28/05/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual (A beleza de ser cristão)



Tempo comum VIII Semanas

Evangelho: Mc 10 46-52

46 Chegaram a Jericó. Ao sair Jesus de Jericó, com os Seus discípulos e grande multidão, Bartimeu, mendigo cego, filho de Timeu, estava sentado junto ao caminho. 47 Quando ouviu dizer que era Jesus Nazareno, começou a gritar: «Jesus, Filho de David, tem piedade de mim!». 48 Muitos repreendiam-no para que se calasse. Mas ele cada vez gritava mais forte: «Filho de David, tem piedade de mim!».49 Jesus, parando, disse: «Chamai-o». Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Tem confiança, levanta-te, Ele chama-te». 50 Ele, lançando fora a capa, levantou-se de um salto e foi ter com Jesus. 51 Tomando Jesus a palavra, disse-lhe: «Que queres que te faça?». O cego respondeu: «Rabboni, que eu veja!». 52 Então Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou». No mesmo instante recuperou a vista, e seguia-O no caminho.

Comentário:

Nas asas da imaginação, voo ao encontro desta cena e “meto-me nela”:

Jesus recém-chegado olha para mim e repete a pergunta que fez a Timeu: «Que queres que te faça?»

Fico-me sem palavras como que atordoado e, no meu íntimo vou preparando a resposta:

Eu, Senhor, quero que me faças... e... nada me sai, eu, miserável, não consigo lembrar-me de uma única coisa que deva pedir.
Como o tempo passa e Jesus está ali, à espera da minha resposta, faço um esforço e digo-lhe:

Senhor, eu quero que me faças... tudo!

(ama, meditação sobre Mc 10, 46-52, 2011.03.03)

Leitura espiritual

  1.  

a beleza de ser cristão

SEGUNDA PARTE

COMO SER CRISTÃOS

II A ORAÇÃO




características gerais da oração

…/4
       


o pai nosso


       
        Faça-se a tua Vontade na terra como no céu.

        Com estas palavras que podemos considerar com as anteriores como uma só tri9pla petição unimo-nos em corpo e alma ao desejo de Deus Pai, Filho e Espírito Santo na criação, na redenção e na santificação do homem: «que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» [1]; e rogamos que esse anseio se realize.

        São Paulo diz-nos que «Deus nos deu a conhecer o mistério da Sua Vontade segundo o benévolo desígnio que se propôs e antemão… fazer com que tudo tenha Cristo por Cabeça… a ele por quem entrámos em herança, eleitos de antemão segundo o desígnio prévio do que tudo realiza conforme e a decisão da sua Vontade’ [2].
Pedimos com insistência que se realize plenamente este desígnio de benevolência na terra como já acontece no Céu» [3].

        Esta é a «Vontade de Deus» que no Pai-nosso pedimos que se realize.
E a este propósito parece necessário um esclarecimento.
       
Por vezes considera-se «vontade de Deus» com a perspectiva de um certo «fatalismo», como se Deus quisesse tudo quanto acontece na terra.
Deixando de lado qualquer tipo de acontecimentos naturais, desde um terramoto até às doenças e limitando-nos agora a considerar as acções dos homens, podemos claramente dizer que essa perspectiva não é verdadeira.

        A vontade de Deus é o bem, não o mal.
Nenhum homem que comete um pecado pode dizer que, se peca, é por vontade de Deus e que se Deus não quisesse ele não pecaria.

        Na realidade e em relação com as acções do homem pode estabelecer-se que Deus quer, permite, suporta e padece.

        Quer toda a boa acção que o homem leva a cabo em plena liberdade, permite as acções livres do homem que comportem uma ofensa a Ele, uma ofensa a outros homens; suporta o mal que o homem realiza contra Deus e contra o seu próximo; e padece o sofrimento dos que sofrem o mal feito por outros homens.

        Isto, logicamente, unido a que Deus pode e quere retirar algum bem de qualquer má acção que o homem leve a cabo na terra.
E essa é também a sua «vontade».
Com esta petição o cristão une-se ao mais profundo anseio de Deus, «que quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» [4].


***

       
        «Mediante as três primeiras petições somos confirmados na fé, colmatados na esperança e acesos na caridade.
Todavia como criaturas e pecadores devemos pedir para nós um «nós» que abarca o mundo e a história que oferecemos ao amor sem medida do nosso Deus.
Porque o nosso Pai cumpre o seu pleno de salvação para nós e para o mundo inteiro por meio do Nome de Cristo e do Reino do Espírito Santo» [5].

        Com efeito a nossa Fé assenta na Paternidade de Deus e reafirma-se na sua Transcendência e proximidade, a nossa Esperança prende as suas raízes na presença já em nós do Reino de Cristo e na sua vinda definitiva na vida eterna.; a nossa Caridade movida pelo Espírito Santo que é «Deus em nós» que torna possível a nossa oração acende-se no acto mais completo que o homem pode levar a cabo de amor a Deus: unir-se à Vontade de Deus no abandono total da oração, da adoração.

