Semana VI da Páscoa
Evangelho:
Jo 17 11-19
11 Já não estou no
mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para Ti. Pai Santo, guarda em Teu nome
aqueles que Me deste para que sejam um, assim como Nós. 12 Quando Eu estava com
eles, os guardava em Teu nome. Conservei os que Me deste; nenhum deles se
perdeu, excepto o filho da perdição, cumprindo-se a Escritura. 13 Mas agora vou
para Ti e digo estas coisas, estando ainda no mundo, para que eles tenham em si
mesmos a plenitude da Minha alegria. 14 Dei-lhes a Tua palavra, e o mundo
odiou-os, porque não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. 15 Não peço
que os tires do mundo, mas que os guardes do mal. 16 Eles não são do mundo,
como Eu também não sou do mundo. 17 Santifica-os na verdade. A Tua palavra é a verdade.
18 Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo. 19 Por
eles Eu santifico-Me a Mim mesmo, para que também sejam santificados na
verdade.
Comentário:
Na história da salvação
humana avulta o mistério de Judas Escariotes «o filho da perdição» como Jesus o identifica.
Como se explica a sua
escolha, entre tantos, como um dos Doze?
O Senhor, que conhece o
coração dos homens e os seus mais recônditos pensamentos e inclinações, não
podia ter escolhido outro que não viesse a revelar-se um traidor mesquinho?
Mesquinho não por ter
vendido o Mestre por quantia tão escassa - a traição não tem preço - mas por
ter enganado até ao último momento, e com um beijo, Aquele que o tinha como
amigo.
Cristo podia ter escolhido
outro.
Mas, note-se que Judas não
foi o único a traí-lo, Pedro também jurou não conhecer o Mestre!
Assim se vêm duas coisas:
a primeira que Jesus não faz acepção de pessoas; a segunda que a todos dá
iguais oportunidades de perseverar na fidelidade ou no arrependimento.
Talvez por isso, nos
escolheu a nós, fracos e pusilânimes, para Seus seguidores e para levar-mos a
outros as Suas Palavras de Vida Eterna.
(ama, comentário sobre Jo 17, 11-19, 2012.05.23)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
XII perspectiva da
Redenção
A)
a redenção que cristo nos oferece
…/2
O cristão, e já o esclarecemos ao falar da Graça, não vive da recordação de
uma gesta gloriosa levada a cabo por Jesus de Nazareth, vive a própria vida de
Cristo na terra e num tempo que a Ele corresponde converter em eternidade,
usando os anos, os dias que se lhe concederam.
Vivendo a vida de Cristo por e na acção da Graça, o cristão encarna a
«redenção objectiva» obtida por Jesus Cristo e, por estes meios, a «redenção
objectiva» é chamada a alcançar a plenitude da sua eficácia em cada ser humano
até ao fim dos tempos
Vivendo no seu espírito, melhor, na plenitude do seu ser pessoal, a
Ressurreição de Cristo, o homem converte o passado em presente e enxerta-se na
eternidade.
O Catecismo expressa assim este mistério:
«Quando chegou a sua hora viveu o único acontecimento da história que não
passa: Jesus morre, é sepultado, ressuscita de entre os mortos e senta-se à
direita do Pai de uma vez por todas.
É um acontecimento real acontecido na nossa história mas absolutamente
singular: todos os outros acontecimentos sucedem uma vez e logo passam e são
absorvidos pelo passado.
O mistério pascal de Cristo, pelo contrário, não pode permanecer somente no
passado pois a sua morte destruiu a morte e tudo o que Cristo é e tudo o que
fez e padeceu pelos homens participa da eternidade divina e assim domina todos
os tempos e neles se mantem permanentemente presente.
O acontecimento da Cruz e da Ressurreição permanece e atrai tudo à Vida»[i]
A vertente divina da obra redentora de Cristo – dar a Deus toda a glória e
tornar possível que a criação possa de novo voltar a adorar o Criador – tem um lado humano correspondente.
«Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti», recorda-nos Santo
Agostinho.
Esta necessária colaboração do homem não se refere, todavia, à simples
disponibilidade para ser redimido ou à simples decisão de liberdade humana de
acolher a redenção oferecida por Cristo.
Estes passos são necessários mas não suficientes.
Requer-se que o homem viva a própria vida de Cristo, a vida de Deus que
Cristo nos traz e nos oferece na sua Encarnação.
B)
a redenção aceite pelo homem
O homem não pode apropriar-se da
Redenção e torna-la sua pela sua própria vontade ou por uma simples decisão do
seu espírito.
Por outro lado Deus não impõe a
Redenção ao homem de forma semelhante a como lhe impõe a vida.
Não podemos dizer que o homem está
«obrigado a viver a aceitar a Redenção.
E ao mesmo tempo o homem foi criado
e realiza-se plenamente ao aceitar viver a Redenção.
A Redenção não é um prémio que Deus
entrega nas mãos dos homens, nem sequer é essa veste branca que autoriza a
entrar sem sobressaltos no banquete nupcial.
Já vimos que a Redenção não se
limita a libertar-nos externamente do pecado nem a pôr à nossa disposição um
caminho, um exemplo, como um ideário de virtudes e de boas acções que tornem a
nosaa pessoa mais grata a Deus: Cristo faz-nos partícipes da natureza divina,
ao redimir-nos oferece-nos viver a vida de Deus.
