Semana VI da Páscoa
Evangelho:
Jo 15 26 – 16 4
26 Quando, porém, vier o
Paráclito, que Eu vos enviarei do Pai, o Espírito da verdade, que procede do
Pai, Ele dará testemunho de Mim.
16
4 Ora Eu disse-vos estas
coisas para que, quando chegar esse tempo, vos lembreis de que vo-las disse.
Não vos disse isto, porém, desde o princípio, porque estava convosco.
Comentário:
Compreendemos que Jesus Cristo não
podia revelar todas as coisas aos Seus discípulos porque bem sabia que as suas
capacidades não abrangeriam tal vastidão de conhecimentos.
O Espírito Santo se “encarregaria” de o
fazer de forma integral e completa.
Como nós, homens, também vamos
conhecendo gradualmente ao longo da nossa vida terrena as verdades da nossa Fé
e, com a assistência do mesmo Espírito Santo, sempre presente na nossa alma em
Graça, a compreensão dessas mesmas verdades.
(ama, comentário sobre Jo 15, 26; 16, 4, 2015.04.27)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
XII perspectiva da
Redenção
B) a redenção
aceite pelo homem
Ao verificar o
que comporta a Vida que Cristo nos oferece não podemos deixar de fazer algumas
perguntas.
É possível uma conversão plena de uma
criatura a Deus?
É possível que uma criatura esteja plena
e integralmente dedicada a Deus?
Que significa e o que supõe, em
plenitude, amar a Deus com todo o coração, com toda a mente, com todas as
forças?
É possível que todo o actuar do homem
seja ao mesmo tempo divino e humano?
Trataremos de ir dando respostas ao longo das páginas seguintes
especialmente da Segunda Parte.
São Paulo ao mesmo tempo que recorda a Lei aos Coríntios e lhe manifesta a
perspectiva da Redenção dá-lhe bons ensinamentos que abrem o caminho à
esperança de chegar a viver a vida de Cristo.
Juntamente com as suas claras afirmações de não ter nada que remorda a
consciência ante Deus, reconhece a sua luta, os seus esforços para conseguir o
prémio e converter-se e convida os coríntios a imitar o seu exemplo.
«Não sabeis que nas corridas no estádio todos correm mas só um recebe o
prémio?
Correi de tal modo que o alcanceis.
Os atletas privem-se de tudo, eles para alcançar uma coroa corruptível,
nós, em troca, por uma incorruptível.
Eu corro (…) não como dando golpes no vazio, mas antes golpeio o meu corpo
e submeto-o à servidão, não seja que, tendo pregado aos outros, seja eu
reprovado».[i]
A conversão – originada no arrependimento, que analisaremos detidamente
mais adiante – e a plenitude de vida cristã é algo muito pessoal de cada
criatura.
O próprio Cristo quer viver e vive realmente com cada ser humano.
Deus quer que cada homem O receba no seu pensamento – fé -, na sua vida –
caridade -, na sua história – esperança -, para que cada homem possa referir-se
a Ele não só como Deus mas também como “meu Deus” e que toda a vida de cada
homem seja na verdade «vida e obra de Deus».
Essa é a tarefa de enxertar a Redenção no homem que é a verdadeira obra do
Espírito Santo na pessoa do crente, tarefa que nunca se concluirá.
A morte alcançará o cristão movido pela fé, pela caridade, pela esperança,
na missão de se converter em «filho de Deus em Cristo».
XIII os
mandamentos da lei de deus
Como posso orientar a minha vida no
caminho de desenvolver a «participação na natureza divina», a Graça, que está
enraizada na minha própria vida?
Consciente da vida divina que palpita no
seu espirito é lógico que o cristão se faça essa pergunta.
Já em páginas anteriores – cap VII e X –
assinalámos que ssa vida da Graça torna possível no homem que a Fé, a Esperança
e a Caridade se instalem e enraízem nele.
Cabe-nos agora descobrir como na prática
se manifesta essa vida, coo pode o cristão dizer no fundo da sua alma que vive
de Fé, de Esperança, de Caridade ou que pelo menos está tentando fazê-lo.
Entre os motivos da Encarnação o Catecismo
recolhe o de Cristo ser «modelo e exemplo da nova criatura».
Enxertado nem Cristo o cristão vive a
vida de Cristo.
Se o ser cristão fica reflectido na Fé,
na Esperança, na Caridade, que actuar reflectira a realidade da nova criatura
em Cristo?»
A resposta é clara: os Mandamentos da
Lei de Deus vividos com o no espírito - «como Eu vos amei» - que Cristo trouxe:
o espírito da Bem-Aventuranças.
O próprio Cristo deu a resposta a esta
pergunta quando afirmou:
«Quem me ama cumpre os meus mandamentos»[ii]
O vínculo do amor a Deus do viver em
Deus e com Deus, em obedecer-lhe e seguir os seus mandamentos está desde o
princípio claramente expressa na Escritura.
