06/01/2015

Ev. diário, coment. e L. esp. (Amigos de Deus)

Epifania
        
Evangelho: Mc 6 34-44

34 Ao desembarcar, viu Jesus uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor, e começou a ensinar-lhes muitas coisas. 35 Fazendo-se tarde chegaram-se a Ele os discípulos, dizendo: «Este lugar é solitário e a hora é já adiantada; 36 despede-os, a fim de que vão às quintas e povoados próximos e comprem alguma coisa para comer». 37 Ele respondeu-lhes: «Dai-lhes vós de comer». Eles disseram: «Iremos, pois, com duzentos denários comprar pão para lhes darmos de comer?». 38 Jesus perguntou-lhes: «Quantos pães tendes? Ide ver». Depois de se terem informado, disseram-Lhe: «Temos cinco pães e dois peixes». 39 Então mandou-lhes que os fizessem sentar a todos, em grupos, sobre a relva verde. 40 E sentaram-se em grupos de cem e de cinquenta. 41 Jesus, tomando os cinco pães e os dois peixes, elevando os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e os deu a Seus discípulos para que os distribuíssem; igualmente repartiu os dois peixes por todos. 42 Comeram todos e ficaram saciados. 43 E recolheram doze cestos cheios das sobras dos pães e dos peixes. 44 Os que tinham comido dos pães eram cinco mil homens.
Comentário

É razoável supor que houvesse pelo menos o dobro das mulheres e, ainda, muitas crianças e jovens. Estamos, então, a falar de mais de dez mil pessoas o que é um número muito considerável sobretudo nos tempos que corriam.
Toda esta gente tinha como único objectivo ouvir e ver Jesus Cristo não lhe importando, sequer, problemas tão básicos como o de alimentar-se.
O Senhor sabe tudo e lê os corações dos homens, dá-lhes o que pedem com tanta fé e vai mais longe, depois de lhes alimentar o espírito satisfaz-lhes as necessidades urgentes.

Toda aquela multidão terá ficado com a certeza que valera a pena o sacrifício e incómodos daquele dia que seria, com toda a certeza, memorável e inesquecível.

(ama, comentário sobre Mc 6, 34-44, 2014.01.07)

Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus 268 a 278

268         
Audácia para falar de Deus

E como realizaremos esse apostolado? Antes de mais, com o exemplo, vivendo de acordo com a Vontade do Pai, como Jesus Cristo nos revelou com a sua vida e os seus ensinamentos. Fé verdadeira é aquela que não permite que as acções contradigam o que se afirma com as palavras. Devemos medir a autenticidade da nossa fé examinando a nossa conduta pessoal. Se não nos esforçamos por realizar com os nossos actos o que confessamos com os lábios, não somos sinceramente crentes

269          
Vem agora a propósito recordar um episódio que põe em evidência o esplêndido vigor apostólico dos primeiros cristãos. Não tinha passado um quarto de século desde que Jesus subira aos céus e já em muitas cidades e povoados se propagava a sua fama. A Éfeso chega um homem chamado Apolo, varão eloquente e versado nas Escrituras. Estava instruído no caminho do Senhor; pregava com fervor de espírito e ensinava com exactidão o que dizia respeito a Jesus, embora só conhecesse o baptismo de João.

Na mente desse homem já se tinha insinuado a luz de Cristo. Ouvira falar d'Ele e anuncia-o aos outros. Mas ainda lhe faltava um pouco de caminho para se informar melhor, abraçar totalmente a fé e amar deveras o Senhor. Áquila e Priscila, um casal em que ambos são cristãos, ouvem as suas palavras e não ficam inactivos, indiferentes. Não pensam: este já sabe bastante; não temos por que lhe dar lições. Como eram almas com autêntica preocupação apostólica, foram ter com Apolo, levaram-no consigo e instruíram-no mais a fundo na doutrina do Senhor.

270         
Admirai também o comportamento de S. Paulo: prisioneiro, por divulgar os ensinamentos de Cristo, não desaproveita ocasião alguma para difundir o Evangelho. Diante de Festo e Agripa, não duvida em declarar: Graças ao auxílio de Deus, perseverei até ao dia de hoje, dando testemunho da verdade a pequenos e grandes, não pregando senão o que Moisés e os profetas disseram que havia de suceder: que Cristo havia de padecer, e que seria o primeiro a ressuscitar dos mortos, e que anunciaria a luz a este povo e aos gentios.

O apóstolo não se cala, não oculta a sua fé nem a actividade apostólica que tinha provocado o ódio dos seus perseguidores; continua a anunciar a salvação a toda a gente. E com uma audácia maravilhosa enfrenta-se com Agripa: Crês, ó rei Agripa, nos profetas? Eu sei que crês. Quando Agripa comenta: Por pouco não me persuades a fazer-me cristão, Paulo disse-lhe: Prouvera a Deus que, por pouco ou muito, não somente tu, mas também quantos me ouvem se fizessem hoje tais como eu sou, menos estas cadeias.

