Semana IV da Páscoa
Evangelho:
Jo 13 16-20
16 Em verdade, em verdade vos digo: o
servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado é maior do que aquele que
o enviou. 17 Já que compreendeis estas coisas, bem-aventurados sereis se as praticardes.
18 «Não falo de todos vós; sei os que escolhi; porém, é necessário que se
cumpra o que diz a Escritura: “O que come o pão comigo levantará o seu
calcanhar contra mim”. 19 Desde agora vo-lo digo, antes que suceda, para que,
quando suceder, acrediteis que “Eu sou”. 20 Em verdade, em verdade vos digo
que, quem recebe aquele que Eu enviar, a Mim recebe, e quem Me recebe, recebe
Aquele que Me enviou».
Comentário:
Com as mesmas
palavras e termos com que o Pai Se identificou
a Moisés no episódio da sarça ardente, assim
Jesus Se identifica a Si próprio querendo significar de modo iniludível que é
igual ao Pai.
Não há declaração mais definitiva, não podem restar quaisquer dúvidas nos que O escutam com boa vontade e são critério.
(ama,
comentário sobre Jo 13, 16-20 2014-05-15)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
O QUE É SER CRISTÃO?
I.
Relações que Deus estabelece com o homem.
…/16
Deus
falou face a face com Adão no paraíso. Deus Uno e Trino manifesta-se-nos na
terra, no imediatismo da realidade de carne, na Pessoa de Jesus Cristo Deus. Na
nova criação, e para que possamos viver com Ele a nossa realidade de ser
«filhos de Deus”, Deus quer manter essa proximidade com o homem; e uma
proximidade mais íntima que a vivida no Paraíso.
Depois
da Redenção, essa proximidade só se pode dar em Cristo Jesus, pessoalmente, em
e com a Pessoa de Cristo.
As
palavras do Evangelho de São João são muito claras: «Jesus disse em voz alta: O
que crê em Mim, não crê em Mim, mas sim naquele que me enviou. E o que me vê a Mim vê aquele que me enviou”.[i]
Mais
adiante, sublinha, ante a petição de Filipe que lhe mostre o Pai: «Filipe, há
tanto tempo que estou convosco, e não me conheceste? Quem me viu a mim, também,
viu o Pai”.[ii]
Não
poderão ver o Pai os que não tenham contemplado na terra o rosto de Cristo?
Não
poderão conversar com o Pai os que não tenham trocado palavras com Cristo nos
caminhos da terra?
Porquê
esta afirmação tão concreta do Catecismo?
A
resposta é clara: Jesus Cristo institui a Eucaristia; e na Eucaristia, Ele está
sempre presente connosco, para continuara caminhando também connosco, com cada
um de nós, e ajudar-nos a descobrir o Pai. «Na Eucaristia, a glória de Cristo
está encoberta (…).
Todavia, precisamente através do mistério do
seu total ocultamento, Cristo faz-se mistério de luz, graças ao qual, o crente
se vê introduzido nas profundidades da vida divina” [iii].
E
na Eucaristia, Cristo realiza as suas palavras no espírito do crente: «Essa é a
vida eterna: que te conheçam a ti, o único e verdadeiro Deus, e aquele que tu
enviaste, Jesus, o Messias”.[iv]
Na
Eucaristia, o cristão «vê” o rosto de Cristo, troca palavras com o próprio
Cristo.
Desta
forma, considerada a nova vida que Deus Doa aos homens, depois da Encarnação e
da Redenção a Eucaristia é «fonte cume de toda a vida cristão”.[v]
«Os
outros sacramentos, como também todos os ministérios eclesiais e as obras de
apostolado, estão unidos na Eucaristia e a ela se ordenam. A sagrada
Eucaristia, com efeito, contem todo o bem espiritual da Igreja, quer dizer, o
próprio Cristo, nossa Páscoa” [vi].[vii]
Sem
a Eucaristia não seriamos verdadeiramente cristãos.
Na
Eucaristia encontramos e vivemos Cristo; cada um de nós, na individualidade do
seu eu, da sua pessoa, une-se a Deus, conhece a Deus, que, em Cristo se tornou
presente na história dos homens, na história pessoal de cada ser humano.
