Evangelho: Mt 11 11-15
11
«Na verdade vos digo que entre os nascidos de mulher não veio ao mundo outro
maior que João Baptista; mas o menor no Reino dos Céus é maior do que ele. 12
«Desde os dias de João Baptista até agora, o Reino dos Céus sofre uma forte
oposição, e são os esforçados que o conquistam. 13 Com efeito, todos
os profetas e a Lei profetizaram até João. 14 E, se vós quereis
compreender, ele mesmo é o Elias que há-de vir. 15 O que tem ouvidos
para ouvir, oiça.
Comentário:
Jesus Cristo
define exactamente o que é necessário para compreender quanto se refere ao
Reino de Deus. Tal deveria ser a preocupação de todos os homens, incluindo, por
maioria de razão, os cristãos.
Ouvir!
Sim… ouvir
tudo como é realmente e não só aquilo que nos convém ou vai ao encontro dos
nossos desejos.
Não há
alternativa! Quem se atreve a dizer que sim, acredita, mas… não sabe o que diz.
Não há meio-termo. Ou sim ou não! Ou se aceita absoluta e totalmente ou se
rejeita no todo!
Fundamentalmente,
temos de ter presente que o Reino de Deus é para nós mas não é nosso, é de
Deus.
Que temos
direito a ele porque Jesus Cristo no-lo concedeu com a Sua morte ressurreição,
mas, além de termos de o merecer, há que seguir estritamente as “condições”.
(Comentário sobre Mt, 11, 11-15, 2013.12.12)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Amigos de Deus 39 a 47
39
Gosto
sempre de lembrar, quando me dirijo a vós e conversamos todos juntos com Deus
Nosso Senhor, que estou a fazer a minha oração pessoal em voz alta. Pela vossa
parte, deveis esforçar-vos também por alimentar a vossa oração nas vossas
almas, mesmo quando, por qualquer circunstância, como a de hoje, por exemplo,
sintamos a obrigação de tratar de um tema que não parece, à primeira vista,
muito adequado para um diálogo de amor, que é isso o nosso colóquio com o
Senhor. Digo à primeira vista, porque tudo o que nos acontece, tudo o que se
passa ao nosso lado pode e deve ser tema da nossa meditação.
Tenho
de falar-vos do tempo, deste tempo que vai passando. Não vou repetir a
conhecida afirmação de que um ano a mais é um ano a menos... Nem sequer vos
sugiro que pergunteis o que é que por aí pensam da passagem dos dias, pois
provavelmente - se o fizésseis - ouviríeis alguma resposta deste estilo:
juventude, divino tesouro, que passas para não voltar... Embora admita que
talvez ouvísseis alguma consideração com mais sentido sobrenatural.
Também
não quero deter-me a pensar na brevidade da vida, com laivos de nostalgia. Para
nós, cristãos, a fugacidade do caminho terreno deve incitar-nos a aproveitar
melhor o tempo, não a temer Nosso Senhor, e muito menos a olhar a morte como um
final desastroso. Um ano que termina - já foi dito de mil modos, mais ou menos
poéticos - com a graça e a misericórdia de Deus, é mais um passo que nos
aproxima do Céu, nossa Pátria definitiva.
Ao
pensar nesta realidade, compreendo perfeitamente aquela exclamação que S. Paulo
escreve aos de Corinto: tempus breve est!, que breve é a nossa passagem pela
terra! Para um cristão coerente, estas palavras soam, no mais íntimo do seu
coração, como uma censura à falta de generosidade e como um convite constante a
ser leal. Realmente é curto o nosso tempo para amar, para dar, para desagravar.
Não é justo, portanto, que o malbaratemos, nem que atiremos irresponsavelmente
este tesouro pela janela fora. Não podemos desperdiçar esta etapa do mundo que
Deus confia a cada um de nós.
40
Abramos
o Evangelho de S. Mateus, no capítulo vigésimo quinto: então será semelhante o reino
dos céus a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do
esposo e da esposa. Mas cinco delas eram loucas e cinco prudentes. O
evangelista conta que as prudentes aproveitaram o tempo. Abastecem-se
discretamente do azeite necessário e estão preparadas quando as avisam: Eia,
está na hora! Eis que vem o esposo, saí ao seu encontro; avivam as suas
lâmpadas e apressam-se a recebê-lo com alegria.
Há-de
chegar também para nós esse dia, que será o último e não nos causa medo.
Confiando firmemente na graça de Deus, estamos dispostos desde este momento,
com generosidade, com fortaleza, pondo amor nas pequenas coisas, a acudir a
esse encontro com o Senhor, levando as lâmpadas acesas, porque nos espera a
grande festa do Céu. Somos nós, irmãos queridíssimos, os que intervimos nas
bodas do Verbo. Nós, que já temos fé na Igreja, que nos alimentamos com a
Sagrada Escritura, que nos sentimos contentes pelo facto de a Igreja estar
unida a Deus. Pensai agora, peço-vos, se viestes a esta boda com o traje
nupcial: examinai atentamente os vossos pensamentos. Asseguro-vos - e também o
asseguro a mim mesmo - que esse traje de cerimónia será tecido com o amor de
Deus com que tivermos sabido realizar até as mais pequenas tarefas.
