Art.
3 — Se em Cristo há uma outra ciência infusa além da ciência beatífica.
O terceiro discute-se assim. — Parece
que em Cristo não há outra ciência infusa, além da beatífica.
1. — Pois, qualquer ciência criada
está para a ciência da visão beatífica como o imperfeito, para o perfeito. Ora,
a presença do conhecimento perfeito exclui a do imperfeito, assim como a visão
manifesta face a face exclui a enigmática, da fé, segundo se lê no Apóstolo.
Ora, como Cristo tinha a ciência da visão beatífica, conforme dissemos, parece
que não podia ter outra ciência, infusa.
2. Demais. — O modo imperfeito do
conhecimento dispõe para o perfeito, assim a opinião, fundada no silogismo
dialético, dispõe para a ciência, fundada no silogismo demonstrativo. Ora, quem
já tem a perfeição não precisa de nenhuma disposição ulterior, assim como não
há necessidade de movimento quando o termo foi atingido. Mas, qualquer
conhecimento criado, estando para o da visão beatífica como o imperfeito, para
o perfeito e como a disposição, para o termo, parece que, a Cristo, não lhe era
necessário nenhum outro conhecimento, desde que tinha o da visão beatífica.
3. Demais. — Assim como a matéria
corpórea está em potência para a forma sensível assim o intelecto possível para
a forma inteligível. Ora, a matéria corpórea não pode receber simultaneamente
duas formas sensíveis - uma mais perfeita e outra menos perfeita. Logo, nem a
alma pode simultaneamente ter duas ciências, mais uma perfeita e outra menos
perfeita. Donde se conclui o mesmo que antes.
Mas, em contrário, o Apóstolo: Em
Cristo estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A visão imperfeita da fé inclui por essência o oposto à visão manifesta, por
ser da natureza da fé ter por objecto o invisível, como se disse na Segunda
Parte. Ao passo que o conhecimento por meio das espécies infusas nada inclui de
oposto ao conhecimento beatífico. Donde, não há paridade em ambos os casos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A disposição relaciona-se
com a perfeição, de dois modos, como a via conducente a ela e como um efeito
dela procedente. Assim, pelo calor a matéria dispõe-se a receber a forma do
fogo, cuja presença não faz cessar o calor, que permanece, quase como um efeito
de tal forma. Semelhantemente, a opinião causada pelo silogismo dialético é via
à ciência adquirida por demonstração, com cuja aquisição pode coexistir o
conhecimento pelo silogismo dialético, como uma consequência da ciência
demonstrativa, que é um conhecimento pela causa, pois, quem conhece a causa
pode também, por ela, com maior razão, conhecer os sinais prováveis, dos quais
procede o silogismo dialético. Do mesmo modo, em Cristo, com a ciência da bem-aventurança
coexiste a ciência infusa, não como via para a bem-aventurança, mas como
confirmada por ela.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O conhecimento
da bem-aventurança não se opera por uma espécie que seja semelhança da essência
divina ou das coisas que na espécie divina se conhecem, como resulta do que foi
dito na Primeira Parte. Mas tal conhecimento atinge a própria essência
imediatamente, por estar a essência divina unida à alma beata como o
inteligível ao inteligente. Ora, a essência divina é uma forma que excede à
proporção de qualquer criatura. Donde, nada impede coexistirem, na alma
racional, com essa forma sobre-excedente, espécies inteligíveis proporcionadas
à sua natureza.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.