30/04/2015

Evangelho, comentário L. Espiritual (A beleza de ser cristão)



Semana IV da Páscoa

Evangelho: Jo 13 16-20

16 Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. 17 Já que compreendeis estas coisas, bem-aventurados sereis se as praticardes. 18 «Não falo de todos vós; sei os que escolhi; porém, é necessário que se cumpra o que diz a Escritura: “O que come o pão comigo levantará o seu calcanhar contra mim”. 19 Desde agora vo-lo digo, antes que suceda, para que, quando suceder, acrediteis que “Eu sou”. 20 Em verdade, em verdade vos digo que, quem recebe aquele que Eu enviar, a Mim recebe, e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou».

Comentário:

Com as mesmas palavras e termos com que o Pai Se  identificou a Moisés no episódio da sarça ardente, assim Jesus Se identifica a Si próprio querendo significar de modo iniludível que é igual ao Pai.

Não há declaração mais definitiva, não podem restar quaisquer dúvidas nos que O escutam com boa vontade e são critério.

(ama, comentário sobre Jo 13, 16-20 2014-05-15)


Leitura espiritual


a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE

O QUE É SER CRISTÃO?

I.            Relações que Deus estabelece com o homem.

…/16

Deus falou face a face com Adão no paraíso. Deus Uno e Trino manifesta-se-nos na terra, no imediatismo da realidade de carne, na Pessoa de Jesus Cristo Deus. Na nova criação, e para que possamos viver com Ele a nossa realidade de ser «filhos de Deus”, Deus quer manter essa proximidade com o homem; e uma proximidade mais íntima que a vivida no Paraíso.
Depois da Redenção, essa proximidade só se pode dar em Cristo Jesus, pessoalmente, em e com a Pessoa de Cristo.
As palavras do Evangelho de São João são muito claras: «Jesus disse em voz alta: O que crê em Mim, não crê em Mim, mas sim naquele       que me enviou. E o que me vê a Mim vê aquele que me enviou”.[i]
Mais adiante, sublinha, ante a petição de Filipe que lhe mostre o Pai: «Filipe, há tanto tempo que estou convosco, e não me conheceste? Quem me viu a mim, também, viu o Pai”.[ii]
Não poderão ver o Pai os que não tenham contemplado na terra o rosto de Cristo?
Não poderão conversar com o Pai os que não tenham trocado palavras com Cristo nos caminhos da terra?
Porquê esta afirmação tão concreta do Catecismo?
A resposta é clara: Jesus Cristo institui a Eucaristia; e na Eucaristia, Ele está sempre presente connosco, para continuara caminhando também connosco, com cada um de nós, e ajudar-nos a descobrir o Pai. «Na Eucaristia, a glória de Cristo está encoberta (…).
 Todavia, precisamente através do mistério do seu total ocultamento, Cristo faz-se mistério de luz, graças ao qual, o crente se vê introduzido nas profundidades da vida divina” [iii].
E na Eucaristia, Cristo realiza as suas palavras no espírito do crente: «Essa é a vida eterna: que te conheçam a ti, o único e verdadeiro Deus, e aquele que tu enviaste, Jesus, o Messias”.[iv]
Na Eucaristia, o cristão «vê” o rosto de Cristo, troca palavras com o próprio Cristo.
Desta forma, considerada a nova vida que Deus Doa aos homens, depois da Encarnação e da Redenção a Eucaristia é «fonte cume de toda a vida cristão”.[v]
