Semana VI da Páscoa
Evangelho:
Jo 16 23-28
23
Naquele dia, não Me interrogareis sobre nada. «Em verdade, em verdade vos digo
que, se pedirdes a Meu Pai alguma coisa em Meu nome, Ele vo-la dará. 24 Até
agora não pedistes nada em Meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa
alegria seja completa. 25 «Disse-vos estas coisas em parábolas. Mas vem o tempo
em que não vos falarei já por parábolas, mas vos falarei abertamente do Pai. 26
Nesse dia pedireis em Meu nome, e não vos digo que hei-de rogar ao Pai por vós,
27 porque o próprio Pai vos ama, porque vós Me amastes e acreditastes que saí
do Pai. 28 Saí do Pai e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo e vou para o
Pai».
Comentário:
A alegria!
Nestes tempos conturbados, nós,
filhos de Deus, temos der ter bem presentes estas palavras de Cristo.
Para que a nossa alegria seja completa temos de pedir a Deus o que necessitamos e, Ele, nos dará o que nos fizer falta e, sobretudo, for para nosso bem.
E não é verdade que quem obtém o que pede fica feliz e contente?
Não deixemos que as dificuldades sejam quais forem condicionem a nossa vida.
Para ser santos, que é o que
desejamos, temos de ser alegres porque não há santidade sem alegria.
(ama, comentário sobre Jo 16, 23-28, 2013.05.11)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
xiv -o espírito das bem-aventuranças
…/2
Por vezes podemos cair na tentação de
considerar a em Cristo, o viver com Cristo, como «algo» acrescentado à nossa
vida como ma «carga» que enriquece a nossa capacidade humana natural ou como
uma «limitação» que Deus pôs sobre nós.
Uma «carga» que ainda que sendo suave e
ligeira, supõe para o homem principalmente uma obrigação nem sempre fácil de
levar a cabo e por vezes até carente de um sentido segundo o nosso ponto de
vista.
E uma
«limitação» da qual não se compreende o sentido como se Deus pretendesse evitar
o desenvolvimento natural da natureza humana como se a vida Graça fosse uma
limitação à vida da natureza.
Nenhuma dessas considerações corresponde
à realidade.
A vida da
Graça que já sabemos em que consiste, está enxertada na vida natural do homem e
ao enxertar-se não se converte nem numa carga nem numa limitação.
A vida da
Graça origina o desenvolvimento da riqueza recebida na natureza humana
enriquecida pelo enxerto da participação na natureza divina.
A natureza do
homem crescia preparada para receber o enxerto e não poderia culminar do seu
desenvolvimento sem a nova seiva.
A vida das Bem-Aventuranças é a
manifestação de o enxero foi eficaz de que produziu fruto.
As palavras do próprio Cristo depois de
enunciar as Bem-Aventuranças abrem outros horizontes para a compreensão das
modalidades dessa nova vida de que Ele se vai apresentar-se-nos como exemplo
vivo.
A vida que se
expressa nas Bem-Aventuranças manifesta que o homem natural se converteu em
homem cristão.
«Vós sois o sal da terra». «Vós sois a
luz do mundo», diz o Senhor aos Seus discípulos.
E não se
limita a uma simples afirmação antes sublinha a importância de que entendam
claramente os que lhes quer dizer.
«Vós
sois o sal da terra». Mas se o sal se desvirtua com que se salgará? Já não
serve para mais nada que para ser atirado fora e ser pisado pelos homens» [1].
O Senhor
simplesmente sublinha a importância de O seguir, a importância que a nova vida
nela deite raízes no espírito dos seus discípulos?
A perspectiva que Cristo quer abrir na
mente e no coração dos homens amplia-se ainda mais se lemos as palavras que a
seguir pronuncia reforçando o que disse: «Vós sois a luz do mundo. Uma cidade
situada no cimo de um monte não pode estar oculta. Nem tampouco se acende uma
lâmpada para a colocar debaixo de um alqueire mas sim sobre o candelabro para
que alumie todos os que estão em casa. Brilhe assim a vossa luz diante dos
homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está
nos céus» [2].
Jesus Cristo afirmou de Si próprio que
«enquanto estou no mundo sou a luz do mundo» [3].
Na realidade
Cristo está sempre no mundo portanto nunca deixa de ser a «luz do mundo».
Uma vez
ascendido ao Céu continua estando na terra na Eucaristia e em todos os
Sacramentos e associa os seus discípulos convertidos pela vida das
Bem-Aventuranças à sua missão de desterrar as trevas da terra.
E fá-lo convertendo-os também em luz do
mundo.
Como?
Continua vivendo
neles pela acção da Graça nos Sacramentos.
