Semana IV da Páscoa
Evangelho:
Jo 10 22-30
22 Celebrava-se em
Jerusalém a festa da Dedicação. Era Inverno. 23 Jesus andava a passear no
templo, no pórtico de Salomão. 24 Rodearam-n'O os judeus e disseram-Lhe: «Até
quando nos manterás em suspenso? Se és o Messias, di-no-lo claramente». 25
Jesus respondeu-lhes: «Já vo-lo disse, e vós não Me credes. As obras que faço
em nome de Meu Pai, essas dão testemunho de Mim; 26 porém vós não credes,
porque não sois das Minhas ovelhas. 27 As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz, e
Eu conheço-as, e elas seguem-Me. 28 Eu dou-lhes a vida eterna; elas jamais
hão-de perecer, e ninguém as arrebatará da Minha mão. 29 Meu Pai, que Mas deu,
é maior que todas as coisas; e ninguém pode arrebatá-las da mão de Meu Pai. 30
Eu e o Pai somos um».
Comentário:
Continua o discurso do Bom
Pastor com a insistência clara de Jesus Cristo na segurança que os homens podem
esperar quando O seguem sem condições.
Segurança em todos os aspectos
da vida humana mas, sobretudo, e o que é mais importante, de que o caminho que
Ele indica é o único que conduz à salvação.
Duas coisas são absolutamente
necessárias: confiança e entrega.
Confiança em Cristo e na Sua
palavra, entrega sem reservas ou preconceitos seguindo-o sem desvios.
(ama, comentário sobre Jo 10, 22-30, 2013.04.23)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
O QUE É SER CRISTÃO?
I.
Relações que Deus estabelece com o homem.
…/14
VIII.
OS
SACRAMENTOS (I)
Depois
de ter examinado a realidade da «Graça” e a sua acção de converter o cristão em
«filho de Deus em Jesus Cristo”, temo agora de considerar os canais pelos quais
o homem a recebe.
Esses
cabais são os sacramentos.
Nos
capítulos seguintes veremos a manifestação da acção da graça no homem e a
finalidade dessa acção, que é a de transformar o ser humano – e não só aos
olhos de Deus, mas no mais íntimo do seu ser – em «nova criatura”. Para não
sairmos dos limites deste livro, o estudo dos sacramentos centrar-se-á
exclusivamente na relação de cada sacramento com a Graça e na configuração
dessa «nova criatura”, sem nos adentrar-mos em nenhum outro as aspecto
teológico, litúrgico, espiritual que cada sacramento comporta.
Recordemos
que os sacramentos são «sinais visíveis, instituídos por Nosso Senhor Jesus
Cristo, que dão a «Graça”.
Até
à vinda de Cristo Deus servia-se de sinais, cerimónias, para nos dar a conhecer
a sua benevolência e a sua presença entre os homens; a sua participação na
história da humanidade. Daí em diante, e como consequência da nova economia
estabelecida por Cristo das relações de Deus com os homens, esses sinais
deixaram de ter qualquer significado.
Os
sacramentos convertem-se não já nas «marcas de Cristo na terra” e nem sequer
tampouco nos «cominhos que unem para sempre o céu e a terra”, mas sim no
encontro pessoal-vital de cada cristão com o próprio Cristo, e que nos fazem
viver os mistérios da vida de Deus em nós. [i]
«Os
sacramentos da Nova Lei foram instituídos por Cristo e são sete, saber,
Baptismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção dos doentes, Ordem
Sacerdotal e Matrimónio.
Os
sete sacramentos correspondem a todas as etapas e a todos os momentos
importantes da vida do cristão: dão nascimento e crescimento, cura e missão à
vida de fé dos cristãos. Há aqui uma certa semelhança entre as etapas da vida
natural e as etapas da vida espiritual”.[ii]
Os
sacramentos são, em resumo os caminhos ordinários para o encontro pessoal com
Cristo e, para receber nesse encontro, a Graça que nos converte em «novas
criaturas”, que nos faz «filhos de Deus em Cristo”.
