14/04/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual (A beleza de ser cristão)


Semana II da Páscoa

Evangelho: Jo 3 7-15

7 Não te maravilhes de Eu te dizer: É preciso que nasçais de novo. 8 O vento sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem nem para onde vai; assim é todo aquele que nasceu do Espírito». 9 Nicodemos disse-Lhe: «Como pode ser isto?». 10 Jesus respondeu-lhe: «Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas? 11 «Em verdade, em verdade te digo que Nós dizemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não recebeis o Nosso testemunho. 12 Se, quando vos falo das coisas terrenas, não Me acreditais, como Me acreditareis, se vos falar das celestes? 13 Ninguém subiu ao céu, senão Aquele que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu. 14 E como Moisés levantou no deserto a serpente, assim também importa que seja levantado o Filho do Homem, 15 a fim de que todo o que crê n'Ele tenha a vida eterna.

Comentário:

Como se pode nascer de novo?
Esta pergunta de Nicodemos é perfeitamente legítima e é muito natural que nós próprios a façamos também.
Mas a resposta também a devemos saber porque assim nos diz a nossa Santa Religião e nos garante a nossa Fé:

O Baptismo é esse “nascer de novo” porque nos converte de simples criaturas em Filhos de Deus.

(ama, comentário sobre Jo 3, 7b-15, 2015.04.08)

Leitura espiritual

a beleza de ser cristão


Qualquer livro tem uma razão de ser, e qualquer autor um fim ao empreender a tarefa de redigir umas páginas e manter o esforço dia a dia até as levar à sua conclusão.

A razão do livro e o fim do autor coincidem neste caso; e é duplo. A primeira, ajudar quem acredita que Jesus Cristo é verdadeiramente filho de Deus feito homem, a conhecer e a valorizar a grandeza e a beleza da sua condição de criatura, do seu ser filho de Deus em Cristo Jesus, da sua tarefa de ser santo.
A segunda, ajudar o não crente em Jesus Cristo, e quiçá tampouco em Deus, a descobrir o que significa verdadeiramente ser cristão e, na esperança que o vislumbre, provoca-lo ao menos para que se decida a procurar Deus, a descobrir a amizade com Deus e, na amizade com Deus, chegara té ao conhecimento de Cristo, da Verdade. A Verdade que sustenta todas as outras verdades que o homem descobre no seu viver.

O livro, não é, portanto, uma exposição das verdades da Fé cristã em toda a sua amplitude. De certo modo, essas verdades: Deus Uno e Trino; a Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo; a acção do Espírito santo; a Igreja; e todas as outras afirmadas no Credo, dão-se como conhecidas. Para quem deseje aprofundar o conteúdo dessas realidades, recomendamos uma leitura pausada e atenta do Catecismo daa Igreja Católica e do Compêndio desse Catecismo, recentemente publicado.

Centraremos, portanto, a nossa atenção em que consiste e como se desenvolve a vida cristã. A vida da «nova criatura» que Nosso Senhor Jesus Cristo nos revelou, e que Ele próprio nos convida a sermos cada um de nós, quando afirma: «Se não vos fizerdes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus». O que entende o Senhor por «crianças»? Talvez queira fazer-nos pensar na grandeza de ser «filhos de Deus»?

No Antigo e no Novo testamento há frases sobre as quais uma grande maioria de nós cristãos, temos passado, talvez longos anos da nossa vida, demasiado depressa, sem parar a prestar-lhes a atenção devida e sem ser conscientes de que nunca conseguiremos desentranhar a riqueza divina que contêm.

No Antigo Testamento encontramos, por exemplo: «Disse Deus: façamos o homem à nossa imagem, segundo a nossa semelhança… E Deus criou o homem à Sua imagem; à imagem de Deus o criou, macho e fêmea os criou»[i]. Deus viu tudo quanto tinha feito, e heis que estava muito bem»[ii]. E, pela boca da Sabedoria, afirma que «as minhas delícias estão com os filhos dos homens»[iii].

No Novo Testamento lemos estas frases ditas pelo próprio Cristo, Nosso Senhor: «Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância»[iv]; «O que recebe os meus preceitos e os guarda, esse é o que me ama; o que me ama a mim será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele»[v].

E outras escritas pelos evangelistas e por São Paulo: «O justo vive da fé»[vi]; «Ele fixou aas estações e os confins dos povos, para que procurem a Deus, e se mesmo a tentar o encontrem, ainda que não esteja longe de nós, porque nele vivemos, nos movemos e somos, como algum dos vossos poetas disse: “porque somos da sua linhagem”».[vii]

Ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Deus o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que se achavam sob a lei, e para que recebêssemos a filiação adoptiva. A prova de que sois filhos é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho que clama: Abbá, Pai!»[viii]. «Não mintais uns aos outros. Despojai-vos do homem velho com as suas obras, e revesti-vos do homem novo, que se vai renovando até alcançar um conhecimento perfeito, segundo a imagem do seu Criador»[ix].