        Na primeira parte do Pai-nosso a mente e o coração do cristão apoiam-se em Deus e descobrem nele o seu amor aos homens e a perspectiva do seu próprio viver.

        Na segunda parte solicita a Deus tudo quanto precisa para poder levar a cabo o projecto que Deus tem para ele.

        Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia.

        - A confiança em Deus unida à convicção que o desejo de Deus de que nós homens partilhemos toda a Sua Glória levam o cristão a formular esta solicitude que é uma manifestação de esperança confiante e abandonada na Providência de Deus Pai.

        A petição nem se concretiza nem se limita às necessidades materiais, culturais, espirituais que todos os homens sentem e tratamos de resolver.
Ao referir-nos ao nosso pão de cada dia apresentamos ante Deus o nosso desejo de receber dele tudo quanto necessitamos para a nossa santificação, para que a nossa vida corra sempre na Sua companhia, para que a Sua glória se realize em nós, ainda que sem saber muito bem do que se trata e o que vamos receber.
É um acto de abandono confiado em Deus, um acto cheio de caridade, de esperança, de fé.

        Um bandono fruto de que a afirmação do Senhor - «o meu alimento é fazer a vontade de meu Pai»  [6] - se enraizou no espírito do crente.
E neste sentido já os Padres aplicaram «o pão de cada dia» à Eucaristia.
O Catecismo, n. 2837, recolhe estas palavras de Santo Agostinho:
«A Eucaristia é o nosso pão quotidiano. A virtude própria deste alimento é uma força de união: une-nos ao Corpo de Salvador e faz de nós seus membros para que venhamos a ser o que recebemos» [7].

        Perdoa-nos a nossas ofensas como também nós perdoamos aso que nos ofendem.

        - Até agora as petições feitas a Deus levam o homem directamente a colocar no Senhor a sua fé, a sua esperança, a sua caridade.

        As palavras que agora dirigimos são um rogo para libertar-nos do pecado e das suas consequências no espírito, para que assim libertados possamos preparar o nosso coração para receber todas as graças que Deus queira dar-nos.

        Estas palavras não significam simplesmente que desejamos ser perdoados por Deus como nós perdoamos aos outros.
Somos demasiado conscientes da dificuldade que todos vivemos para perdoar e da pequenez do nosso perdão.
Podemos compreender mais plenamente o seu sentido entendendo-as como uma oferta a Deus do nosso coração aberto ao perdão para que derrame em nós a riqueza do seu coração misericordioso, que tenha a alegria de ver a Redenção recebida por todos.
E só assim aprenderemos também a perdoar.

        Não nos deixeis cair na tentação.

        - Não rogamos ao Senhor que afaste de nós qualquer tentação, mas sim que não nos deixe cair em nenhuma.
«Deus que não é tentado pelo mel nem tenta ninguém» [8], quer sempre livra-nos do mal.

        A tentação forma parte de todo o nosso caminhar cristão na terra e assim será até ao fim dos dias de cada homem.
A razão parece clara: se ao viver com Cristo a nossa vida é redenção, a vitória sobre o pecado leva a suportar a carga que Ele suportou, «fazer-nos pecado» de modo semelhante como Cristo «se fez Pecado» [9], para redimir-nos a todos.
Sofrendo nós a tentação e vencendo-a com a ajuda da Graça, Cristo vence em nós e connosco o pecado que nos tenta e actualiza constantemente a sua obra redentora.

        A tentação não é só nem sequer principalmente um convite a pecar, a actuar contra Deus,
È antes uma oportunidade para que o cristão pedindo ajuda ao Senhor cresça em amor, em caridade e se una mais vitalmente a Deus.

        Essa ajuda de Deus não falta.
São Paulo recorda-no-lo com clareza: «Não sofrestes provação superior à medida humana. E fiel é Deus que não permitirá que sejais atentados para além das vossas forças, Antes, com a tentação, vos dará o modo de lhe poder resistir com êxito» [10].

        Também podemos mencionar que ao rogar ao Senhor que não nos deixe acir na tentação, em particular, estamos pedindo especialmente não cair na tentação que impediria toda a vida cristã: a tentação de não rezar, de não dirigir o nosso coração, a nossa mente a Deus.
Essa é com efeito a grande tentação do cristão porque deixar de rezar implicaria cortar a relação com Deus, não viver em amizade com Ele, não se deixar guiar pelo Espírito Santo e, por conseguinte, afogar na alma todas as raízes da Fé, da Esperança, da Caridade.




(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)






[1] 1 Tim2, 4
[2] Ef, 1 9-11
[3] Catecismo, n. 2832
[4] 1 Tm 2, 4
[5] Catecismo, n. 2806
[6] Jo 4, 34
[7] San Agustiín, Sermón, 57, 7, 7
[8] St 1, 13
[9] Cor 5, 21
[10] 1 Co 10, 13

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