Um
esclarecimento prévio antes de seguir os nossos raciocínios.
A Graça que se nos concede nos sacramentos,
não supõe, de modo algum, o desaparecimento da graça que Deus concede a todos
os homens, inclusive àqueles que nada sabem de Cristo e da sua Igreja, para que
alcancem a salvação por outros caminhos, que, sem deixar de passar por Cristo,
não comportam Fé nele.
O
desenvolvimento dos planos de salvação de cada um dos seres humanos é um
mistério escondido em Deus até ao fim dos tempos. E no interior desse mistério
está, com a Encarnação de Jesus Cristo num local e num tempo bem definidos na
história dos homens, a realidade que a Graça não vivifica a todos e cada um dos
seres humanos, porque nem Cristo é conhecido por todos os homens nem todos os
homens participam dos sacramentos.
Ao
referirmo-nos de novo aos sacramentos e ver neles os canais ordinários nos
quais o homem recebe a graça divina, convém-nos desde o início não esquecer a
«semelhança entre as etapas da vida natural e as etapas da vida sobrenatural”,
que o Catecismo já sublinhou.
Com
efeito; é o próprio homem, criatura de Deus, quem há-de ser redimido, liberto
do pecado e convertido em «filho de Deus em Cristo” e tudo, sem deixar em
absoluto, e sob qualquer conceito, de ser plena e naturalmente homem.
A
graça jamais destrói a natureza, e, por outro lado, requer a cooperação da
natureza, da liberdade do homem, para produzir os seus frutos.
É
certo que, nos sacramentos, a Graça se origina «ex opere operato”, da acção –
dos sinais externos – surge necessariamente o efeito, a Graça.
E,
ao mesmo tempo, para que essa Graça seja eficaz na pessoa que recebe o
sacramento, requer que o homem não ponha obstáculo. Um penitente pode tornar
ineficaz o sacramento da Reconciliação por não o receber com as disposições
requeridas; e também, ainda que acolhendo-o em condições adequadas, não
permitir que a graça produza nele profunda e permanente para Deus.
No
primeiro caso, a sua actuação com verte o sacramento em inútil; no segundo,
torna-o ineficaz.
O BAPTISMO
Os
três primeiros sacramentos – Baptismo, Confirmação, Eucaristia – denominam-se
de «iniciação cristã”, porque têm a finalidade de nos converter em «nova
criatura”, em «filhos de Deus em Cristo”.
O
Baptismo é o nascimento da vida pessoal cristã; a Confirmação, o
desenvolvimento e o estabelecimento na alma dessa vida; e a Eucaristia, o
enraizamento dessa vida de Cristo na alma, vivida mais pessoalmente com Ele.
«Mediante
os sacramentos da iniciação cristã, o Baptismo, a Confirmação e a Eucaristia,
colocam-se todos os fundamentos de toda a vida cristã.
A
participação na natureza divina que os homens recebem como dom mediante a graça
de Cristo tem certa analogia com a origem, o crescimento e o sustento da vida
natural.
Com
efeito, os fieis renascidos no Baptismo fortalecem-se com o sacramento da
Confirmação, e finalmente são alimentados na Eucaristia com o manjar da vida
eterna e, assim, por meio destes sacramentos da iniciação cristã, recebem cada
com mais abundancia os tesouros da vida divina e avançam para a perfeição da
caridade”.[iii]
O
nascimento e a conversão à vida divina não são simplesmente fruto de uma ajuda
externa que Deus nos dá; como se nos pegasse na mão e elevasse até à sua
própria altura.
Não.
São
resultado de receber «a participação na natureza divina”, que enxerta em nós um
princípio de vida sobrenatural, e dizemo-lo uma vez mais para que nunca o
percamos de vista.
Convertemo-nos
em «filhos de Deus em Cristo” sem deixar de ser seres humanos e, sendo
«homens-filhos de Deus em Cristo, começamos a viver actuar.
