Art.
6 — Se as relíquias dos santos devem de algum modo ser adoradas.
O sexto discute-se assim – Parece que
as relíquias dos santos de nenhum modo devem ser adoradas.
1. Pois não devemos fazer nada que
seja ocasião de erro. Ora, adorar as relíquias dos mortos parece constituir um
erro dos gentios, que prestavam honorificência aos mortos. Logo, não devemos
honrar as relíquias dos santos.
2. Demais. — É estulto adorar uma coisa
insensível. Ora, as relíquias dos santos são insensíveis. Logo, é estulto
venerá-las.
3. Demais. — O corpo morto não é da
mesma espécie que o vivo, e por consequência não é numericamente idêntico a
ele. Logo, parece que depois da morte de um santo, não lhe devemos adorar o
corpo.
Mas, em contrário, Genádio: Cremos sincerissimamente, que devem ser
honrados os corpos dos santos e sobretudo os dos santos mártires. E depois
acrescenta: Quem não o admitir não é
considerado Cristão, mas Eumoniano e Vigilanciano.
Como diz Agostinho, se as
vestes paternas, um anel ou coisas semelhantes tanto mais queridas são dos
filhos, quanto maior o afecto que tinham pelos pais, de modo nenhum devemos
desprezar o corpo que nos é muito mais familiar e muito mais unido, do que
qualquer roupa que usemos; pois, o corpo pertence à própria natureza humana. Donde
é claro, que quem tem afecto por outrem venera-lhe também o que dele resta,
depois da morte; e não só o corpo ou partes do corpo, mas também alguns bens
exteriores, como as vestes e outros semelhantes. Ora, é manifesto que devemos
venerar os santos de Deus, como membros de Cristo, filhos e amigos de Deus e
nossos intercessores, Por isso, devemos venerar-lhes as relíquias, com a honra
devida, em memória deles; e sobretudo os seus corpos, que foram os templos e os
órgãos do Espírito Santo; que neles habitou e operou, e hão-de assemelhar-se ao
corpo de Cristo pela glória da ressurreição. Por isso, o próprio Deus honra
convenientemente essas relíquias, fazendo milagres na presença delas.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A razão de Vigilância, cujas palavras são citadas por Jerónimo no livro que
contra ele escreveu, é a seguinte: Vemos
introduzido, diz, a pretexto de religião,
o costume mais ou menos igual ao dos Gentios, de adorar, beijando-os, não sei
que pósinhos encerrados num vaso envolto em pano precioso. Contra o que diz
Jerónimo: Afirmo que não adoramos as
relíquias dos Mártires como não adoramos o sol nem a lua nem os anjos, isto é,
com adoração de latria. Mas, honramos as relíquias dos mártires, para adorarmos
aquele a quem eles pertenceram; honramos os servos, para que a honra, a eles
tributada redunde para o Senhor. Assim, pois, honrando as relíquias dos
santos, não incidimos no erro dos Gentios, que prestavam culto de latria aos
mortos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Não adoramos o
corpo insensível, em si mesmo, mas por causa da alma, que lhe esteve unida e
que agora frui de Deus; e por causa de Deus, de que foram os ministros.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O corpo de um
santo morto não é numericamente idêntico ao de quando vivia, por causa da
diversidade da forma, que é a alma; mas, é-lhe idêntico pela identidade da
matéria, que deve de novo unir-se à sua forma.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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