271         
Donde tirava S. Paulo esta força? Omnia possum in eo qui me confortat! Tudo posso, porque só Deus me dá esta fé, esta esperança, esta caridade. Custa-me muito acreditar na eficácia sobrenatural de um apostolado que não esteja apoiado, solidamente centrado, numa vida de contínua intimidade com o Senhor. E isto no meio do trabalho, dentro de casa ou no meio da rua, com todos os problemas mais ou menos importantes que surgem todos o dias. Em qualquer sítio onde se esteja, mas com o coração em Deus. E então as nossas palavras e as nossas acções - até as nossas misérias! - exalarão o bonus odor Christi, o bom odor de Cristo, que os outros forçosamente hão-de sentir: aí está um verdadeiro cristão.

272         
Se cedesses à tentação de perguntar a ti mesmo: quem me manda a mim meter-me nisto? teria de responder-te: manda-to, pede-to o próprio Cristo. A messe é grande e os operários são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe. Não digas, comodamente: eu para isto não sirvo; para isto já há outros; não estou feito para isto... Não. Para isto não há outros. Se tu pudesses falar assim, todos podiam dizer a mesma coisa. O pedido de Cristo dirige-se a todos e cada um dos cristãos. Ninguém está dispensado: nem por razões de idade, nem de saúde, nem de ocupação. Não há desculpas de nenhum género. Ou produzimos frutos de apostolado ou a nossa fé será estéril.

273         
Além disso, quem disse que para falar de Cristo, para difundir a sua doutrina, era preciso fazer coisas especiais, fora do comum? Faz a tua vida normal; trabalha onde estás a trabalhar, procurando cumprir os deveres do teu estado, acabar bem o que é próprio da tua profissão ou do teu ofício, superando-te, melhorando-te dia-a-dia. Sê leal, compreensivo com os outros e exigente contigo mesmo. Sê mortificado e alegre. Será esse o teu apostolado. E, sem saberes porquê, tendo perfeita consciência das tuas misérias, os que te rodeiam virão ter contigo e, numa conversa natural, simples - à saída do trabalho, numa reunião familiar, no autocarro, ao dar um passeio, em qualquer parte - falareis de inquietações que em todas as almas existem, embora às vezes alguns não queiram dar por isso. Mas cada vez as perceberão melhor, desde que comecem a procurar Deus a sério.

Pede a Maria, Regina apostolorum, que te decidas a participar nas ânsias de sementeira e de pesca que estão no Coração do seu Filho. Garanto-te que, se começares, terás a barca cheia, como os pescadores da Galileia. E Cristo na margem, à tua espera. Porque a pesca é sua.

274         
Todas as festas de Nossa Senhora são grandes, porque constituem ocasiões que a Igreja nos oferece para demonstrar com factos o nosso amor a Santa Maria. Mas se tivesse de escolher entre essas festividades, preferiria a de hoje: a Maternidade divina da Santíssima Virgem.

Esta celebração leva-nos a considerar alguns dos mistérios centrais da nossa fé, fazendo-nos meditar na Encarnação do Verbo, obra das três pessoas da Santíssima Trindade. Maria, Filha de Deus Pai, pela Encarnação do Senhor no seu seio imaculado é Esposa de Deus Espírito Santo e Mãe de Deus Filho.

Quando a Virgem, livremente, respondeu sim aos desígnios que o Criador lhe revelou, o Verbo divino assumiu a natureza humana - a alma racional e o corpo formado no seio puríssimo de Maria. A natureza divina e a humana uniam-se numa única Pessoa: Jesus Cristo, verdadeiro Deus e, desde então, verdadeiro Homem; eterno Unigénito do Pai e, a partir daquele momento, como Homem, filho verdadeiro de Maria. Por isso, Nossa Senhora é Mãe do Verbo encarnado, da segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que uniu a si para sempre - sem confusão - a natureza humana. Podemos dizer bem alto à Virgem Santa, como o melhor louvor, estas palavras que exprimem a sua mais alta dignidade: Mãe de Deus.

275         
Fé do povo cristão

Sempre foi esta a doutrina certa da fé. Contra os que a negaram, o Concílio de Éfeso proclamou que se alguém não confessa que o Emanuel é verdadeiramente Deus e que, por isso, a Santíssima Virgem é Mãe de Deus, visto que gerou segundo a carne o Verbo de Deus encarnado, seja anátema.

A história conservou-nos testemunhos da alegria dos cristãos perante estas decisões claras, nítidas, que reafirmavam aquilo em que todos já acreditavam: Todo o povo da cidade de Éfeso, desde as primeiras horas da manhã até à noite, permaneceu ansioso à espera da resolução... Quando se soube que o autor das blasfémias tinha sido deposto, todos a uma voz começaram a glorificar a Deus e a aclamar o Sínodo, porque tinha caído o inimigo da fé. Logo que saímos da igreja fomos acompanhados com archotes a nossas casas. Era de noite: toda a cidade estava alegre e iluminada.