Efectivamente, é próprio dos apaixonados cuidar dos pormenores, mesmo nas
acções que aparentemente não têm importância.
41
Mas
voltemos à sequência da parábola. E as fátuas, que fazem? A partir de então, já
põem empenho em esperar o Esposo, pois vão comprar azeite. Mas decidiram-se
tarde e, enquanto foram, chegou o esposo; e as que estavam preparadas entraram
com ele a celebrar as bodas, e fechou-se a porta. Mais tarde vieram também as
outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos! Não é que tenham permanecido
inactivas, pois tentaram fazer alguma coisa... Mas ouviram a voz que lhes
responde com dureza: não vos conheço. Não souberam ou não quiseram preparar-se
com a solicitude devida e esqueceram-se de tomar a razoável precaução de
adquirir o azeite a tempo. Faltou-lhes generosidade para cumprirem acabadamente
o pouco que lhes tinha sido pedido. Dispunham na verdade de muitas horas, mas
desaproveitaram-nas.
Pensemos
na nossa vida com valentia. Por que é que às vezes não conseguimos os minutos
de que precisamos para terminar amorosamente o trabalho que nos diz respeito e
que é o meio da nossa santificação? Por que descuidamos as obrigações
familiares? Por que é que se nos mete a precipitação no momento de rezar ou de
assistir ao Santo Sacrifício da Missa? Por que nos faltará a serenidade e a
calma para cumprir os deveres do nosso estado e nos entretemos sem qualquer
pressa nos caprichos pessoais? Podeis responder-me: são coisas pequenas. Sim,
com efeito, mas essas coisas pequenas são o azeite, o nosso azeite, que mantém
viva a chama e acesa a luz.
42
Desde a primeira hora
O
reino dos céus é semelhante a um pai de família que, ao romper da manhã, saiu a
contratar operários para a sua vinha. Conheceis já a narração: aquele homem
volta à praça em diferentes ocasiões para contratar trabalhadores, sendo uns
chamados ao romper da aurora e outros muito perto da noite.
Todos
recebem um denário: o salário que te tinha prometido, isto é, a minha imagem e
semelhança. No denário está impressa a imagem do Rei. Esta é a misericórdia de
Deus, que chama a cada um de acordo com as suas circunstâncias pessoais, porque
quer que todos os homens se salvem. Mas nós nascemos cristãos, fomos educados
na fé, fomos escolhidos claramente pelo Senhor. Esta é a realidade. Então,
quando vos sentis chamados a corresponder, mesmo que seja à última hora,
podereis continuar na praça pública a apanhar sol, como muitos daqueles
operários, porque lhes sobrava tempo?
Não
nos deve sobrar o tempo. Nem um segundo. E não exagero! Trabalho há sempre. O
mundo é grande e são milhões as almas que não ouviram ainda falar claramente da
doutrina de Cristo. Dirijo-me a cada um de vós. Se te sobra tempo, medita um
pouco: é muito possível que vivas no meio da tibieza, ou que,
sobrenaturalmente, sejas um paralítico. Não te mexes, estás parado, estéril,
sem realizar todo o bem que deverias comunicar aos que se encontram a teu lado,
no teu ambiente, no teu trabalho, na tua família.
43
Dir-me-ás
talvez: e porque havia eu de me esforçar? Não sou eu quem te responde, mas S.
Paulo: o amor de Cristo urge-nos. Todo o espaço de uma existência é pouco para
alargar as fronteiras da tua caridade. Desde os primeiríssimos começos do Opus
Dei, manifestei o meu grande empenho em repetir sem cessar, para as almas generosas
que se decidam a traduzi-lo em obras, aquele grito de Cristo: nisto conhecerão
todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.
Conhecer-nos-ão precisamente por isso, porque a caridade é o ponto de arranque
de qualquer actividade de um cristão.
Jesus,
que é a própria pureza, não garante que conhecerão os seus discípulos pela
limpeza da sua vida. Ele, que é a sobriedade, que nem sequer dispõe de uma
pedra onde reclinar a cabeça, que passou tantos dias em jejum e em retiro, não
diz aos Apóstolos: conhecer-vos-ão como meus escolhidos, porque não sois
comilões nem bebedores.
A
vida limpa de Cristo era - como foi e será em todas as épocas - uma bofetada na
sociedade de então, tão podre como a de agora. A sua sobriedade, outro látego
para aqueles que se banqueteavam continuamente e provocavam o vómito depois de
estarem cheios, para poderem continuar a comer, cumprindo à letra as palavras
de Saulo: convertem o seu ventre num Deus.
44
A
humildade do Senhor era outro golpe naquele modo de consumir a vida, cada um
ocupado apenas consigo mesmo. Estando em Roma, comentei repetidas vezes, e
talvez até já mo tenhais ouvido dizer, que por baixo desses arcos, hoje em
ruínas, desfilavam, triunfantes, vãos, orgulhosos, cheios de soberba, os imperadores
e os seus generais vitoriosos. Ao atravessarem esses monumentos, é provável que
baixassem a cabeça com receio de baterem no arco grandioso com a majestade das
suas frontes. Todavia, Cristo, tão humilde, também não declara: conhecerão que
sois meus discípulos, se fordes humildes e modestos.
