-lhes um anjo do Senhor e a glória do Senhor os envolveu com a sua luz e tiveram grande temor. 10 Porém, o anjo disse-lhes: «Não temais, porque vos anuncio uma boa nova, que será de grande alegria para todo o povo: 11 Nasceu-vos hoje na cidade de David um Salvador, que é o Cristo, o Senhor. 12 Eis o que vos servirá de sinal: Encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura». 13 E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste louvando a Deus e dizendo: 14 «Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens, objecto da boa vontade de Deus».

Comentário:

Aprendemos do Anjo de Portugal esta oração tão singela e, ao mesmo tempo, de extraordinário alcance.

Mais… de actualidade que espanta!

«Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos; peço-vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam».

As ofensas a Deus Nosso Senhor só podem ser reparadas com a nossa oração constante e desagravadas com os sacrifícios que, a exemplo dos Pastorinhos, voluntariamente façamos e, também, dos oferecimentos quer de obras boas quer das próprias dificuldades e “tormentas” que nos deparem na vida de todos os dias.

(ama, comentário sobre Lc 2, 8-14, 2014.06.10)


Leitura espiritual




a beleza de ser cristão

SEGUNDA PARTE

COMO SER CRISTÃOS



ix as virtudes


Para que tendem as virtudes?

…/2
       
        Todo o bem conduz ao Bem, toda a acção boa só pode ter origem na Caridade, com maior ou menor profundidade, com maior ou menor enraizamento, e, além disso, move o espírito a continuar a procura do bem.
De facto, um dos efeitos das virtudes é sustentar a vontade na intenção do fim recto das suas acções.
Vivendo essa procura do bem nos actos concretos das potências humanas unida à procura da verdade nas coisas e nas pessoas, o ser humano acaba por descobrir, num primeiro momento, a sombra da presença de Deus na criação, na liberdade dos outros seres humanos, depois, a sombra dirige-o pra a origem da luz e, da luz, termina descobrindo o próprio Deus pessoal.

        Podemos aplicar aqui as palavras de Jesus aos Apóstolos quando ao informá-lo que tinham descoberto um homem que expulsava os demónios e lho proibiram porque «não era da nossa companhia» o Senhor lhes disse que o deixassem actuar porque «quem não está contra vós está convosco» [1].

        Portanto, podemos afirmar que as virtudes naturais humanas vão abrindo no espírito do homem a perspectiva da Fé, da Esperança e da Caridade.


***


        Deixamos de lado a Fé, a Esperança e a Caridade que na realidade superam os limites do conceito virtual ainda que sejam conhecidas sob o título de virtudes teologais, porque provêm de Deus, para Deus tendem, por Deus são sustentadas de Deus falam e para Deus dirigem o homem, e as que já tratámos e detemos a nossa atenção nas chamadas virtudes cardeais que manifestam como a Graça alimenta o desenvolvimento da vida pessoal cristão e evidencia a vida de Cristo no cristão.

        Estas virtudes são quatro: Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança.
E chamam-se-lhes cardeais porque «dispõem todas as potências do ser humano para se harmonizarem com o amor divino» [2].
Compreende-se que vejamos já estas virtudes não como uma simples perfeição humana da pessoa, mas como uma realização cristã do homem que via tornando possível que toda a acção do crente seja ao mesmo tempo humana e divina.

        «A prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir em qualquer circunstância o nosso verdadeiro bem e a eleger os meios rectos para o realizar (…).
É a prudência que guia directamente o juízo de consciência» [3].

        «A justiça é a virtude moral que consiste na constante firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido» [4].

        «A fortaleza é a virtude moral que assegura a firmeza e a constância da procura do bem no meio das dificuldades.
Reafirma a resolução de resistir às tentações e superar os obstáculos na vida moral
A virtude da fortaleza torna capaz de vencer o temor, inclusive a morte, e fazer frente às provas e perseguições» [5].

        «A temperança é a virtude moral que modera a atracão dos prazeres e procura o equilíbrio do uso dos bens criados.
Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantem os desejos nos limites da honestidade» [6].

        Com estas virtudes, como podemos comprovar, a inteligência e a vontade adquirem, por um lado, clareza de visão e, por outro, a capacidade de decisão para que a pessoa consiga actuar em harmonia com o fim natural-sobrenatural que Deus deseja para o homem: «conhecê-lo, amá-lo e servi-lo nesta terra e gozar para sempre com Ele no céu».

        Como breve exemplo da livre actuação do homem cristão enxertado em Cristo por acção do Espírito Santo e que vive por Cristo, com Cristo, em Cristo podemos assinalar que a vinculação com a Fé, a Esperança e a Caridade torna possível que as quatro virtudes cardeais adquiram o seu verdadeiro sentido e finalidade.

        Fazemos este breve comentário utilizando textos de São Josemaria Escrivá um autor que penetrou profundamente na realidade da presença divina nas presenças humanas quotidianas e normais.

