09/11/2014

Evangelho diário, coment. Leit espiritual (História de uma alma)

Tempo comum XXXII Semana

Evangelho: Jo 2 13-22

13 Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. 14 Encontrou no templo vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas sentados às suas mesas. 15 Tendo feito um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo, e com eles as ovelhas e os bois, deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou as suas mesas. 16 Aos que vendiam pombas disse: «Tirai isto daqui, não façais da casa de Meu Pai casa de comércio». 17 Então lembraram-se os Seus discípulos do que está escrito: “O zelo da Tua casa Me consome”. 18 Tomaram então a palavra os judeus e disseram-Lhe: Que sinal nos mostras para assim procederes?». 19 Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e o reedificarei em três dias». 20 Replicaram os judeus: «Este templo foi edificado em quarenta e seis anos, e Tu o reedificarás em três dias?». 21 Ora Ele falava do templo do Seu corpo. 22 Quando, pois, ressuscitou dos mortos os Seus discípulos lembraram-se do que Ele dissera e acreditaram na Escritura e nas palavras que Jesus tinha dito.

Comentário

Na ‘densidade’ dos mistérios da humanidade, a sua existência terrena e, depois, a eterna, avulta esta questão que nos pomos: como será o nosso corpo ressuscitado?
Questão interessante mas cuja resposta não encontraremos com facilidade.
Que o nosso corpo ressuscitará para se unir à alma e assim, novamente unidos, viverem para todo o sempre é uma verdade fundamental da nossa fé e, por princípio, as verdades fundamentais não se questionam exactamente porque são o fundamento sem o qual a fé não existe.
Deixemos nas mãos de Deus Todo-Poderoso a ‘solução’ destas questões e, nós, limitemo-nos a dizer, como no Credo: eu creio!

(ama, comentário sobre Jo 2, 13-22, 2011.11.09)

Leitura espiritual



HISTÓRIA DE UMA ALMA

Santa Teresinha do Menino Jesus


Manuscrito "A" - Parte IV

…/6

Naturalmente, Celina pensou logo no dia da minha tomada de véu. Para não cansá-lo, dizia ela, não deixarei que assista à cerimónia inteira, só no final irei buscá-lo e o levarei devagar até a grade para que Teresa receba sua bênção. Ah! como vejo bem aí o coração da minha Celina querida... como é verdade que "o amor não vê impossibilidade porque pensa que tudo lhe é possível e permitido"... A prudência humana, ao contrário, treme a cada passo e não ousa, por assim dizer, dar um passo. Querendo provar-me, Deus serviu-se dela como de um instrumento dócil e, no dia das minhas núpcias, fiquei verdadeiramente órfã, não tendo mais Pai na terra, mas podendo olhar para o Céu confiante e dizer com toda a verdade: "Pai Nosso que estais no Céu".

Antes de falar-vos dessa provação, Madre querida, deveria ter-vos falado do retiro que antecedeu minha profissão; não me trouxe consolações, mas a mais absoluta aridez, quase o abandono. Jesus dormia como sempre no meu barquinho; ah! vejo que raramente as almas o deixam dormir sossegado nelas. Jesus fica tão cansado de sempre dar os primeiros passos e pagar as contas, que se apressa em aproveitar o descanso que eu lhe propicio. Provavelmente não acordará antes do meu grande retiro de eternidade, mas, em vez de causar-me tristeza, isso me alegra extremamente...

Verdadeiramente, estou longe de ser santa, só isso o prova bem; em vez de me regozijar com a minha aridez, deveria atribuí-la a minha falta de fervor e de fidelidade, deveria ficar aflita por dormir (há sete anos) durante minhas orações e minhas acções de graças, mas não, não me aflijo... penso que as criancinhas agradam tanto seus pais quando dormem como quando estão acordadas, penso que para fazer cirurgias os médicos adormecem seus pacientes. Enfim, penso que: "O Senhor vê nossa fragilidade, que Ele não perde de vista que só somos pó".

Meu retiro de profissão foi, portanto, igual a todos os que fiz depois, um retiro de grande aridez. Mas Deus mostrava-me, claramente, sem eu o perceber, o meio de Lhe agradar e de praticar as mais sublimes virtudes. Notei muitas vezes que Deus não quer dar-me provisões, alimenta-me a cada momento com alimento novo, encontro-o em mim, sem saber como chegou... Creio simplesmente que é o próprio Jesus, oculto no fundo do meu coraçãozinho que me faz a graça de agir em mim e me leva a pensar tudo o que Ele quer que eu faça no presente momento.