Todas estas frases descobrem à nossa consideração os planos de Deus na criação do homem, ao levar a cabo a redenção depois do pecado, e fazer do homem uma «nova criatura» em Cristo.

Os crentes que vivem imersos em ambientes familiares, espirituais e culturais nos quais não surge nenhuma dúvida sobre as verdades da fé, e que dão por adquiridos os princípios normais do viver moral cristão, podem chegar a acostumar-se à assombrosa realidade de ser cristãos, de ser filhos de Deus em Cristo Jesus; e a manter uma certa relação com Deus, com um Deus Uno e Trino, que chega a ser mais um «personagem familiar», no sentido mais reduzido da palavra.

Somos família de Deus, e a Igreja recorda-nos, a unidade da Igreja, o viver em comunhão na Igreja com todos os cristãos, e com todos os homens. Existe o perigo, todavia, de que, encaminhada em caminhos de normalidade vital, a relação do homem com Deus se vá re4duzindo paulatinamente o cumprimento de uma série de preceitos para conseguir, de alguma forma, «estar bem», «estar tranquilo» com esse Deus, exigente; ou, talvez, a «ter Deus contente».
Com a finalidade de facilitar a compreensão do horizonte da vida de Deus na vida dos homens, tratarei de desentranhar nestas páginas os projectos de Deus Pai, Filho e Espírito Santo sobre o homem, «única criatura na terra a quem Deus amou por si mesma»[x]. Projectos que se vislumbram nas frases da Escritura recolhidas parágrafos atrás, frases que escondem a riqueza do infinito a amor de Deus pelos homens.

Procurarei levar a cabo esta exposição – insisto em que se trata de uma exposição de verdades já adquiridas no pensamento cristão, ainda que talvez não de todo sublinhadas e na ordem em que as exponho – da forma mais «elementar» e «simples» que me for possível, com o anseio exequível da sua leitura por crentes e não crentes.

«Elementar», na acepção mais completa da palavra, ou seja: «referente aos elementos ou princípios de uma ciência ou arte», e não o significado, também usual, de afirmações óbvias e evidentes, porque as verdades que relacionam o homem com Deus nem são óbvias nem nunca são evidentes. Ainda que estando profundamente arreigadas no espírito humano, não deixam de participar no mistério insondável de Deus.

«Simples», no sentido de «carecer de exornação e artifício, e expressa ingénua e naturalmente os conceitos». Não pretendo um livro cientificamente teológico, nem com o menor aparato crítico. Só pretendo expressar a exposição dos mistérios das relações que nos unem a Deus, com a simplicidade das palavras de Cristo, «Caminho, Verdade, Vida», na esperança de que assim possam estar mais ao alcance de todos sem perder nada da sua riqueza.

«Elementar e simples». Estas palavras não significam que todas as páginas do livro sejam sempre fáceis de ler. O leitor, com compreensão e paciência, há-de pôr um certo esforço, consciente de que tudo quanto aqui se afirma não é mais que uma tentativa de desentranhar o mistério encerrado no Amor de Deus pelos homens; e um caminho para que o homem aprenda a amar de verdade a Deus.
E tenho a esperança de que, no fim da leitura, esteja de acordo comigo de que valeu a pena: ao leitor, ler; e a mim, escrever. E tenha sido uma ajuda para começar a descobrir a beleza de ser cristãos e a vislumbrar que «a beleza salvará o mundo». [xi]

Nesta primeira parte trataremos da Vida que Deus nos dá, e nos comunica em Cristo, de forma que um dia todos os crentes possamos dizer com São Paulo: «Por isso dobro os meus joelhos ante o Pai, de quem toma o nome toda a família no céu e na terra, para que vos conceda, segundo a riqueza da sua glória, que sejais vigorosamente fortalecidos pela acção do Espírito no homem interior, que Cristo habite pela fé nos vossos corações, para que, enraizados e cimentados no amor, possais compreender com todos os santos qual é a largura e a longitude, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o conhecimento, para que vos vades enchendo até à total plenitude de Deus».[xii].

(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)







[i] Gen 1, 26-27
[ii] Gen 1, 31
[iii] Pr 8, 31
[iv] Jo 10, 10
[v] Jo 14, 21
[vi] Rm 1, 17
[vii] Act 17, 26-28
[viii] Ga 4, 4-6
[ix] Col 3, 10
[x] Gaudium et spes, n. 24
[xi] feodor dostoievski, O Idiota, p.  II, cap. V.
[xii] Ef 3, 14-19

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