Evangelho: Lc 21 34-36
34 «Velai, pois,
sobre vós, para que não suceda que os vossos corações se tornem pesados com o
excesso do comer e do beber e com os cuidados desta vida, e para que aquele dia
não vos apanhe de improviso; 35 porque ele virá como uma armadilha
sobre todos os que habitam a superfície de toda a terra. 36 Vigiai,
pois, orando sem cessar, a fim de que vos torneis dignos de evitar todos estes
males que devem suceder, e de aparecer com confiança diante do Filho do Homem».
Comentário:
Não
há como fugir à morte mas há como ganhar a vida!
Poderíamos
sintetizar desta forma as advertências e aviso de Cristo.
O
que, agora, fazemos é o que ficará, definitivamente feito, depois da morte já
nada se poderá tirar ou acrescentar, assim, convém muito um esforço sério e
empenhado em fazer o que se deve quando se deve, sem tergiversações nem
adiamentos, primeiro porque e se deve ser o que se é e actuar como tal: Filho
de Deus!
Segundo
porque não ‘há prazo marcado’ nem um calendário onde possamos ver ‘faltam’
tantos dias…
O
tempo certo para começar – ou recomeçar – é:
Hoje!
Agora mesmo! NUNC COEPI!
(ama, comentário sobre Lc 21, 34-36, 2012.12.01)
139
Homilia pronunciada no dia
4 de Maio de 1957.
Um
olhar pelo mundo, um olhar sobre o Povo de Deus neste mês de Maio que começa,
faz-nos contemplar o espectáculo da devoção mariana manifestada em tantos
costumes, antigos ou novos, mas sempre vividos com um mesmo espírito de amor.
Dá alegria verificar que a devoção à Virgem está sempre viva, despertando nas
almas cristãs um impulso sobrenatural para se comportarem como domestici Dei,
como membros da família de Deus.
Nestes
dias, vendo como tantos cristãos exprimem dos mais diversos modos o seu carinho
à Virgem Santa Maria, também vós certamente vos sentis mais dentro da Igreja,
mais irmãos de todos esses vossos irmãos.
É
uma espécie de reunião de família, como quando os irmãos que a VIDA separou
voltam a encontrar-se junto da Mãe, por ocasião de alguma festa. Ainda que
alguma vez tenham discutido uns com os outros e se tenham tratado mal, naquele
dia não; naquele dia sentem-se unidos, reencontram-se unidos, reencontram-se
todos no afecto comum.
Maria,
na verdade, edifica continuamente a Igreja, reúne-a, mantém-na coesa. É difícil
ter autêntica devoção à Virgem sem nos sentirmos mais vinculados aos outros
membros do Corpo Místico e também mais unidos à sua cabeça visível, o Papa. Por
isso me agrada repetir: Omnes cum Petro ad Iesum per Mariam! - todos, com
Pedro, a Jesus, por Maria! E assim, ao reconhecer-nos como parte da Igreja e
convidados a sentir-nos irmãos na Fé, descobrimos mais profundamente a
fraternidade que nos une à Humanidade inteira, porque a Igreja foi enviada por
Cristo a todos os homens e a todos os povos.
O
que acabo de dizer, todos nós o experimentamos, pois não nos têm faltado
ocasiões de comprovar os efeitos sobrenaturais de uma sincera devoção à Virgem.
Cada um de vós podia contar muitas coisas a esse propósito. E eu também. Vem-me
agora à memória uma romaria que fiz em 1935 a uma ermida da Virgem em terra
castelhana - a Sonsoles.
Não
era uma romaria no sentido habitual. Não era ruidosa nem multitudinária. Íamos
apenas três. Respeito e estimo essas outras manifestações públicas de piedade,
mas, pessoalmente, prefiro tentar oferecer a Maria o mesmo carinho e o mesmo
entusiasmo por meio de visitas pessoais, ou em pequenos grupos, com intimidade.
Naquela
romaria a Sonsoles, conheci a origem desta invocação da Virgem - pormenor sem
grande importância, mas que é uma manifestação filial da gente daquela terra. A
imagem de Nossa Senhora que se venera naquele lugar esteve escondida durante
algum tempo, na época das lutas entre cristãos e muçulmanos em Espanha. Ao cabo
de alguns anos, a imagem foi encontrada por uns pastores, que, segundo conta a
tradição, exclamaram, ao vê-la: Que lindos olhos! São sóis! *
* (N. do T.) Em castelhano, "son
soles"
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Mãe de Cristo, Mãe dos
Cristãos
Desde
esse ano de 1935, em numerosas e habituais visitas a santuários de Nossa
Senhora, tenho tido ocasiões de reflectir e de meditar sobre esta realidade - a
do carinho de tantos cristãos pela Mãe de Jesus. E sempre pensei que esse
carinho é uma correspondência de amor, uma prova de gratidão filial. Porque
Maria está bem unida à maior manifestação de amor de Deus, a Encarnação do
Verbo, que se fez homem como nós e carregou com as nossas misérias e pecados.