        A Fé permite que a inteligência actue com Prudência ao torna-la capaz de conhecer a verdade de Deus.
A verdadeira prudência é a que permanece atenta às insinuações de Deus e nessa escuta vigilante recebe na alma promessas e realidades de salvação» [7].

        A Caridade dá o seu verdadeiro sentido à justiça e à temperança.

        «Justiça é dar a cada um o seu mas eu acrescentaria que isto não basta.
Por muito que cada uma mereça, há que dar-lhe mais porque cada alma é uma obra-prima de Deus.
A melhor caridade é exceder-se generosamente na justiça, caridade que costuma passar inadvertida mas que é fecunda no Céu e na terra» [8].

        E a razão do assinalado parece clara.
Se a justiça supõe dar a cada um o que «lhe é devido» e o Senhor nos indica que devemos amar-nos uns aos outros «como Eu vos amei», seria impossível viver a verdadeira justiça sem a Caridade.
O «mandamento novo» que Cristo proclamou antes da sua Paixão e confirmou definitivamente depois da Ressurreição ilumina até aos últimos rincões da natureza humana as suas tendências, os seus impulsos, as suas sensações.

        «É um equívoco pensar que as expressões meio-termo ou justo termo, como algo característico das virtudes morais, significam mediocridade algo assim como que a metade do que é possível realizar.
Esse meio entre o excesso e o defeito é um cume, um ponto álgido., o melhor que a prudência indica.
Por outro lado, as virtudes teologais não admitem equilíbrios: não se pode acreditar, esperar, o amar demasiado.
E essa amor a Deus em limites reverte sobre os que nos rodeiam em abundância de generosidade, de compreensão, de caridade» [9].

        A Caridade também torna o homem capaz de viver a temperança e ajuda-o a descobrir «onde estão os seus verdadeiros bens».
Quando se vence a tentação de se deixar levar pelo que alguns chamam «impulsos naturais» e que tendem a uma afirmação indiscriminada dos sentidos externos do homem, «então a vida recobra os matizes que a intemperança espalha, está-se em condições de se preocupar com os outros, de partilhar o próprio com todos, de dedicar-se a tarefas grandes» [10].

        E a Esperança sustém o cristão na fortaleza que necessita para manifestar o seu amor a Deus e aos homens em todas as circunstâncias do seu viver e em manter-se firme no meio das tormentas de cada dia que nunca faltarão na vida do cristão, na vida de qualquer homem.
Como?
Abrindo a sua memória, a sua inteligência à segurança da presença de Deus, da proximidade de Cristo e do Espírito Santo na realidade da vida quotidiana.

        O exemplo dos mártires de Fortaleza sustentada na Fé e na Esperança que pessoas frágeis e débeis de carácter viveram no martírio acompanhou a história da Igreja e acompanhá-la-á até ao fim dos tempos.

        A fortaleza é especialmente necessária para perseverar na obra de santificação que Deus deseja realizar em cada criatura e que só é possível quando a paciência – sinal claro da fortaleza esperançada – se une à magnanimidade.
Então o homem aberto à graça divina descobre a proximidade de Nosso Senhor Jesus Cristo e pode dizer com o salmista: «se se levantam contra mim os meus inimigos não temerei, não se amedrontará o meu coração» [11].

        «Magnanimidade: ânimo grande, alma ampla na qual cabem muitos.
É a força que nos dispõe a sair de nós mesmos para preparar-nos para empreender obras valiosas em benefício de todos.
A tacanhez não aninha no ânimo do magnânimo, não medeia mesquinhez, nem o cálculo egoísta, nem o enredo interessado.
O magnânimo dedica sem reservas as suas forças ao que vale a pena por isso é capaz de entregar-se.
Não se conforma com dar: dá-se.
E então consegue entender a maior mostra de magnanimidade: Dar-se a Deus» [12].


***



O exercício das virtudes manifesta o enraizamento da Graça na pessoa humana e vai tornado visível o grau de conversão do homem cristão e do cristão em santo, ao mesmo tempo essa conversão leva o cristão a descobrir o verdadeiro sentido da sua missão na terra, da sua participação com Cristo na Redenção e na santificação do mundo.

        São Pedro expressou-o com palavras inefáveis: «Ao aproximar-nos dele, pedra viva desprezada pelos homens mas eleita e preciosa diante de Deus, também vós, como pedras vivas, sois edificados como edifício espiritual para um sacerdócio santo com o fim de oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por meio de Jesus Cristo, (…)
Vós sois linhagem eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido em propriedade para anunciar as maravilhas daquele que vos chamou das trevas à Sua luz admirável» [13].


(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)







[1] Lc 9, 50
[2] Catecismo, n. 1804
[3] Catecismo, n. 1806
[4] Catecismo, n. 1807
[5] Catecismo, n. 1808
[6] Catecismo, n. 1809
[7] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 87
[8] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 83
[9] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 83
[10] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 84
[11] Sal 26 (27) 3
[12] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 80
[13] 1 Pd 2, 4-5, 9

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