Essa graça
move os discípulos a levar a cabo todas as suas acções na terra: piedade,
trabalho, vida de família, relações sociais, políticas, culturais, etc., com
Cristo, por Cristo, em Cristo vivendo o espírito das Bem-Aventuranças.
Esse desejo do Senhor de nos associar à
sua missão permite-nos afirmar que Deus conta connosco que quis «ter
necessidade do homem», para que u «seu» sal jamais falte na terra, para que a
«sua» luz não diminua nem se apague no mundo.
Só a vida das Bem-Aventuranças se
converte em vida do cristão, ou melhor, só se o cristão se converte na vida das
Bem-Aventuranças poderá ser realidade na pessoa de cada cristão audacíssima – e
tão recordada – afirmação de São Paulo «vivo mas já não sou eu que vive mas
Cristo que vive em mim» [4].
Ao longo da história da Igreja entre os
diferentes escritores espirituais e comentadores bíblicos abundaram as
diferentes interpretações sobre o sentido real de cada uma das
Bem-Aventuranças.
Nem todos
entenderam da mesma forma o significado de «pobre de espírito». O que implica
ser «manso», a quem se refere o Senhor quando fala de «os que têm fome e sede
de justiça», et.
Esta variedade
enriqueceu a compreensão de cada Bem-Aventurança.
Por outro lado alguns autores trataram,
e tratam, estabelecer relações entre as Bem-Aventuranças e os Dons do Espírito
Santo.
Somente por
curiosidade assinalamos os vínculos eu Santo Agostinho sugere entre umas e
outros:
A Bem-Aventurança dos pobres de espírito
com o Dom do Temor de Deus;
A dos mansos com o dom de piedade;
A dos que choram e dom de ciência,
A dos que têm fome e sede de justiça com
o dom de fortaleza;
A dos misericordiosos e o dom de conselho;
A dos limpos de coração e o dom de
entendimento;
A dos pacíficos com o dom de sabedoria.
A oitava Bem-Aventurança vem a ser a consumação e a perfeição das outras
sete.
Por tudo quanto temos vindo a assinalar nestas páginas e nos capítulos
anteriores podemos agora afirmar que cada uma das Bem-Aventuranças é fruto da
Graça e da acção do Espírito Santo na alma do crente.
E isto de tal
forma que chegar a viver a vida das Bem-Aventuranças é a consequência do
crescimento da acção conjunta da Fé, da Esperança e da Caridade.
A Fé, a Esperança e a Caridade
constituem e manifestam – como já consideramos – a dimensão cristã da pessoa,
dimensão sempre sustentada pelas capacidades da natureza humana: inteligência,
memória e vontade.
As chamadas
três virtudes teologais verificam-se amorosamente entrelaçadas em cada acto
humano-cristão, com predomínio de uma e de outra segundo os casos, como
acontece no obrar humano-natural, que requer o concurso,
Nem sempre proporcionalmente igual, da
inteligência, da memória e da vontade.
De forma semelhante também podemos
assinalar que todos os Dons do Espírito Santo influem e cada acção do cristão,
fortificando e enriquecendo a Fé, a Esperança e a Caridade.
o sentido de cada bem-aventurança
Com estes pressupostos e esclarecimentos,
temos de entrar agora na breve exposição do sentido de cada Bem-Aventurança
para tratar de conseguir uma visão mais precisa na medida parcial que cada um
de nós, da vida que a «nova criatura em Cristo Jesus» está chamada a viver,
pode alcançar.
Na esperança que possam constituir ajuda
para uma melhor compreensão assinalo algumas passagens do Evangelho em que Cristo
nos dá exemplo da cada Bem-Aventurança.
E ao mesmo
tempo sublinharemos a acção de uma das três Virtudes Teologais em viver cada
Bem-Aventurança sem esquecer a acção conjunta das três.
Em concreto quem podemos considerar como
pobres de espírito?
Os que são
conscientes das limitações que a sua condição de criaturas e de que a vida e
todas as qualidades de que se vêm enriquecidos são dons gratuitos de Deus.
E com essa
consciência que se manifesta num coração contrito e humilde, reza confiadamente
a Cristo pedindo-lhe pelas suas necessidades e alegrando-se ao dirigirem-se ao
seu Pai Deus.
Cristo dá-nos exemplo deste viver «pobre
de espírito» quando reza e agradece ao Pai que o escute: «Pei dou-te graças
porque me escutaste, eu sei que me escutas sempre» [5].
Também quando
sublinha a sua «dependência» do Pai: «porque não falei por mim mas sim pelo Pai
que me enviou, mandou-me o que tenho de dizer e falar e eu sei que o seu
mandamento é vida eterna. Por isso, as palavras que digo, digo-as como o Pai as
disse a mim» [6].
Nesta Bem-Aventurança podemos sublinhar
o predomínio da acção da Fé.
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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