Este
processo, repetimos, começa com o Baptismo:
“O
santo Baptismo é o fundamento de toda a vida cristã, o pórtico da vida no
espírito e a porta que abre o acesso aos outros sacramentos.
Pelo
Baptismo somos libertados do pecado e regenerados como filhos de Deus, chegamos
a ser membros de Cristo e somos incorporados na Igreja e feitos partícipes da
sua missão.
O
Batismo é o sacramento do novo nascimento pela água e a palavra”.[iv]
É
necessário sublinhar o verdadeiro significado do Baptismo, para superar a visão
estreita tão disseminada entre os crentes, que reduz os seus efeitos a perdoar
o pecado original e todos os outros pecados que, no caso do baptismo de
adultos, o baptizando pudesse ter cometido.
«O
Batismo não só purifica de todos os pecados, converte também o neófito “numa
nova criação”, um filho adoptivo de Deus, que foi feito “partícipe da natureza
divina”, membro de Cristo, co-herdeiro com Ele e templo do Espírito Santo”.[v]
Aqui
radica a verdadeira natureza e o verdadeiro significado do Baptismo: a «nova
criação”, ao fazer-nos «partícipes da natureza divina”. Essa participação é o
que chamamos Graça.
A
acção desta Graça na pessoa do baptizado pode resumir-se nestas palavras do
catecismo a que teremos ocasião de nos referirmos ao longo destas páginas.
«-torna-o
capaz de crer em Deus, de esperar nele e de amá-lo mediante as virtudes teologais
(Fé, Esperança. Caridade).
-concede-lhe
poder viver e actuar sob a moção do Espírito Santo mediante os dons do Espírito
santo.
-Permite-lhe
crescer no bem mediante as virtudes morais.
Assim
todo o organismo da vida sobrenatural do cristão tema sua raiz no santo
Baptismo”.[vi]
Com
o Baptismo, o baptizado deixa de ser somente uma criatura «a imagem e
semelhança”, par se converter em verdadeiro «filho de Deus em Cristo”: ao
actualizar-se, a torar-se «acto”, nessa «participação a capacidade – potência –
de ser «filho de Deus”, com a qual todo o ser humano chega a este mundo.
Esta
nova condição do homem baptizado não se perde jamais. «O Baptismo imprime no
cristão um selo espiritual indelével (carácter)
da sua pertença a Cristo.
Este
selo não é apagado por nenhum pecado, ainda que o pecado impeça o Baptismo de
dar frutos de salvação” [vii]
Esta
afirmação significa que o baptizado nunca perde a sua condição de «filho de
Deus em Cristo”, que é a raiz e o fundamento da vida cristã, do nosso viver em
Deus, com Cristo, no Espírito santo; e do viver Deus Pai, Filho e Espírito
Santo em nós. É o fundamento e a razão pela qual podemos dizer que todo o
cristão está «enxertado” em Cristo; e que com São Paulo, possamos também chegar
a afirmar que «Cristo vive em mim”.
Alguns
consideram que, com Baptismo, o homem perde a sua liberdade, ao jamais poder
abandonar a sua condição de «filho de Deus em Cristo”.
É
outra a realidade e fica claramente expressa na segunda parte do n. 1272 do
Catecismo que acabámos de transcrever: «Este selo não á apagado por nenhum
pecado, ainda que o o pecado impeça Baptismo de dar frutos de salvação”.
Ou
seja, o homem nunca perde no plano do seu «actuar”, e poderá portanto, opor-se
não só à acção de Deus, mas também rejeitar a sua realidade ante o próprio
Deus, de reafirmar, em suma, o seu próprio «eu” diante e em oposição a Deus ou,
simplesmente, de paralisar toda a possível acção da sua própria pessoa.
A
obstinação no pecado pode debilitar a vontade do homem, mas nunca até ao ponto
de impedir o exercício da sua liberdade.
Em
suma, salvo casos patológicos, o homem nunca deixa de ser livre, ainda eu no
seu espírito e esteja indelével o «carácter” de «filho de Deus em Cristo Nosso
Senhor”.
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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