Maria, fiel à missão divina para que foi criada entregou-se e entrega-se
continuamente em serviço dos homens, chamados todos eles a serem irmãos do seu
Filho Jesus. E assim a Mãe de Deus é realmente agora a Mãe dos homens também,
Assim
é, porque assim o quis o Senhor. E o Espírito Santo dispôs que ficasse escrito,
para ser manifesto a todas as gerações: Estavam, junto à Cruz de Jesus, sua
Mãe, e a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria de Magdala. Ao ver
sua Mãe e, junto dela, o discípulo que Ele amava, Jesus disse a sua Mãe:
Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua Mãe. E,
desde aquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa.
João,
o discípulo amado de Jesus, recebe Maria e introdu-la em sua casa, na sua VIDA.
Os autores espirituais viram nestas palavras do Santo Evangelho um convite dirigido
a todos os cristãos para que Maria entre também nas suas vidas. Em certo
sentido, é quase supérfluo este esclarecimento. Maria quer, certamente, que a
invoquemos, que nos aproximemos d'Ela com confiança, que apelemos para a sua
maternidade, pedindo-lhe que se manifeste como nossa Mãe.
Mas
é uma Mãe que não se faz rogar, que se adianta, inclusivamente, às nossas
súplicas, pois conhece as necessidades e vem prontamente em nossa ajuda,
demonstrando com obras que se lembra constantemente dois seus FILHOS. Cada um
de nós, evocando a sua própria vida e vendo como nela se manifesta a
misericórdia de Deus, pode descobrir mil motivos para se sentir, de modo
especial, filho de Maria.
141
Os
textos da Sagrada Escritura que nos falam de Nossa Senhora fazem-nos ver
precisamente como a Mãe de Jesus acompanha o seu Filho passo a passo,
associando-se à sua missão redentora, alegrando-se e sofrendo com Ele, amando
aqueles que Jesus ama, ocupando-se com maternal solicitude de todos os que
estão a seu lado.
Pensemos,
por exemplo, no relato das bodas de Caná. Entre tantos convidados de uma
ruidosa boda rural, a que vêm pessoas de muitos lugares, Maria dá pela falta de
vinho. Repara nisso imediatamente - e só Ela. Que familiares se nos apresentam
as cenas da vida de Cristo! Porque a grandeza de Deus convive com o humano -
com o normal e corrente. Realmente, é próprio de uma mulher, de uma atenta dona
de casa, reparar num descuido, estar presente nesses pequenos pormenores que
tomam agradável a existência humana; e assim aconteceu com Maria.
Reparai
também que é João quem narra o episódio de Caná. É ele o único evangelista que
recolhe este gesto de solicitude maternal. S. João quer lembrar-vos que Maria
esteve presente no começo da vida pública do Senhor. Isto demonstra que soube
aprofundar a importância dessa presença de Nossa Senhora. Jesus sabia a quem
confiava a sua Mãe: a um discípulo que a tinha amado, que tinha aprendido a
querer-lhe como à sua própria mãe e que era capaz de entendê-la.
Pensemos
agora nos dias que se seguiram à Ascensão, à espera do Pentecostes. Os
discípulos cheios de fé pelo triunfo de Cristo ressuscitado (e ansiosos pelo
Espírito Santo prometido), querem sentir-se unidos, e encontramo-los cum Maria
Matre Iesu, com Maria, Mãe de Jesus. A oração dos discípulos acompanha a oração
de Maria: era a oração de uma família unida.
Desta
vez é S. Lucas, - o evangelista que narrou com mais extensão a infância de
Jesus, quem nos transmite este novo dado. Como se desejasse dar-nos a entender
que, assim como Maria teve um papel de primeira importância na Encarnação do
Verbo, de modo análogo também esteve presente nas origens da Igreja, que é o
Corpo de Cristo.
Desde
o primeiro momento da vida da Igreja, todos os cristãos que procuraram o amor
de Deus - esse amor que se nos revela e se faz carne em Jesus Cristo - se
encontraram com a Virgem e experimentaram de muito diversas maneiras o seu
desvelo maternal. A Virgem Santíssima pode chamar-se com verdade Mãe de todos
os cristãos. Santo Agostinho dizia-o com palavras claras: Cooperou com a sua
caridade para que nascessem na Igreja os fiéis, membros daquela cabeça, de que
é efectivamente Mãe segundo o corpo.
