Art.
3 - Se a alma de Cristo tinha a ciência infusa por via de comparação.
O terceiro discute-se assim. Parece
que a alma de Cristo não tinha a ciência infusa por via de comparação.
1 - Pois, diz Damasceno: Não
atribuímos a Cristo nem conselho sem eleição. Ora, aquele e esta não se lhe
negam senão porque implicam a comparação e o discurso. Logo, parece que em
Cristo não havia ciência comparativa nem discursiva.
2. Demais. — O homem necessita da
comparação e do discurso racional para inquirir o que ignora. Ora, a alma de
Cristo sabia tudo, como se disse. Logo, nele não havia ciência comparativa nem
discursiva.
3. Demais. — A ciência da alma de
Cristo era igual à dos que gozam da visão beatífica, como os anjos, segundo diz
o Evangelho. Ora, os anjos não têm ciência discursiva ou comparativa, como está
claro em Dionísio. Logo, nem também a alma de Cristo tinha ciência discursiva
ou comparativa.
Mas, em contrário, Cristo tinha uma
alma racional, como se estabeleceu. Ora, é próprio da alma racional comparar e
discorrer de um conhecimento para outro. Logo, em Cristo havia ciência
discursiva ou comparativa.
Uma ciência pode ser
discursiva ou comparativa de dois modos. - Primeiro, quanto à sua aquisição,
como se dá connosco que chegamos a um conhecimento por meio de outro - assim,
dos efeitos, pelas causas e inversamente. Ora, deste modo, a ciência da alma de
Cristo não era discursiva ou comparativa, pois, essa ciência inata, de que
agora tratamos, foi-lhe infundida por Deus, e não adquirida pela investigação
racional. — Noutro sentido, uma ciência pode ser chamada discursiva ou
comparativa, quanto ao seu uso. Assim, às vezes, do conhecimento das causas
concluímos os efeitos, e não adquirimos assim um novo conhecimento, mas usamos
de uma ciência que já possuíamos. E, deste modo, a ciência da alma de Cristo
podia ser comparativa e discursiva, pois, podia de uma conclusão deduzir outra,
como lhe aprouvesse. Assim, como se lê no Evangelho, quando o Senhor perguntou
a Pedro, de quem os reis da terra recebiam tributo se dos seus ou dos estranhos,
e como Pedro respondesse, que dos estranhos, o Senhor concluiu — Logo os filhos
são isentos.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— De Cristo se exclui o conselho acompanhado de dúvida, e por consequência, a
eleição, que por essência inclui um tal conselho. Mas, Cristo não estava
privado do uso do conselho.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A referida objecção
procede, quanto ao discurso e à comparação, enquanto ordenados à aquisição da
ciência.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Os
bem-aventurados são iguais aos anjos quanto aos dons das graças, mas permanece
entre eles a diferença de natureza. Donde, usar da comparação e do discurso é conatural
às almas dos bem-aventurados, mas não, à dos anjos.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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