Alguns dias antes da minha profissão, tive a felicidade de obter a bênção do Soberano Pontífice; tinha-a solicitado por intermédio do bom irmão Simião para Papai e para mim. Foi um grande consolo poder propiciar a meu Paizinho querido a graça que ele me tinha dado levando-me a Roma.

Enfim, chegou o belo dia das minhas núpcias. Foi sem nuvem, mas na véspera levantou-se em minha alma uma tempestade como nunca tinha visto... Nenhuma dúvida quanto à minha vocação tinha surgido antes, precisava passar por essa provação. De noite, ao fazer minha via-sacra após matinas, minha vocação apareceu-me como um sonho, uma quimera... achava a vida do Carmelo muito bonita, mas o demónio me assegurava que não era para mim, que eu enganaria meus superiores prosseguindo num caminho que não era para mim... Minhas trevas eram tão grandes, que não via e só compreendia uma coisa: não tinha essa vocação!... Ah! como descrever a angústia da minha alma?... Tinha impressão (coisa absurda que mostra bem que essa tentação vinha do demônio) de que se falasse dos meus temores para minha mestra ela me impediria de fazer meus santos votos; mas eu queria fazer a vontade de Deus e voltar para o mundo de preferência a ficar no Carmelo fazendo a minha. Fiz minha mestra sair e, cheia de confusão, contei-lhe o estado da minha alma... Felizmente, ela enxergou melhor que eu e me tranquilizou completamente. Aliás, o ato de humildade que eu tinha feito acabava de afugentar o demónio, que talvez pensasse que eu não ia ousar confessar a minha tentação; logo que acabei de falar, minhas dúvidas se foram. Mas, para tornar meu acto de humildade mais completo, quis confiar minha estranha tentação à nossa Madre, que se contentou em rir de mim.

Na manhã de 8 de Setembro senti-me inundada por um rio de paz e foi nessa paz, "ultrapassando qualquer sentimento", que pronunciei meus santos votos... Minha união com Jesus fez-se, não em meio a trovões e relâmpagos, isto é, a graças extraordinárias, mas no meio de uma leve brisa parecida àquela que nosso Pai santo Elias ouviu na montanha... Quantas graças pedi naquele dia!... Sentia-me verdadeiramente Rainha, e aproveitei do meu título para liberar cativos, obter favores do meu Rei para com seus súditos ingratos, enfim, queria libertar todas as almas do purgatório e converter os pecadores... Rezei muito por minha Madre, minhas irmãs queridas... pela família toda, mas sobretudo por pneu paizinho tão provado e tão santo ... Ofereci-me a Jesus, a fim de que cumprisse perfeitamente em mim a sua vontade sem que nunca as criaturas impusessem obstáculos...

Esse belo dia, à semelhança dos mais tristes, passou, sendo que os mais radiantes também têm o dia seguinte. Mas foi sem tristeza que depositei minha coroa aos pés de Nossa Senhora, sentia que o tempo não levaria embora a minha felicidade... Que festa bonita foi a da Natividade de Maria para vir a ser a esposa de Jesus! Era a pequena Santíssima Virgem que apresentava sua pequena flor ao menino Jesus... Naquele dia, tudo era pequeno, fora as graças e a paz que recebi, fora a alegria calma que senti de noite ao olhar as estrelas brilharem no firmamento, pensando que em breve o belo Céu iria se abrir para meus olhos maravilhados e poderia unir-me a meu Esposo no seio de uma alegria eterna...

No dia 24, houve a cerimónia da minha tomada de véu. Foi inteiramente coberta de lágrimas... Papai não estava para abençoar sua rainha... O padre estava no Canadá... Sua Excelência, que devia vir e almoçar na casa do meu tio, ficou doente e não veio, enfim, tudo foi tristeza e amargura... Porém, a paz, sempre a paz encontrava-se no fundo do cálice ... Naquele dia, Jesus permitiu que eu não pudesse segurar as lágrimas, que não foram compreendidas... de facto, eu tinha suportado sem chorar provações muito maiores, mas então era ajudada por uma graça poderosa. No dia 24, pelo contrário, Jesus deixou-me entregue às minhas próprias forças e mostrei como eram pequenas.

