Não te apoquentes por verem as tuas
faltas. A ofensa a Deus e a desedificação que podes ocasionar, isso é que te
deve doer. – De resto, que saibam como és e te desprezem. – Não tenhas pena de
seres nada, porque assim Jesus tem que pôr tudo em ti. (Caminho,
596)
Escreve o evangelista S. João: ninguém
jamais viu Deus; o Filho Unigénito que está no seio do Pai é que o deu a
conhecer, comparecendo ante o olhar atónito dos homens: primeiro, como um
recém-nascido, em Belém; depois, como um menino igual aos outros; mais tarde,
no Templo, como um adolescente, inteligente e vivo; e, por fim, com aquela
figura amável e atraente do Mestre que movia os corações das multidões que o
acompanhavam entusiasmadas.
Bastam algumas provas do Amor de Deus
que se encarna para que a sua generosidade nos toque a alma, nos incendeie, nos
mova com suavidade a uma dor contrita pelo nosso comportamento, em tantas ocasiões
mesquinho e egoísta. Jesus não tem inconveniente em rebaixar-se, para nos
elevar da miséria à dignidade de filhos de Deus, de irmãos seus. Pelo
contrário, tu e eu muitas vezes enchemo-nos nesciamente de orgulho pelos dons e
talentos recebidos, até ao ponto de os converter em pedestal para nos impormos
aos outros, como se o mérito de algumas acções, acabadas com relativa
perfeição, dependesse exclusivamente de nós: Que possuis tu que não tenhas
recebido de Deus? E se o recebeste, porque te glorias como se o não tivesses
recebido?
Ao considerar a entrega de Deus e o
seu aniquilamento – falo para que o meditemos, pensando cada um em si mesmo–, a
vanglória, a presunção do soberbo revela-se um pecado horrendo, precisamente
porque coloca a pessoa no extremo oposto ao modelo que Jesus nos assinalou com
a sua conduta. Pensai nisto devagar: Ele humilhou-se, sendo Deus. O homem,
cheio do seu próprio eu, pretende enaltecer-se a todo o custo, sem reconhecer
que está feito de barro e barro de má qualidade. (Amigos de Deus, nn.
111–112)
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