Queria
fazer-vos notar que, após vinte séculos, ainda aparece com toda a pujança de
novidade o Mandato do Mestre, que é uma espécie de carta de apresentação do
verdadeiro filho de Deus. Ao longo da minha vida sacerdotal, tenho pregado com
muitíssima frequência que, desgraçadamente para muitos, continua a ser novo,
porque nunca ou quase nunca se esforçaram por praticá-lo. É triste, mas é
assim. E não há dúvida nenhuma de que a afirmação do Messias ressalta de modo terminante:
nisto vos conhecerão, que vos amais uns aos outros! Por isso, sinto a
necessidade de recordar constantemente essas palavras do Senhor. S. Paulo
acrescenta: levai os fardos uns dos outros e, desta maneira, cumprireis a lei
de Cristo. Momentos perdidos, talvez com a falsa desculpa de que te sobra
tempo... Se há tantos irmãos, amigos teus, sobrecarregados de trabalho! Com delicadeza,
com cortesia, com um sorriso nos lábios, ajuda-os, de tal maneira que se torne
quase impossível que o notem; e que nem se possam mostrar agradecidos, porque a
discreta finura da tua caridade fez com que ela passasse inadvertida.
Não
tinham tido um instante livre, argumentariam aquelas infelizes que vão com as
lâmpadas vazias. Aos operários da praça sobra-lhes a maior parte do dia, porque
não se sentem obrigados a prestar serviço, embora o convite do Senhor seja
contínuo e urgente desde a primeira hora. Aceitemo-lo nós, respondendo que sim,
e suportemos por amor - que já não é suportar - o peso do dia e do calor.
45
Render para Deus
Consideremos
agora a parábola daquele homem que, estando para empreender uma viagem, chamou
os seus servos e lhes entregou os seus bens. Confia a cada um deles uma quantia
diferente, para ser administrada na sua ausência. Parece-me muito oportuno
repararmos bem na conduta daquele que aceitou um talento: comporta-se de uma
forma que na minha terra se chama esperteza de cuco. Pensa, raciocina com
aquele cérebro pequenino e decide-se: cavou na terra e escondeu o dinheiro do
seu senhor.
Que
ocupação escolherá depois este homem, se abandonou o instrumento de trabalho?
Decidiu irresponsavelmente optar pela comodidade de devolver só o que lhe
entregaram. Dedicar-se-á a matar os minutos, as horas, os dias, os meses, os
anos, a vida! Os outros afadigam-se, negoceiam, empenham-se nobremente em
restituir mais do que receberam: aliás, o legítimo fruto, porque a recomendação
foi muito concreta: negotiamini dum venio, encarregai-vos deste trabalho para
conseguirdes algum lucro, até que o dono regresse. Pois este não; este
inutiliza a sua existência.
46
Que
pena viver tendo como ocupação matar o tempo, que é um tesouro de Deus! Não há
desculpas para justificar essa actuação. Que ninguém diga: só tenho um talento,
não posso ganhar nada. Também com um só talento podes agir de modo meritório.
Que tristeza não tirar partido, autêntico rendimento de todas as faculdades,
poucas ou muitas, que Deus concede ao homem para que se dedique a servir as
almas e a sociedade!
Quando
o cristão mata o seu tempo na Terra, coloca-se em perigo de matar o seu Céu,
se, pelo seu egoísmo, se retrai, se esconde, se despreocupa. Quem ama a Deus,
não entrega só o que tem, o que é, ao serviço de Deus: dá-se a si mesmo. Não vê
- em perspectiva rasteira - o seu eu na saúde, no nome, na carreira.
47
Meu,
meu, meu..., pensam, dizem e fazem muitos. Que coisa tão triste! Comenta S.
Jerónimo que, verdadeiramente, o que está escrito: "para encontrar
desculpas dos pecados" (Ps CXL, 4), acontece com estas pessoas que, ao
pecado de soberba, acrescentam a preguiça e a negligência.
É
a soberba que afirma continuamente meu, meu, meu... É um vício que converte o
homem numa criatura estéril, que lhe anula as ânsias de trabalhar por Deus e
que o leva a desaproveitar o tempo. A tua vida para ti? A tua vida para Deus,
para o bem de todos os homens, por amor ao Senhor. Desenterra esse talento!
Torna-o produtivo e saborearás a alegria de saber que, neste negócio
sobrenatural, não importa que o resultado na terra não seja uma maravilha que
os homens possam admirar. O essencial é entregarmos tudo o que somos e
possuímos, procurarmos que o talento renda e empenharmo-nos continuamente em
produzir bom fruto.
Deus
concede-nos talvez um ano mais para o servir. Não penses em cinco, nem em dois.
Pensa só neste: em um, no que começámos. E entrega-o, não o enterres! Esta
há-de ser a nossa determinação.
(cont)
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