Não
é, pois, estranho que um dos testemunhos mais antigos da devoção a Maria seja
precisamente uma oração cheia de confiança. Refiro-me àquela antífona, composta
há séculos, que continuamos a repetir hoje em dia: À vossa protecção nos
acolhemos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as súplicas que em nossas
necessidades vos dirigimos, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem
gloriosa e bendita.
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Intimidade com Maria
De
uma maneira espontânea, natural, surge em nós o desejo de conviver com a Mãe de
Deus, que é também nossa mãe; de conviver com Ela como se convive com uma
pessoa viva, porque sobre Ela não triunfou a morte; está em corpo e alma junto
a Deus Pai, junto a seu Filho, junto ao Espírito Santo.
Para
compreendermos o papel que Maria desempenha na vida cristã, para nos sentirmos
atraídos por Ela, para desejar a sua amável companhia com filial afecto, não
são precisas grandes especulações, embora o mistério da Maternidade divina
tenha uma riqueza de conteúdo sobre a qual nunca reflectiremos bastante.
A
fé católica soube reconhecer em Maria um sinal privilegiado do amor de Deus.
Deus chama-nos, já agora, seus amigos; a sua graça actua em nós, regenera-nos
do pecado, dá-nos forças para que, entre as fraquezas próprias de quem é pó e
miséria, possamos reflectir de algum modo o rosto de Cristo. Não somos apenas
náufragos que Deus prometeu salvar; essa salvação já actua em nós. A nossa relação
com Deus não é a de um cego que anseia pela luz mas que geme entre as angústias
da obscuridade; é a de um filho que se sabe amado por seu Pai.
Dessa
cordialidade, dessa confiança, dessa segurança, nos fala Maria. Por isso o seu
nome vai tão direito aos nossos corações. A relação de cada um de nós com a
nossa própria mãe pode servir-nos de modelo e de pauta para a nossa intimidade
com a Senhora do Doce Nome, Maria. Temos de amar a Deus com o mesmo coração com
que amamos os nossos pais, os nossos irmãos, os outros membros da nossa
família, os nossos amigos ou amigas. Não temos outro coração. E com esse mesmo
coração havemos de querer a Maria.
Como
se comporta um filho ou uma filha normal com a sua Mãe? De mil maneiras, mas
sempre com carinho e confiança. Com um carinho que se manifestará em cada caso
de determinadas formas, nascidas da própria vida, e que nunca são algo de frio,
mas costumes muito íntimos de família, pequenos pormenores diários que o filho
precisa de ter com a sua mãe e de que a mãe sente falta, se o filho alguma vez
os esquece: um beijo ou uma carícia ao sair ou ao voltar a casa, uma pequena
delicadeza, umas palavras expressivas...
Nas
nossas relações com a nossa Mãe do Céu, existem também essas normas de piedade
filial, que são modelo do nosso comportamento habitual com Ela. Muitos cristãos
tornam seu o antigo costume do escapulário; ou adquirem o hábito de saudar (não
são precisas palavras; o pensamento basta) as imagens de Maria que há em
qualquer lar cristão ou que adornam as ruas de tantas cidades; ou dão vida a
essa oração maravilhosa que é o Terço, em que a alma não se cansa de dizer
sempre as mesmas coisas, como não se cansam os enamorados, e em que se aprende
a reviver os momentos centrais da vida do Senhor; ou então habituam-se a
dedicar à Senhora um dia da semana - precisamente este em que estamos reunidos:
o sábado - oferecendo-lhe alguma pequena delicadeza e meditando mais especialmente
na sua maternidade...
Há
muitas outras devoções marianas que não é necessário recordar aqui neste
momento. Nem todas têm de fazer parte da vida de cada cristão - crescer em vida
sobrenatural é algo de muito diferente de ir amontoando devoções - mas devo
afirmar ao mesmo tempo que não possui a plenitude da fé cristã quem não vive
alguma delas, quem não manifesta de algum modo o seu amor a Maria.
Os
que consideram ultrapassadas as devoções à Virgem Santíssima dão sinais de
terem perdido o profundo sentido cristão que elas encerram e esquecido a fonte
donde nascem: a fé na vontade salvífica de Deus Pai; o amor a Deus Filho, que
Se fez Homem realmente e nasceu de uma mulher; a confiança em Deus Espírito
Santo, que nos santifica com a sua graça. Foi Deus quem nos deu Maria e não
temos o direito de rejeitá-la, mas devemos recorrer a Ela com amor e com
alegria de filhos.