«Os outros sacramentos, como também todos os ministérios eclesiais e as obras de apostolado, estão unidos na Eucaristia e a ela se ordenam. A sagrada Eucaristia, com efeito, contem todo o bem espiritual da Igreja, quer dizer, o próprio Cristo, nossa Páscoa” [vi].[vii]
Sem a Eucaristia não seriamos verdadeiramente cristãos.
Na Eucaristia encontramos e vivemos Cristo; cada um de nós, na individualidade do seu eu, da sua pessoa, une-se a Deus, conhece a Deus, que, em Cristo se tornou presente na história dos homens, na história pessoal de cada ser humano.
«A fé pede-nos que estejamos ante a Eucaristia com a consciência de estar ante o próprio Cristo.
A sua presença da precisamente às demais dimensões – de banquete, de memorial da Páscoa, de antecipação escatológica – um significado que transcende, em muito, o de um mero simbolismo.
A Eucaristia é mistério de presença, por meio do qual se realiza de forma suprema a promessa de Jesus de permanecer connosco até ao fim do mundo” [viii].
Unidos s Cristo Eucaristia, numa verdadeira união de fé, de esperança, de caridade, permitimos que o próprio Jesus Cristo nos ajude, viva connosco, a realidade da nossa criação, a graça.
E, convertidos à «divindade” enxertada na nossa «humani9dade, podemos, precisamente vivendo a santa Missa «com Cristo, por Cristo, em Cristo”, introduzir-nos na missão de Cristo: adorar, reparar, dar graças, pedir graças, a Deus Pai Omnipotente, na unidade do Espírito Santo.
Assim o exprime São Josemaria Escrivá: «Viver a Santa Missa é permanecer em oração contínua; convencermo-nos que, para cada um de nós, este é um encontro pessoal com Deus: adoramos, louvamos, pedimos, damos graças, reparamos pelos nossos pecados, purificamo-nos, sentimo-nos uma só coisa com Cristo, com todos os cristãos” [ix].
Ainda que normalmente digamos que Cristo está na Eucaristia, podemos dizer com toda a propriedade que Cristo «é” a Eucaristia, e que e Eucaristia «é” Cristo. Ao instituir este sacramento, o Senhor exprimiu-se com palavras admiráveis e inequívocas: «Isto é o meu corpo”; «Este é o meu sangue da Aliança”.
E o sacerdote ao mostrar a hóstia ao povo, afirma: «Este é o Cordeiro de Deus, que tira os pedados do mundo”.
Ele mesmo se fica na Eucaristia. Ele mesmo é a Eucaristia.
E assim torna possível que o crente, o homem que vive de fé, no processo de se ir convertendo em «nova criatura”, descubra e saboreie a realidade das palavras: «sem Mim não podeis fazer nada”, e possa viver «pessoalmente” com Cristo; possa aprender «pessoalmente”, com Ele, por Ele, nele, o modo de «actuar” o seu «ser” de nova criatura; para chegar a ser, com Ele, «outro Cristo”, «o próprio Cristo”, que se une e vive com cada cristão.
Por razões semelhantes se diz que a Eucaristia «faz a Igreja”.
 Sem a Eucaristia, a Igreja, certamente, não existiria; não teria nenhuma razão de ser.
A Igreja não seria mais que uma espécie de academia de crenças ou de doutrinas; nunca seria Templo de Deus, Casa de Deus vivo; o próprio Cristo vivendo na Terra, o encontro perene de Deus com os homens.
«A Eucaristia significa e realiza a comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus pelas quais a Igreja é ela própria.
Nela encontra-se a paz ao mesmo tempo o cume da acção pela qual, Cristo, Deus santifica o mundo, e do culto que, no Espírito Santo, os homens dão a Cristo e por Ele, ao Pai”.[x]

