Art.
3 — Se em Cristo existiu a fé.
O terceiro discute-se assim. — Parece
que em Cristo existiu a fé.
1. — Pois, a fé é uma virtude mais
nobre que as virtudes morais como a temperança e a liberalidade. Ora, estas
virtudes existiram em Cristo, como se disse. Logo, com maior razão nele existiu
a fé.
2. Demais. — Cristo não ensinou
virtudes que não tinha, segundo a Escritura: Começou a jazer e a ensinar. Ora,
de Cristo também diz o Apóstolo: Autor e consumador da fé. Logo, nele existiu
por excelência a fé.
3. Demais. — Dos bem-aventurados se
exclui toda imperfeição. Ora, os bem-aventurados tem a fé, pois, segundo o
Apóstolo - A justiça de Deus se descobre nele de fé em fé - diz a Ciosa: A fé
nas palavras e nos bens que esperamos torna-se a já nas próprias coisas e a
visão clara. Logo, parece que também Cristo teve a fé, pois que nenhuma
imperfeição nele existe.
Mas, em contrário, diz o Apóstolo: A
fé é um argumento das coisas que não aparecem. Ora, para Cristo nada houve de
não aparente, conforme lho disse Pedro: Tu conheces tudo. Logo, em Cristo não
havia fé.
Como demonstramos na
Segunda Parte, o objecto da fé é a realidade divina não vista. Ora, o hábito da
virtude, como qualquer outro, especifica-se pelo seu objecto. E portanto
suprimida essa condição — que a realidade divina não é vista, a fé fica
excluída na sua essência. Ora, Cristo, desde o primeiro instante da sua concepção,
viu plenamente a Deus em essência, como a seguir se verá. Logo, nele não podia
existir a fé.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A fé é uma virtude mais nobre que as virtudes morais porque versa sobre
matéria mais nobre, contudo implica uma certa deficiência relativamente a essa
matéria, deficiência que em Cristo não existiu. Logo, nele não podia existir a
fé, embora tivesse as virtudes morais, que por essência não implicam essa
deficiência relativamente às suas matérias.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O mérito da fé
consiste em assentirmos, por obediência a Deus, no que não vemos, segundo o
Apóstolo: Para que se obedeça à fé em todas as gentes pelo seu nome. Ora,
Cristo praticou plenissimamente a obediência para com Deus, segundo o Apóstolo:
Feito obediente até à morte. E assim nada ensinou que fosse uma fonte de mérito
que não o praticasse ele próprio de maneira mais excelente.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz a
Glosa no mesmo lugar, pela fé cremos propriamente no que não vemos. E
impropriamente se chama fé a que tem por objecto o que vemos, e só por certa
semelhança, quanto à certeza ou a firmeza da adesão.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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