Em
seguida devemos tratar do sacerdócio de Cristo.
E
nesta questão discutem-se seis artigos:
Art.
1 — Se a Cristo convém ser sacerdote.
Art.
2 — Se Cristo foi ao mesmo tempo sacerdote e vítima.
Art.
3 — Se o efeito do sacerdócio de Cristo é a expiação dos pecados.
Art.
4 — Se o efeito do sacerdócio de Cristo não só pertencia aos outros, mas também
a ele próprio.
Art.
5 — Se o sacerdócio de Cristo permanece eternamente.
Art.
6 — Se o sacerdócio de Cristo era segundo a ordem de Melquisedeque.
Art. 1 — Se a Cristo
convém ser sacerdote.
O
primeiro discute-se assim. — Parece que não convém a Cristo ser sacerdote.
1
— Pois, o sacerdote é menor que o anjo, e por isso diz a Escritura: O Senhor me mostrou o sumo-sacerdote Jesus,
que estava diante do anjo do Senhor. Ora, Cristo é maior que os anjos,
segundo o Apóstolo: Feito tanto mais excelente que os anjos, quanto herdou mais
excelente nome que eles. Logo, a Cristo não convém ser sacerdote.
2.
Demais. — No Antigo Testamento estavam as figuras de Cristo, segundo o
Apóstolo: Que são sombra das causas
vindouras, mas o corpo é em Cristo. Ora Cristo não era carnalmente
descendente dos sacerdotes da lei antiga, assim, diz o Apóstolo: Manifesta
coisa é que da linhagem de Judá nasceu Nosso Senhor, tribo sobre a qual nada
falou Moisés tocante aos sacerdotes. Logo, a Cristo não convém ser sacerdote.
3.
Demais. — Na lei antiga, que é figura de Cristo, não era o mesmo o legislador e
o sacerdote, donde o dizer o Senhor a Moisés, legislador: Faze chegar a ti Arão, teu irmão, para que exercite diante de mim as
funções do sacerdócio. Ora, Cristo é o legislador da lei nova, segundo a
Escritura: Imprimirei a minha lei nas suas
entranhas. Logo, a Cristo não convém ser sacerdote.
Mas,
em contrário, o Apóstolo: Temos aquele
pontífice que penetrou os céus, Jesus, Filho de Deus.
O ofício próprio do sacerdote é ser mediador entre Deus e o povo, porque
transmite ao povo os dons divinos, chamando-se sacerdote por ser o responsável
das coisas sacras, segundo aquilo da Escritura: Da sua boca, isto é, do sacerdote, os mais buscarão a inteligência da
lei. E também por ser quem oferece a Deus as preces do povo, e de certo modo
satisfaz a Deus pelos seus pecados. Donde o dizer o Apóstolo: Todo o pontífice assunto dentre os homens é
constituído o favor dos homens naquelas causas que tocam a Deus, para que
ofereça dons e sacrifícios pelos pecados. Ora, isto convém sobremaneira a Cristo.
Pois por ele, os bens divinos foram conferidos aos homens, segundo a Escritura:
Pelo qual, isto é, por Cristo, nos
comunicou as mui grandes e preciosas graças, que tinha prometido, para que por
elas sejais feitos participantes da natureza divina. E também ele
reconciliou o género humano com Deus, segundo o Apostolo: Foi do agrado do Pai que nele, isto é, em Cristo residisse toda a
plenitude e o reconciliar por ele a si mesmo todas as coisas.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O poder hierárquico convém aos anjos,
enquanto medianeiros entre Deus e os homens, como está claro em Dionísio, por
isso o sacerdote, enquanto medianeiro entre Deus e o povo, tem o nome de anjo,
segundo a Escritura: É o anjo do Senhor
dos exércitos. Ora, Cristo foi maior que os anjos, não só pela divindade,
mas também pela humanidade, por ter a plenitude da graça e da glória. Donde e
de modo mais excelente, teve, acima dos anjos, o poder hierárquico ou
sacerdotal, de modo tal que os próprios anjos lhe foram ministros do
sacerdócio, como se lê no Evangelho: Chegaram
os anjos e o serviam. Mas, pela passibilidade da carne, por um pouco foi
feito menor que os anjos, no dizer do Apóstolo. E, assim, foi comparável aos
mortais constituídos sacerdotes.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Como diz Damasceno, duas coisas em tudo iguais são idênticas e
não, semelhantes. Ora, sendo o sacerdócio da lei antiga a figura do sacerdócio
de Cristo, não quis Cristo nascer da estirpe dos sacerdotes, que o figuravam,
para mostrar que o seu sacerdócio não era absolutamente idêntico ao deles, mas
que diferia como o verdadeiro, do figurado.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Como dissemos, os outros homens têm algumas graças particulares,
mas Cristo, enquanto cabeça de todos, tem a perfeição de todas as graças. Donde,
no atinente aos mais, o legislador difere do sacerdote, que difere do rei, ao
passo que Cristo era tudo isso ao mesmo tempo, como a fonte de todas as graças.
Donde o dizer a Escritura: O Senhor é o
nosso juiz, o Senhor o nosso legislador, o Senhor o nosso rei, ele mesmo nos
salvará.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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