A PENITÊNCIA OU RECONCILIAÇÃO

O «participar na natureza divina” e o viver com e em Cristo nunca alcançam a totalidade da conversão plena do crente em «filho de Deus em Cristo”.
A possibilidade de pecar, de abandonar o processo de conversão, de actuar contra a Fé, contra a Esperança, contra a Caridade, está sempre presente na vida do cristão e acompanhá-lo-á até ao fim da sua estadia na terra.
A vida humana é tempo de liberdade e de busca amorosa da união com Deus, em liberdade de espírito.
A «iniciação cristã” que começou a germinar no homem ao receber os sacramentos do Baptismo, da Confirmação e da Eucaristia pode interromper o seu crescimento com o ceder do homem ante o pecado.
Na segunda parte trataremos com detalhe da influência do pecado e da consequência mais profunda no espírito do homem: o afã de se separar de Deus, de se afastar de si próprio.
Agora parece suficiente recordar que a queda no pecado, que em Adão provocou a expulsão do Paraíso e a perda do estado original, uma vez realizada a Redenção, não implica que Deus abandone o homem, por muito radical que a separação chegue a ser por parte do homem: todo o pecado pode ser perdoado.
As palavras do Senhor a propósito dos pecados contra o Espírito Santo parecem indicar o contrário: «Todo o pecado e toda a blasfémia serão perdoadas aos homens, mas a blasfémia contra o Espírito não será perdoada.
E ao que diga uma palavra contra o Filho do homem perdoar-se-á; mas ao que a diga contra o Espírito Santo não se lhe perdoará nem neste mundo nem no outro”.[xi]
Estas palavras, todavia, não querem reduzir o alcance da Redenção que Cristo nos ganhou.
Significam, portanto, que quem rejeite o arrependimento, o convite de Cristo à penitência, não recebe o perdão.
Esta obstinação no pecado constitui o verdadeiro pecado contra o Espírito Santo.

Deus não impõe o perdão; perdoa generosamente a quem lho pede.

Além disso, o «carácter”, esse sinal indelével que o Baptismo e a Confirmação – acontece igualmente no sacramento da Ordem - deixam na alma, não se apaga ne sequer ante os maiores pecados contra a fé, contra a esperança, contra a caridade que o homem possa cometer.
Ao mesmo tempo esse «sinal indelével” de modo algum tira a liberdade do homem face a Deus.
O homem pode sempre rejeitar Deus.
Não pode impedir, todavia, que Deus o procure, que Deus lhe saia ao caminho.
O homem pode esquecer-se de Deus; Deus nunca se esquece do homem.
O sacramento da Penitência confere uma graça particular de purificação e de arrependimento.
Cristo institui-o «para os que, depois do Baptismo, tenham caído no pecado grave e assim tenham perdido a graça baptismal e lesionado a comunhão eclesial.
O sacramento da Penitência oferece a estes uma nova possibilidade de se converterem e de recuperar a graça da justificação”.[xii]
Este perdoar o pecado na alma do homem, e devolver eficácia sobrenatural à amizade com Deus, torna possível que a eficácia da graça continue actuando na pessoa do pecador, que Cristo viva na alma.
Entende-se, então, que o sacramento da Reconciliação – o homem receber o perdão de Deus – seja também um passo prévio à vinda de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo a cada ser humano, a cada pessoa.
E também se compreende que a Eucaristia tenha de ser recebida sem pecado mortal, para que o encontro pessoal com Cristo possa chegar a realizar-se.
Então, não é estranho que, se alguém comete o sacrilégio de receber em pecado o Corpo e o Sangue de Cristo, receba a clara admoestação de São Paulo: «Portanto examine-se cada um a si mesmo e depois coma daquele pão e beba do cálice. Porque quem o come ou bebe indignamente como e bebe a sua própria condenação”.[xiii]
Com a penitência do homem pecador, a Reconciliação com Deus torna possível eu o pecado não se apodere do homem, que o homem não se torne «escravo do pecado”, que o homem fique em condições de usar a sua liberdade para que o pecado não se apodere do seu espírito nem nele deite raízes; e para que a graça da «nova criatura em Cristo Jesus” continue crescendo e desenvolvendo-se nele.

A «nova criatura” não vive só no espírito.

O homem é pessoa, corpo, alma, espírito, e, com o transmitir-nos a «participação na natureza divina” Jesus Cristo quis sublinhar essa unidade do homem instituindo um sacramento que toca directamente a fragilidade do ser humano.

(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)





[i] Jo 12, 44-45
[ii] Jo 14, 9
[iii] são joão paulo II, Mane nobiscum Domine, n. 11.
[iv] Jo 17, 3
[v] Lumen gentium, 11
[vi] Presbiterorum ordinis, 2
[vii] Catecismo, n. 1324
[viii] são joão paulo II, Mane nobiscum Domine, n. 16.
[ix] Es Cristo que passa, n. 88.
[x] Catecismo n. 1325
[xi] Mt 12, 31
[xii] Catecismo, n. 1446
[xiii] 1 Co 11, 28-29

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