Assim escreve S. Cirilo e não posso negar que, mesmo passados dezasseis séculos, aquela reacção de piedade me impressiona profundamente.

Queira Deus Nosso Senhor que esta mesma fé arda nos nossos corações e que se erga dos nossos lábios um cântico de acção de graças, porque a Trindade Santíssima, ao escolher Maria para Mãe de Cristo, homem como nós, pôs cada um de nós sob o seu manto maternal. É Mãe de Deus e nossa Mãe.

276         
A Maternidade divina de Maria é a raiz de todas as perfeições e privilégios que a adornam. Por esse título, foi concebida imaculada e está cheia de graça, é sempre virgem, subiu ao céu em corpo e alma, foi coroada Rainha de toda a criação, acima dos anjos e dos santos. Mais que Ela, só Deus. A Santíssima Virgem, por ser Mãe de Deus, possui uma dignidade, de certo modo infinita, do bem infinito que é Deus. Não há perigo de exageros. Nunca aprofundaremos bastante este mistério inefável; nunca poderemos agradecer suficientemente à Nossa Mãe a familiaridade que nos deu com a Santíssima Trindade.

Éramos pecadores e inimigos de Deus. A Redenção não só nos livra do pecado e reconcilia com o Senhor; mas converte-nos em filhos, entrega-nos uma Mãe, a mesma que gerou o verbo, segundo a Humanidade. Pode haver maior prodigalidade, maior excesso de amor? Deus ansiava redimir-nos, dispunha de muitas possibilidades para executar a sua Santíssima Vontade, segundo a sua infinita sabedoria. Escolheu uma que dissipa todas as dúvidas possíveis sobre a nossa salvação e glorificação. Como o primeiro Adão não nasceu de homem e de mulher, mas foi plasmado em terra, assim também o último Adão, que havia de curar a ferida do primeiro, tomou um corpo formado no seio de uma virgem para ser, segundo a carne, igual à carne dos que pecaram.

277         
Mãe do amor formoso

Ego quasi vitis fructificavi...; como a videira deitei formosos ramos e as minhas flores deram saborosos e ricos frutos. Assim lemos na Epístola. Que esse aroma de suavidade que é a devoção à nossa Mãe abunde na nossa alma e na alma de todos os cristãos e nos leve à confiança mais completa em quem vela sempre por nós.

Eu sou a Mãe do amor formoso, do temor, da ciência e da santa esperança, lições que hoje nos recorda Santa Maria. Lição de amor formoso, de vida limpa, de um coração sensível e apaixonado, para que aprendamos a ser fiéis ao serviço da Igreja. Este não é um amor qualquer; é o Amor. Aqui não há traições, nem cálculos, nem esquecimentos. Um amor formoso, porque tem como princípio e como fim o Deus três vezes Santo, que é toda a Beleza e toda a Bondade e toda a Grandeza.

Mas também se fala de temor. Não concebo outro temor senão o de nos afastarmos do Amor. Porque Deus Nosso Senhor não nos quer abatidos, timoratos ou com uma entrega anódina. Precisa de que sejamos audazes, valentes, delicados. O temor, que o texto sagrado nos recorda, traz-nos à lembrança aquela outra queixa da Escritura: procurei o amado da minha alma; procurei-o e não o encontrei.

Isto pode acontecer, se o homem não compreendeu, até ao fundo, o que significa amar a Deus. Sucede então que o coração se deixa arrastar por coisas que não conduzem ao Senhor. E, por consequência, perdemo-lo de vista. Outras vezes será talvez o Senhor quem se esconde; ele sabe porquê. Anima-nos assim a procurá-lo com maior ardor e, quando o descobrimos, exclamamos cheios de júbilo; encontrei-o e já não o deixarei.

278
        
O Evangelho da Santa Missa recordou-nos aquela cena comovente de Jesus que fica em Jerusalém ensinando no templo. Maria e José perguntaram por ele a parentes e conhecidos. E, como não o encontrassem, voltaram a Jerusalém à sua procura. A Mãe de Deus, que procurou com afã o seu Filho, perdido sem sua culpa e que sentiu a maior alegria ao encontrá-lo, ajudar-nos-á a voltar atrás, a rectificar o que for preciso, quando, pelas nossas leviandades ou pecados, não consigamos descobrir Cristo. Teremos assim a alegria de o abraçar de novo, para lhe dizer que nunca mais o perderemos.

Maria é Mãe da ciência, porque com Ela se aprende a lição que mais importa: que nada vale a pena se não estamos junto do Senhor, que de nada servem todas as maravilhas da terra, todas as ambições satisfeitas, se no nosso peito não arde a chama de amor vivo, a luz da santa esperança, que é uma antecipação do amor interminável, na nossa Pátria definitiva.

(cont)





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