Perspectiva |
Sabemos
que este investimento industrial permitirá atingir um objetivo imediato, o de
substituir o ser humano no trabalho. Os robôs não comem, não dormem, não se
queixam, não apresentam problemas, não adoecem e a sua gigantesca inteligência
artificial será capaz de resolver, em segundos de programação, problemas de
produção, estratégias de consumo, questões que atormentam tantos, em termos de
eficácia e de produtividade. Que empresário, destes gigantes económicos (e dos
menos gigantes), não quererá este tipo de “trabalhador” com que há tanto tempo
sonha, sem o conseguir alcançar pois tem de recorrer aos pobres, defeituosos e
inquietos e perecíveis seres humanos?
Por
outro lado, estes projetos empresariais inserem-se em e aceleram o movimento
cultural internacional que visa criar o “trans-humanismo” ou o tempo
“pós-humano”, como o qualificam outros autores, em que os humanos incorporarão
artefactos técnicos, num processo de enriquecimento artificial, o que fará
evoluir muito aceleradamente a capacidade humana de resistir às doenças e à
morte. A sequenciação do ADN de sobredotados ou a triagem seletiva de embriões
humanos, já em curso, conduzem-nos a um mundo em que todos seremos manipulados
e onde os mais frágeis serão muito mais facilmente não só descartados mas
destruídos. Todos os seres humanos, desde que fora deste horizonte do
enriquecimento artificial do seu corpo, serão considerados demasiado pobres,
demasiado incapazes e ainda mais incompetentes.
Creio
que, se tivemos e temos consciência de que é preciso lutar contra o que é
anti-humano na economia de mercado e na sociedade, é preciso hoje colocarmos na
agenda uma posição clara contra esta outra deriva, o pós-humano, pois ambos são
e serão sempre inumanos.
(cont)
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