«A
fé pede-nos que estejamos ante a Eucaristia com a consciência de estar ante o
próprio Cristo.
A
sua presença da precisamente às demais dimensões – de banquete, de memorial da
Páscoa, de antecipação escatológica – um significado que transcende, em muito,
o de um mero simbolismo.
A
Eucaristia é mistério de presença, por meio do qual se realiza de forma suprema
a promessa de Jesus de permanecer connosco até ao fim do mundo” [viii].
Unidos
s Cristo Eucaristia, numa verdadeira união de fé, de esperança, de caridade,
permitimos que o próprio Jesus Cristo nos ajude, viva connosco, a realidade da
nossa criação, a graça.
E,
convertidos à «divindade” enxertada na nossa «humani9dade, podemos,
precisamente vivendo a santa Missa «com Cristo, por Cristo, em Cristo”,
introduzir-nos na missão de Cristo: adorar, reparar, dar graças, pedir graças,
a Deus Pai Omnipotente, na unidade do Espírito Santo.
Assim
o exprime São Josemaria Escrivá: «Viver a Santa Missa é permanecer em oração
contínua; convencermo-nos que, para cada um de nós, este é um encontro pessoal
com Deus: adoramos, louvamos, pedimos, damos graças, reparamos pelos nossos
pecados, purificamo-nos, sentimo-nos uma só coisa com Cristo, com todos os cristãos”
[ix].
Ainda
que normalmente digamos que Cristo está na Eucaristia, podemos dizer com toda a
propriedade que Cristo «é” a Eucaristia, e que e Eucaristia «é” Cristo. Ao
instituir este sacramento, o Senhor exprimiu-se com palavras admiráveis e
inequívocas: «Isto é o meu corpo”; «Este é o meu sangue da Aliança”.
E
o sacerdote ao mostrar a hóstia ao povo, afirma: «Este é o Cordeiro de Deus,
que tira os pedados do mundo”.
Ele
mesmo se fica na Eucaristia. Ele mesmo é a Eucaristia.
E
assim torna possível que o crente, o homem que vive de fé, no processo de se ir
convertendo em «nova criatura”, descubra e saboreie a realidade das palavras:
«sem Mim não podeis fazer nada”, e possa viver «pessoalmente” com Cristo; possa
aprender «pessoalmente”, com Ele, por Ele, nele, o modo de «actuar” o seu «ser”
de nova criatura; para chegar a ser, com Ele, «outro Cristo”, «o próprio
Cristo”, que se une e vive com cada cristão.
Por
razões semelhantes se diz que a Eucaristia «faz a Igreja”.
Sem a Eucaristia, a Igreja, certamente, não
existiria; não teria nenhuma razão de ser.
A
Igreja não seria mais que uma espécie de academia de crenças ou de doutrinas;
nunca seria Templo de Deus, Casa de Deus vivo; o próprio Cristo vivendo na
Terra, o encontro perene de Deus com os homens.
«A
Eucaristia significa e realiza a comunhão de vida com Deus e a unidade do povo
de Deus pelas quais a Igreja é ela própria.
Nela
encontra-se a paz ao mesmo tempo o cume da acção pela qual, Cristo, Deus
santifica o mundo, e do culto que, no Espírito Santo, os homens dão a Cristo e
por Ele, ao Pai”.[x]
A PENITÊNCIA OU
RECONCILIAÇÃO
O
«participar na natureza divina” e o viver com e em Cristo nunca alcançam a
totalidade da conversão plena do crente em «filho de Deus em Cristo”.
A
possibilidade de pecar, de abandonar o processo de conversão, de actuar contra
a Fé, contra a Esperança, contra a Caridade, está sempre presente na vida do
cristão e acompanhá-lo-á até ao fim da sua estadia na terra.
A
vida humana é tempo de liberdade e de busca amorosa da união com Deus, em
liberdade de espírito.
A
«iniciação cristã” que começou a germinar no homem ao receber os sacramentos do
Baptismo, da Confirmação e da Eucaristia pode interromper o seu crescimento com
o ceder do homem ante o pecado.
Na
segunda parte trataremos com detalhe da influência do pecado e da consequência
mais profunda no espírito do homem: o afã de se separar de Deus, de se afastar
de si próprio.
