28/03/2015

Tratado do verbo encarnado 142

Questão 23: Se a adopção convém a Cristo

Art. 4 — Se Cristo, enquanto homem, é filho adoptivo de Deus.

O quarto discute-se assim. — Parece que Cristo, enquanto homem, é filho adoptivo de Deus.

1. — Pois, diz Hilário, referindo-se a Cristo: Não perde a dignidade do poder quando adapta a humildade da carne. Logo, Cristo, enquanto homem, é filho adoptivo.

2. Demais. — Agostinho diz, que Cristo é homem pela mesma graça pela qual alguém se torna Cristão em virtude da fé inicial. Ora, os outros homens são Cristãos pela graça da adopção. Logo, também Cristo é homem por adopção E portanto, é filho adoptivo.

3. Demais. — Cristo, enquanto homem, é servo. Ora, é mais digno ser filho adoptivo, que servo. Logo, com maior razão, Cristo, enquanto homem é filho adoptivo.

Mas, em contrário, diz Ambrósio: Não consideramos o filho adoptivo como filho por natureza; mas dizemos filho por natureza o que verdadeiramente o é. Ora, Cristo é verdadeiro e natural Filho de Deus, segundo o Evangelho: Para que estejamos em seu verdadeiro Filho, Jesus Cristo. Logo, Cristo, enquanto homem, não é filho adoptivo.

A filiação propriamente convém à hipóstase ou à pessoa, mas não à natureza; por isso na Primeira Parte dissemos, que a filiação é uma propriedade pessoal. Ora, em Cristo não há outra pessoa ou hipóstase além da incriada, o que convém ser Filho por natureza. Pois, como dissemos, a filiação da adopção é uma semelhança participada da filiação natural. Ora, não dizemos que existe participativamente o que por si mesmo existe. E por isso, Cristo que é por natureza Filho de Deus, de nenhum modo pode ser chamado filho adoptivo. — Quanto aos que atribuem a Deus duas pessoas ou duas hipóstases ou dois supostos, racionalmente nada os impediria de dizer que Cristo, enquanto homem, é filho adoptivo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Assim como a filiação propriamente não convém à natureza, assim também não, a adopção. E por isso, é expressão imprópria dizer que foi adoptada a humildade da carne; entendendo-se aí por adopção a união da natureza humana com a pessoa do Filho.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Essa semelhança de Agostinho devemos entendê-la quanto ao princípio; isto é, porque, assim como não é por méritos de sua parte que qualquer homem é Cristão, assim não foi por nenhum mérito que o homem Cristo foi Cristo. Mas esses dois casos diferem pelo termo, porque Cristo, pela graça da união, é Filho por natureza; ao passo que qualquer homem é filho adoptivo pela graça habitual. Mas, a graça habitual, em Cristo, não o fez passar, de não filho, a filho adoptivo; é apenas uma consequência da filiação natural, na alma de Cristo, segundo o Evangelho: Nós vimos a sua glória, como de Filho unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O ser criatura e também a servidão ou a sujeição a Deus, não respeitam só à pessoa mas ainda à natureza; o que não pode dizer-se da filiação. Por isso não colhe a comparação

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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