E ao fazê-lo coloca a sua esperança
em que a aceitemos e vivamos por Ele, com Ele e nele.
A Redenção que Cristo nos oferece
não é portanto uma simples libertação do pecado e da morte.
É viver com Ele a sua Cruz
redentora e a sua Ressurreição gloriosa para que a nossa vida na Sua e com a
Sua seja redenção – co-redenção – ao mesmo tempo que nos convertemos em
testemunhas da Sua Ressurreição.
É a vida de Cristo em nós o que nos
faz ser gratos a Deus.
Cristo quis ser um com cada um de
nós [ii]
e assim converter-nos em «novas criaturas». Fazer-nos portadores dele, viver a
nossa aventura humana e divina connosco e, ao mesmo tempo, manifestar-se ao
mundo em cada um de nós já convertidos em «filhos de Deus em Cristo Jesus».
Como pode o homem viver a vida de
Deus?
Cristo dá-nos a sua vida e uma vez
recebida em nós o Espírito Santo fá-la frutificar se não pomos o obstáculo do
pecado.
Cristo transmite-nos a vida divina
nos Sacramentos e assim torna possível que a Sua presença pessoal na Graça
comunique a cada a cada cristão a sua Redenção.
A Igreja é o garante de que esses
sacramentos – o tesouro da vida de Cristo, o próprio Cristo feito vida e
alimento para a nossa vida cristã – cheguem íntegros e possam ser participados
por todos os que creem em Cristo e
acreditaram no Filho de Deus feito homem até ao final dos tempos.
O homem aceita pessoalmente
mediante um acto de fé a Redenção que Cristo lhe oferece.
Esse acto de Fé livre – ainda que o conteúdo desse acto de Fé
naõ seja de todo claro e determinado, se o fosse não seria realmente um acto de
fé – o homem vincula-se com o mistério de Deus que vislumbra em Cristo e no
qual anseia viver.
O acto de fé do homem une-se ao
desejo de Deus de contar de novo com a criatura feita à sua imagem e semelhança
e se manifesta aberto aos planos redentores e santificadores do Senhor.
Na Fé o homem recupera toda a
confiança no Criador, confiança perdida no pecado no paraíso.
E amando com a Caridade a Quem sem
conhecer plenamente vislumbra na Fé aceita a nova vida que Deus lhe oferece.
Nessa aceitação Deus faz-se
familiar do homem e o homem descobre em Deus o sentido de todas as suas obras:
o mundo adquire um significado e todas as palavras de Deus transmitem ao homem
a plenitude do sentido da sua vida.
Este breve resumo pretende ser uma
visão que corresponda à estrutura constituída da vida cristã do homem, da sua
história salvífica: criação, redenção, santificação.
Criação do homem, encarnação de
Deus, acto redentor de Cristo (morte e ressurreição), manifestação do Espírito
Santo.
A Graça enxerta-se na alma e faz
germinar nas nossas faculdades humanas as virtudes teologais infusas: a Fé na
inteligência, abrindo-a definitivamente à Verdade plena nesse raio de luz pelo
qual se conhece a Deus, a Esperança na memória, no viver temporal histórico do
homem abrindo o horizonte da perspectiva humana para a vida eterna; e a
Caridade na vontade que permite ao homem amar em toda a criação a obra de Deus
como Deus a ama.
Deus põe um raio do amor com o qual
Ele se ama e o homem pode amar a Deus de forma semelhante a como Deus se ama a
Si próprio.
A Graça engendra na vida cristã que
se manifesta na Fé, na Esperança e na Caridade e que se desenvolve ao ritmo dos
Dez Mandamentos vividos segundo o espírito das Bem-Aventuranças que
consideraremos a seguir.
Adianto somente que na perspectiva
da vida cristã que estamos seguindo temos de ver estes Mandamentos
principalmente não como um conjunto de regras e de leis mas como oq
verdadeiramente são: um canal pelo qual transcorre sereno e tranquilo o viver
cristão no meio de conversões, de lutas e de alegrias, de quedas e de
ressurreições.
A vinda de Deus à alma anunciada
por Cristo: «viremos a ele e faremos nele morada» [iii]
é a introdução do ser humano na vida da eternidade de Deus para a qual foi
criado, da eternidade no tempo, como Cristo viveu, e ao mesmo tempo, é o
cumprimento da espera no tempo para voltar a tomar posse do que desde a origem
lhe pertence.
A Redenção enxerta-se na história
pessoal de cada homem de tal forma que todo o interior desse enxerto perde
sentido e significado.
São Paulo não cessa de o recordar
em quase todas as suas cartas:
«Porque nem a circuncisão nem a
incircuncisão são algo mas a nova criação» [iv]
«Porquanto se alguém está em Cristo
é nova criação. O velho passou. Olhai, tudo fica renovado. E tudo é obra de
Deus o qual nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o
ministério da reconciliação»[v]
«Ao passo que com os impulsos do
Espírito Santo vos renovais na vossa mente e vos revestis do homem novo, o que
é segundo Deus, criado em justiça, em verdade e em santidade»[vi]
«Não mintais uns aos outros.
Despojai-vos do homem velho com as suas obras. Revesti-vos do homem novo que se
vai renovando até alcançar um conhecimento perfeito segundo a imagem do seu
Criador, porque não há grego e judeu, circuncisão ou incircuncisão, bárbaro,
escita, escravo, liberto mas sim Cristo que é tudo e em todos».[vii]
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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