Agora
parece suficiente recordar que a queda no pecado, que em Adão provocou a
expulsão do Paraíso e a perda do estado original, uma vez realizada a Redenção,
não implica que Deus abandone o homem, por muito radical que a separação chegue
a ser por parte do homem: todo o pecado pode ser perdoado.
As
palavras do Senhor a propósito dos pecados contra o Espírito Santo parecem
indicar o contrário: «Todo o pecado e toda a blasfémia serão perdoadas aos
homens, mas a blasfémia contra o Espírito não será perdoada.
E
ao que diga uma palavra contra o Filho do homem perdoar-se-á; mas ao que a diga
contra o Espírito Santo não se lhe perdoará nem neste mundo nem no outro”.[xi]
Estas
palavras, todavia, não querem reduzir o alcance da Redenção que Cristo nos
ganhou.
Significam,
portanto, que quem rejeite o arrependimento, o convite de Cristo à penitência,
não recebe o perdão.
Esta
obstinação no pecado constitui o verdadeiro pecado contra o Espírito Santo.
Deus
não impõe o perdão; perdoa generosamente a quem lho pede.
Além
disso, o «carácter”, esse sinal indelével que o Baptismo e a Confirmação –
acontece igualmente no sacramento da Ordem - deixam na alma, não se apaga ne
sequer ante os maiores pecados contra a fé, contra a esperança, contra a
caridade que o homem possa cometer.
Ao
mesmo tempo esse «sinal indelével” de modo algum tira a liberdade do homem face
a Deus.
O
homem pode sempre rejeitar Deus.
Não
pode impedir, todavia, que Deus o procure, que Deus lhe saia ao caminho.
O
homem pode esquecer-se de Deus; Deus nunca se esquece do homem.
O
sacramento da Penitência confere uma graça particular de purificação e de
arrependimento.
Cristo
institui-o «para os que, depois do Baptismo, tenham caído no pecado grave e
assim tenham perdido a graça baptismal e lesionado a comunhão eclesial.
O
sacramento da Penitência oferece a estes uma nova possibilidade de se
converterem e de recuperar a graça da justificação”.[xii]
Este
perdoar o pecado na alma do homem, e devolver eficácia sobrenatural à amizade
com Deus, torna possível que a eficácia da graça continue actuando na pessoa do
pecador, que Cristo viva na alma.
Entende-se,
então, que o sacramento da Reconciliação – o homem receber o perdão de Deus –
seja também um passo prévio à vinda de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo a cada
ser humano, a cada pessoa.
E
também se compreende que a Eucaristia tenha de ser recebida sem pecado mortal,
para que o encontro pessoal com Cristo possa chegar a realizar-se.
Então,
não é estranho que, se alguém comete o sacrilégio de receber em pecado o Corpo
e o Sangue de Cristo, receba a clara admoestação de São Paulo: «Portanto
examine-se cada um a si mesmo e depois coma daquele pão e beba do cálice.
Porque quem o come ou bebe indignamente como e bebe a sua própria condenação”.[xiii]
Com
a penitência do homem pecador, a Reconciliação com Deus torna possível eu o
pecado não se apodere do homem, que o homem não se torne «escravo do pecado”,
que o homem fique em condições de usar a sua liberdade para que o pecado não se
apodere do seu espírito nem nele deite raízes; e para que a graça da «nova
criatura em Cristo Jesus” continue crescendo e desenvolvendo-se nele.
A
«nova criatura” não vive só no espírito.
O
homem é pessoa, corpo, alma, espírito, e, com o transmitir-nos a «participação
na natureza divina” Jesus Cristo quis sublinhar essa unidade do homem
instituindo um sacramento que toca directamente a fragilidade do ser humano.
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
[i] Jo 12, 44-45
[ii] Jo 14, 9
[iii] são joão paulo II, Mane nobiscum Domine, n. 11.
[iv] Jo 17, 3
[v] Lumen gentium, 11
[vi] Presbiterorum
ordinis, 2
[vii] Catecismo, n. 1324
[viii] são joão paulo II, Mane nobiscum Domine, n. 16.
[ix] Es Cristo que passa, n. 88.
[x] Catecismo n. 1325
[xi] Mt 12, 31
[xii] Catecismo, n. 1446
[xiii] 1 Co 11, 28-29
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.