Oito dias depois da minha tomada de véu, houve o casamento de Joana. Dizer-vos, querida Madre, como seu exemplo me instruiu a respeito das delicadezas que uma esposa deve prodigalizar ao esposo ser-me-ia impossível. Escutava ávida tudo o que eu podia aprender, pois não podia fazer menos por meu Jesus amador" do que Joana por Francis, criatura sem dúvida muito perfeita, mas criatura!...
Brinquei de compor um convite para compará-lo ao dela. Eis como era:


Convite para o Casamento de irmã Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face


O Deus todo-poderoso, Criador do céu e da terra, soberano Dominador do mundo, e a Gloriosíssima Virgem Maria, Rainha da Corte Celeste, têm o prazer de vos participar o casamento do seu Augusto Filho Jesus, Reis dos Reis e Senhor dos Senhores, com a Senhorita Teresa Martin, agora Senhora Princesa dos reinos trazidos em dote pelo seu divino Esposo, a saber: a Infância de Jesus e sua Paixão, sendo seus títulos: do Menino Jesus e da Sagrada Face.
O senhor Louis Martin, Proprietário e Dono dos Senhorios do Sofrimento e da Humilhação, e a Senhora Martin, Princesa e Dama de Honra da Corte Celeste, querem vos anunciar o casamento de sua Filha, Teresa, com Jesus, o Verbo de Deus, segunda Pessoa da Adorável Trindade, que, por obra do Espírito Santo, se fez Homem e Filho de Maria, a Rainha dos Céus.


Não podendo ter-vos convidado para a bênção nupcial que lhe foi dada sobre a montanha do Carmelo, em 8 de Setembro de 189O (só a corte celeste foi admitida), estais convidados, porém, a participar da festa que será dada amanhã, Dia da Eternidade, Dia em que Jesus, Filho de Deus, virá sobre as nuvens do Céu no esplendor da sua Majestade, a fim de julgar os Vivos e os Mortos.


Devido à incerteza da hora, sois convidados a permanecer de prontidão e aguardar.

Agora, Madre querida, o que resta para vos dizer? Ah! pensava ter concluído, mas nada vos disse ainda da minha felicidade por ter conhecido nossa Santa Madre Genoveva... É uma graça sem preço essa; Deus, que me dera tantas graças, ainda quis que eu vivesse com uma santa, não inimitável, mas uma Santa santificada por virtudes ocultas e comuns... Mais de uma vez recebi dela grandes consolações, sobretudo num Domingo. Indo, como de costume, fazer-lhe uma pequena visita, encontrei duas irmãs com Madre Genoveva. Olhei sorrindo para ela e preparava-me para sair, por não podermos ficar três perto de uma doente, olhou-me com ar inspirado e me disse: "Aguardai, filhinha, vou dizer-vos apenas uma palavrinha. Cada vez que vindes, pedistes-me para vos dar um buquê espiritual, bem, hoje, vou dar-vos o seguinte: servi a Deus na paz e na alegria, lembrai-vos, boa filha, que nosso Deus é o Deus da Paz". Depois de simplesmente agradecer-lhe, saí emocionada até as lágrimas e, convicta de que Deus lhe revelara o fundo da minha alma, pois naquele dia eu estava extremamente provada, quase triste, numa noite tal que não sabia mais se eu era amada de Deus, mas a alegria e a consolação que sentia, as adivinhais, querida Madre!...

No domingo seguinte, quis saber que revelação Madre Genoveva tivera, assegurou-me não ter recebido nenhuma. Então, minha admiração foi ainda maior, vendo em que eminente grau Jesus vivia nela e a fazia agir e falar. Ah! essa santidade parece-me a mais verdadeira, a mais santa e é essa que eu desejo, pois nela não há ilusão ...

No dia da minha profissão, consolou-me saber dela que também passara pela mesma provação que eu antes de fazer seus votos... No momento das nossas grandes penas, recordai, Madre querida, as consolações que encontramos junto dela? Enfim, a lembrança de Madre Genoveva deixou em meu coração uma recordação perfumada... No dia da sua partida para o Céu, senti-me particularmente emocionada. Era a primeira vez que eu assistia a uma morte. Verdadeiramente, esse espectáculo era encantador... Fiquei ao pé da cama da santa moribunda, via perfeitamente seus mais leves movimentos. Pareceu-me, durante as duas horas que ali passei, que minha alma deveria ter sentido muito fervor. Pelo contrário, uma espécie de insensibilidade apoderara-se de mim. Mas no exacto momento do nascimento da nossa Santa Madre Genoveva no Céu, minha disposição interior mudou. Num piscar de olhos, senti-me repleta de uma alegria e de um fervor indizíveis, era como se Madre Genoveva me desse uma parte da felicidade que ela gozava, pois estou certa de que foi directamente para o Céu... Durante sua vida, disse a ela uma vez: "Oh -Madre! não passareis pelo purgatório!...'' "Também espero", respondeu-me com doçura... Ali! certamente Deus não ludibriou uma esperança tão cheia de humildade; todos os favores que recebemos são a prova... Cada irmã se apressou em pedir alguma relíquia; sabeis, querida Madre, a que tenho a felicidade de possuir... Durante a agonia de Madre Genoveva, vi uma lágrima brilhar na sua pálpebra, como um diamante, essa lágrima, a última de todas aquelas que derramou, não caiu, via-a brilhar ainda no coro, sem que ninguém pensasse em recolhê-la. Então, peguei um pequeno pano fino, atrevi-me em me aproximar, de noite, sem ser vista e para retirar uma relíquia, a última lágrima de uma Santa... Desde então, sempre a carrego no saquinho onde guardo meus votos.

