Art.
2 — Se Cristo tinha um corpo carnal ou terrestre ou celeste.
O segundo discute-se assim. — Parece
que Cristo não tinha um corpo carnal nem terrestre nem celeste.
1. — Pois, diz o Apóstolo: O primeiro
homem, formado da terra é terreno, o segundo homem, do céu, celestial. Ora,
Adão, o primeiro homem, era de terra, quanto ao corpo, como se lê na Escritura.
Logo, também Cristo, o segundo homem, era do céu, pelo corpo.
2. Demais. — O Apóstolo diz: A carne e
o sangue não podem possuir o reino de Deus. Ora, o reino de Deus está
principalmente em Cristo, Logo, ele não tem carne, nem sangue mas é, antes, um
corpo celeste.
3. Demais. — Devemos atribuir a Deus tudo
o que é óptimo. Ora, dentre todos os corpos o corpo celeste é nobilíssimo.
Logo, tal corpo é o que Cristo devia assumir.
Mas, em contrário, diz o Senhor: Um
espírito não tem carne nem ossos, como vós vedes que eu tenho. Ora, a carne e
os ossos não são compostos de matéria do corpo celeste, mas dos elementos
inferiores. Logo, o corpo de Cristo não foi um corpo celeste, mas carnal e
terreno.
Pelas mesmas razões pelas
quais demonstramos que o corpo de Cristo não devia ser um corpo ficto, resulta
que também não devia ser celeste. — Pois, primeiro, porque assim como a
natureza verdadeiramente humana não existiria em Cristo, se o seu corpo fosse
ficto como ensinavam os Maniqueus, assim também não o seria se o seu corpo
fosse celeste, como ensinava Valentino. Ora, sendo a forma do homem uma
realidade natural, exige uma determinada matéria a saber, carnes e ossos, que é
mister introduzir na definição do homem, como está claro no Filósofo. —
Segundo, porque também contrariaria a verdade do que Cristo fez, na sua vida
corpórea. Pois, sendo o corpo celeste impassível e incorruptível, como Aristóteles
prova, se o Filho de Deus tivesse assumido um corpo celeste, não teria tido
verdadeiramente fome, nem sede, nem teria sofrido a paixão e a morte. —
Terceiro, também contrariaria à verdade divina. Pois, o Filho de Deus, tendo-se
manifestado aos homens com um corpo de carne e terrestre, se teria manifestado
falsamente, se tivesse um corpo celeste. Por isso, foi dito: Nasceu o Filho de
Deus, recebendo a carne do corpo de uma virgem, e não trazendo-a do Céu
consigo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Dizemos que Cristo desceu do céu de dois modos. — Primeiro, em razão da
natureza divina, não que a natureza divina deixasse por isso de estar no céu,
mas porque começou a existir de uma nova maneira no mundo inferior, isto é,
segundo a natureza assumida, conforme o Evangelho: Ninguém subiu ao céu senão
aquele que desceu do céu, a saber, o Filho do homem, que está no céu. — De
outro modo, em razão do corpo, não porque o corpo mesmo de Cristo, na sua
substância, descesse do céu, mas porque o seu corpo foi formado por virtude
celeste, isto é, do Espírito Santo. Donde o dizer Agostinho, expondo a
autoridade citada: digo que Cristo é celeste, por não ter sido concebido do ser
humano. E nesse sentido também o expõe Hilário.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Carne e sangue
não se tomam, no lugar citado, pela substância da carne e do sangue, mas pela
corrupção da carne e do sangue. O que não existiu em Cristo por causa de nenhuma
culpa. Mas existiu temporalmente, quanto à pena, para que cumprisse a obra da
redenção.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Isso mesmo de
um corpo enfermo e terrestre ter sido elevado a tanta sublimidade, manifesta a
grande glória de Deus. Por isso, no Sínodo Efesino se leem as palavras de Santo
Teófilo que dizem: Assim como não admiramos os melhores artistas somente quando
exibem a sua arte em matérias preciosas, mas fazemos deles uma opinião muito
mais elevada quando, no mais das vezes, tomam de um barro vil e da terra em
dissolução, para mostrarem a sua capacidade, assim também o Verbo, o melhor
artífice de todos, não escolheu, para descer até nós, a matéria preciosa de
nenhum corpo celeste, mas as fez ver na perfeição da sua arte exercendo-a no
barro.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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