Art.
4 — Se Cristo recebeu alguma ciência dos anjos.
O quarto, discute-se assim. - Parece
que Cristo recebeu alguma ciência, dos anjos.
1. — Pois, diz o Evangelho, que
apareceu a Cristo um anjo do céu, que o confortava. Ora, confortar supõe palavras
de ensino, segundo a Escritura: Eis aqui ensinaste a muitos e deste vigor a
mãos cansadas, as tuas palavras firmaram aos que vacilavam. Logo, Cristo foi
ensinado pelos anjos.
2. Demais. — Dionísio diz: Pois, eu
vejo que o próprio Jesus, substância supersubstancial das substâncias
super-celestes, assumindo a nossa natureza sem alterar a sua, obedece com
humilde submissão às instruções que Deus, seu Pai, lhe transmite por meio dos
anjos. Donde se conclui que o próprio Cristo quis submeter-se à ordem da lei
divina, que manda os homens serem ensinados pelos anjos.
3. Demais. — Assim como o corpo
humano, por uma ordem natural, está sujeito aos corpos celestes, assim também a
inteligência humana às angelicas. Ora, o corpo de Cristo estava sujeito às
impressões dos corpos celestes, assim, sofria o calor do verão, o frio do
inverno como tudo o mais que o homem padece. Logo, também a sua inteligência
recebia as iluminações dos espíritos super-celestes.
Mas, em contrário, diz Dionísio, que
os anjos supremos fazem interrogações a Jesus conhecendo dele a sua obra divina
e a assunção da nossa carne, por amor de nós, e Jesus os ensina sem,
medianeiro. Ora, não pode um mesmo sujeito ensinar e ser ensinado. Logo, Cristo
não aprendeu nada dos anjos.
Assim como a alma humana é
um meio-termo entre as substâncias espirituais e os seres corpóreos, assim de
dois modos lhe é natural aperfeiçoar-se: pela ciência haurida nas coisas
sensíveis e pela ciência infusa ou impressa pela iluminação das substâncias espirituais.
Ora, de ambos esses modos a alma de Cristo era perfeita. Quanto aos sensíveis,
pela ciência experimental, para adquirir a qual não é necessário a iluminação
angélica, pois, basta o lume do intelecto agente, quanto à impressão superior,
pela ciência infusa, que imediatamente recebia de Deus. Pois, assim como a alma
de Cristo estava unida, de um modo superior ao que é comum à criatura, ao Verbo
na unidade da pessoa, assim também, de um modo superior ao que é comum aos
homens, a sua alma abundava na ciência e na graça recebidas imediatamente do
próprio Verbo de Deus, não, pois mediante os anjos, que também, pela influência
do Verbo, receberam, quando começaram a existir, a ciência das coisas como diz
Agostinho.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— O confortar do anjo, que a Escritura refere, não foi a modo de instrução,
mas, para mostrar a propriedade da natureza humana. Donde Beda dizer: Foi para
nos mostrar a propriedade das duas naturezas, da humana e da divina, que os
anjos vieram confortá-lo e servi-lo, Pois, o Criador não precisava do socorro
da sua criatura, mas, Cristo feito homem assim como quis se entristecer por
nós, assim, por nossa causa, quis ser consolado. De modo que em nós se
confirmasse a fé na sua Encarnação.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Dionísio diz,
que Cristo foi submetido à iluminação dos anjos, não que delas precisasse por
natureza, mas por ocasião das diversas circunstâncias da sua Encarnação, e da
fraqueza de que se revestiu, fazendo-se criança, por amor de nós. Por isso, no
mesmo lugar acrescenta que, por meio dos anjos o Pai anunciou a José que foi
determinado a partida de Jesus para o Egito, e de novo, que devia reconduzir o
menino do Egito para a Judeia.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O Filho de Deus
assumiu um corpo passível, como diremos depois, mas uma alma com ciência e
graça perfeitas. Por isso e convenientemente, o seu corpo foi sujeito à
impressão dos corpos celestes, mas a sua alma não o foi à dos espíritos celestes.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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