Jesus Cristo sublinha este vínculo pouco
depois no mesmo capítulo de São João quendo ante a pergunta de Judas Tadeu:
«Senhor, que aconteceu que vais manifestar-te a nós e não ao mundo»?, responde:
«Se alguém me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará e viremos a ele e
nele faremos morada».[iii]
Se acrescentarmos a estas frases a
consideração que Ele próprio faz acerca do cumprimento da Lei:
«Não penseis que vim abolir a Lei e os
Profetas. Não vim abolir mas sim dar cumprimento»,[iv]
podemos tirar algumas conclusões para descobrir o verdadeiro sentido do
Mandamentos na vida da «nova criatura» do cristão.
Está muito disseminada entre os crentes
que os Mandamentos vêm a ser uma simples lista de obrigações imposta por Deus
ao homem para dessa forma reforçar a sua autoridade sobre o homem.
Do cumprimento ou desobediência dessas
obrigações dependeria a salvação ou o castigo eterno.
Vejamos agora o profundo e primordial
significado dos Mandamentos.
Ao convocar Moisés para estabelecer a
aliança com Israel Yahvé recorda:
«Se escutardes atentamente a minha voz e
observardes a minha Aliança sereis minha especial propriedade estre todos os
povos, um reino de sacerdotes, um povo santo».[v]
Cristo, em fazer «novas todas coisas»;[vi]
«se alguém está em Cristo é nova criatura. O antigo passou: tudo foi feito de
novo», introduz a novidade do Espírito das Bem-Aventuranças que completam o
sentido dos Mandamentos da Antiga Lei para os filhos de Deus em Cristo Jesus, o
novo povo de Deus.
Contemplados com esta perspectiva
podemos afirmar que os Mandamentos são uma manifestação palpável do amor de
Deus pelos homens, orientações para que os homens não percam o caminho para o
Céu, obscurecido no seu coração depois do pecado e iluminado de novo na
Encarnação e na Eucaristia.
A mais preclara natureza dos Mandamentos
é a de serem canais pelos quais há-de transcorrer o nosso viver cristão,
caminhos que temos de percorrer na interminável conversão a Deus que é a vida
do homem.
No viver os Mandamentos tornam-se
realidade na alma do crente as palavras de São Paulo:
«O amor é a plenitude da Lei».[vii]
Cristo não veio à terra somente para nos
transmitir umas verdades, um conjunto de doutrina.
A Sua missão não se esgota em ser
«Mestre», um educador de multidões.
Quer comunicar-nos a vida divina e quer
também que a vivamos com Ele e que gozemos em vivê-la: os Mandamentos são o
modo em que essa vida se manifesta e o canal para a viver, e as
Bem-Aventuranças o espírito com o qual essa vida há-de ser vivida.
Cristo vive a vida do homem e
descobre-nos o seu amor em fazer-se igual a nós em tudo excepto no pecado.
Aa Encarnação é fruto do amor que a
Santíssima Trindade tem ao homem, nesse amor, Cristo aproxima-se vital e
intimamente dos homens no desejo que alcancem descobrir nele o «aroma de Deus»
e ao mesmo tempo transmitir – se se podem empregar estas palavras – ao seio da
Trindade a realidade concreta do «aroma do homem», tergiversado e degradado
pelo pecado.
Nesta perspectiva, os Mandamentos são
provas do amor de Deus, que não deixa o homem sozinho na tarefa de desenvolver
a vida sobrenatural cristã.
E compreende-se que ao cumpri-los o
homem manifeste sem barreiras o amor que tem a Deus.
Ao mesmo tempo esse cumprimento é uma
mostra palpável do verdadeiro triunfo de Deus no homem porque o homem jamais
poderia conseguir viver esses Mandamentos com as suas próprias forças.
Ao vivê-los recobra a pela confiança em
Deus e confiando ama verdadeiramente a Deus: a medida que o homem «guarda a
doutrina» de Cristo o homem é consciente que a doutrina se converte em vida.
Mais, que a doutrina é manifestação de
vida e convite
à Vida: «o Pai amá-lo-á e iremos a ele e habitaremos nele».[viii]
à Vida: «o Pai amá-lo-á e iremos a ele e habitaremos nele».[viii]
O Amor de Deus ao homem originou os
Mandamentos, o amor do homem a Deus torna possível que se vivam na terra.
E não só.
Ao vivê-los alcançamos pelo menos
vislumbrar algo do amor que Deus nos tem porque ao viver na nossa alma o Pai, o
Filho e o Espírito Santo fazem-nos participar da visão com que Deus contempla o
mundo e o amor com que olha sua criatura predilecta, àquela criatura, única que
amou por si mesma, o homem.
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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