143
Tornarmo-nos crianças no
amor de Deus
Consideremos
atentamente este ponto, porque nos pode ajudar a compreender coisas muito
importantes. O mistério de Maria faz-nos ver que, para nos aproximarmos de
Deus, é preciso tornarmo-nos pequenos. Em verdade vos digo, - exclamou o Senhor
dirigindo-Se aos seus discípulos - se não voltardes a ser como meninos, não podereis
entrar no reino dos Céus.
Tornarmo-nos
meninos... Renunciar à soberba, à auto-suficiência; reconhecer que, sozinhos,
nada podemos, porque necessitamos da graça, do poder do nosso Pai, Deus, para
aprender a caminhar e para perseverar no caminho. Ser pequeno exige
abandonar-se como se abandonam as crianças, crer como crêem as crianças, pedir
como pedem as crianças.
Tudo
isto aprendemos na intimidade com Maria. A devoção à Virgem não é moleza; é
consolo e júbilo que enche a alma precisamente porque exige o exercício
profundo e íntegro da Fé, que nos faz sair de nós mesmos e colocar a nossa
esperança no Senhor. Iavé é o meu pastor - canta um dos salmos - e nada me
faltará. Em verdes prados me faz repousar, conduz-me junto das águas saborosas,
reconforta a minha alma e guia-me por caminhos rectos, em virtude do seu nome.
Ainda que eu vá por um vale tenebroso, nenhum mal temerei, porque Tu estás
comigo.
Porque
Maria é Mãe, a sua devoção ensina-nos a ser filhos - a amar deveras, sem
medida; a ser simples, sem as complicações que nascem do egoísmo de pensar só
em nós; a estar alegres, sabendo que nada pode destruir a nossa esperança. O
princípio do caminho que leva à loucura do amor de Deus é um confiado amor a
Maria Santíssima. Assim o escrevi já há muitos anos, no prólogo a uns comentários
ao Santo Rosário, e desde então muitas vezes voltei a comprovar a verdade
destas palavras. Não vou fazer aqui muitas considerações para glosar esta
ideia; convido-vos, sim, a fazerdes vós a experiência, a descobrirdes isso por
vós mesmos, conversando amorosamente com Maria, abrindo-lhe o vosso coração,
confiando-lhe as vossa alegrias e as vossas penas, pedindo-lhe que vos ajude a
conhecer e a seguir Jesus.
144
Se
procurais Maria, encontrareis Jesus. E aprendereis a entender um pouco o que há
nesse coração divino, que se aniquila, que renuncia a manifestar o seu poder e
a sua majestade, para se apresentar sob a forma de escravo. Falando
humanamente, poderíamos dizer que Deus Se excede, pois não se limita ao que
seria essencial e imprescindível para salvar-nos, mas vai mais além. A única
norma ou medida que nos permite compreender de algum modo essa maneira de
actuar de Deus é reparar que não tem medida, ver que nasce de uma loucura de
amor, que O leva a tomar a nossa carne e a carregar com o peso dos nossos
pecados.
Como
é possível dar-nos conta disto, advertirmos que Deus nos ama e não ficarmos
também nós loucos de amor? É necessário deixar que estas verdades da nossa fé
nos vão penetrando na alma, até transformarem toda a nossa vida. Deus ama-nos!
O Omnipotente, o que fez os Céus e a Terra!
Deus
interessa-Se pelas mais pequenas coisas das suas criaturas - pelas vossas e
pelas minhas - e chama-nos, um a um, pelo nosso próprio nome. Esta certeza que
a Fé nos dá faz-nos olhar o que nos cerca a uma luz nova e, permanecendo tudo
igual, leva-nos a ver que tudo é diferente, porque tudo é expressão do amor de
Deus.
A
nossa vida converte-se, desse modo, numa continua oração, num bom humor e numa
paz que nunca se acabam, num acto de acção de graças desfiado ao longo das
horas. A minha alma glorifica a Senhor - cantou a Virgem Maria - e o meu
espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humilde
condição da sua Serva. Por isso, desde agora todas as gerações me hão-de chamar
bem-aventurada, porque fez em mim grandes coisas o Omnipotente, cujo nome é
Santo.
A
nossa oração pode acompanhar e imitar essa oração de Maria. Tal como Ela,
sentiremos desejo de cantar, de proclamar as maravilhas de Deus, para que a
Humanidade inteira e todos os seres participem da nossa felicidade.
(cont)
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