Em seguida devemos tratar da ciência
adquirida ou experimental da alma de Cristo.
E nesta questão discutem-se quatro
artigos:
Art. 1 — Se mediante essa ciência Cristo
sabia tudo.
Art. 2 — Se Cristo progredia nessa
ciência.
Art. 3 — Se Cristo aprendia dos
homens.
Art. 4 — Se Cristo recebeu alguma
ciência dos anjos.
Art.
1 — Se mediante essa ciência Cristo sabia tudo.
O primeiro discute-se assim. — Parece
que mediante essa ciência Cristo não sabia tudo.
1. — Pois, tal ciência se adquire por
experiência. Ora, Cristo não tinha experiência de tudo. Logo, não sabia tudo
mediante essa ciência.
2. Demais. — O homem adquire a ciência
pelos sentidos. Ora, nem todos os sensíveis estavam ao alcance dos sentidos do
corpo de Cristo. Logo, por essa ciência não sabia tudo.
3. Demais. — A extensão da ciência
depende dos objectos cognoscíveis. Se, pois, por essa ciência, Cristo soubesse
tudo, ele teria uma ciência adquirida igual à ciência infusa e à dos
bem-aventurados, o que é inadmissível. Logo, por essa ciência Cristo não sabia
tudo.
Mas, em contrário, não havia na alma
de Cristo nada de imperfeito. Ora, essa sua ciência teria sido imperfeita se,
mediante ela, não soubesse tudo, pois, é imperfeito o a que pode fazer-se uma
adição. Logo, por essa ciência Cristo sabia tudo.
Atribuímos à alma de Cristo
a ciência adquirida, como dissemos, por conveniência com o intelecto agente,
para que não fosse inútil a sua actividade, a esse intelecto que actualiza os
inteligíveis, assim como atribuímos a ciência inata ou infusa à alma de Cristo,
para complemento do intelecto possível. Ora, assim como o intelecto possível
pode tornar-se todas as causas, assim o intelecto agente pode fazer todas as
causas, segundo o diz Aristóteles. Logo, assim como pela ciência infusa a alma
de Cristo sabia tudo aquilo em relação ao que o intelecto possível é de certo
modo potencial, assim, pela ciência adquirida, sabia tudo o que pode ser sabido
pela acção do intelecto agente.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A ciência das coisas pode ser adquirida não só pela experiência delas mas
ainda pela de algumas outras. Pois, em virtude do lume do intelecto agente, o
homem pode chegar a inteligir os efeitos pelas causas e as causas pelos
efeitos, e os semelhantes pelos semelhantes, e os contrários pelos contrários. Donde,
embora a alma de Cristo não tivesse a experiência de tudo, entretanto, pelo que
conhecia por experiência, chegava ao conhecimento de tudo o mais.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora todos os
sensíveis não estivessem ao alcance dos sentidos corpóreos de Cristo, estavam
porém ao alcance dos seus sentidos determinados sensíveis, pelos quais mediante
excelentíssima virtude da sua razão, podia chegar a outros conhecimentos, do
modo referido. Assim, vendo os corpos celestes, podia compreender-lhes as
virtudes e os efeitos que exercem sobre os seres terrestres, que não lhe
estivessem ao alcance dos sentidos. E pela mesma razão, mediante algumas outras
coisas, podia chegar a conhecimento mais extenso.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Para referida
ciência, a alma de Cristo não conhecia todas as coisas, absolutamente falando,
mas todas as que são cognoscíveis ao homem pelo lume do intelecto agente. E
assim, mediante essa ciência não tinha conhecimento das substâncias separadas,
nem também dos acontecimentos particulares passados e futuros. Os quais, porém,
conhecia pela ciência infusa, como dissemos.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.