Não dou importância aos meus sonhos, aliás, tenho poucos significativos e até me pergunto como é que, pensando em Deus o dia todo, não penso mais Nele durante meu sono... de costume, sonho com matas, flores, riachos, o mar e quase sempre vejo lindas criancinhas, pego borboletas e passarinhos tais como nunca vi. Estais vendo, Madre, que meus sonhos têm jeito poético, mas estão longe, de ser místicos...

Manuscrito "A" - Parte VI

Uma noite, após a morte de Madre Genoveva, tive um mais consolador. Sonhei que fazia seu testamento, dando a cada irmã uma coisa que lhe pertencera; quando chegou minha vez, pensava nada receber, pois não lhe sobrava nada, mas, erguendo-se, disse-me três vezes, num tom penetrante: "A vós, deixo meu coração".

Um mês depois da partida da nossa santa Madre, começou uma epidemia de gripe na comunidade. Só eu e mais duas irmãs ficamos de pé. Naquela época, eu estava sozinha para cuidar da sacristia, a primeira encarregada estava gravemente doente. Eu devia preparar os enterros, abrir as grades do coro durante as missas etc. Naquele momento, Deus me deu muitas graças de força; pergunto-me agora como pude fazer tudo o que fiz sem temor, a morte reinava em todo lugar, as mais doentes eram tratadas pelas que apenas conseguiam se arrastar. Logo que uma irmã soltava o último suspiro, éramos obrigadas a deixá-la sozinha. Numa manhã, ao me levantar, tive o pressentimento de que Irmã Madalena estava morta, o dormitório estava escuro, ninguém saía das celas. Por fim, decidi-me a entrar na de Irmã Madalena, cuja porta estava aberta; de fato, vendo-a vestida e deitada numa enxerga, não tive o menor medo. Vendo que ela não tinha vela, fui buscar uma e a coroa de rosas.

Na noite da morte da Madre Vice-Priora, eu estava sozinha com a enfermeira; é impossível imaginar o triste estado da comunidade naquele momento, só as que estavam de pé podem ter ideia, mas no meio daquele abandono sentia que Deus velava por nós. As moribundas passavam sem esforço para a eternidade. Logo depois da morte, uma expressão de alegria e de paz espalhava-se em seus traços, parecia um sono repousante. De facto o era, pois após o cenário deste mundo que passa acordarão para usufruir eternamente das delícias reservadas aos eleitos...

Durante todo o tempo em que a comunidade foi provada dessa forma, pude ter a inefável consolação de comungar todos os dias... Ah! como era bom!... Jesus me mimou muito tempo, mais tempo que suas fiéis esposas, pois permitiu que me fosse dado sem as outras terem a felicidade de recebê-Lo. Estava também muito feliz por poder tocar nos vasos sagrados, por preparar os paninhos destinados a receber Jesus. Sentia que precisava ser muito fervorosa e lembrava-me com frequência esta palavra dirigida a um santo diácono: "Sede santo, vós que levais os vasos do Senhor".

Não posso dizer que recebi frequentes consolações durante minhas ações de graças; talvez seja o momento em que tenho menos... Acho isso muito natural, pois ofereci-me a Jesus não como uma pessoa que deseja receber a visita Dele para a própria consolação mas, pelo contrário, para o prazer de Quem se dá a mim. Vejo minha alma como território livre e peço a Nossa Senhora que tire o entulho que poderia impedi-la de ser livre, depois suplico-lhe que erga uma ampla tenda digna do Céu, enfeite-a com seus próprios adornos e convido todos os santos e anjos para vir dar um concerto magnífico".

Quando Jesus desce ao meu coração, tenho a impressão de que Ele fica contente por ser tão bem recebido e eu também fico contente... Tudo isso não impede as distracções e o sono de vir visitar-me. Mas ao terminar a acção de graças, vendo que a fiz tão mal, tomo a resolução de passar o resto do dia em ação de graças... Estais vendo, Madre querida, que estou muito longe de ser levada pelo temor, sempre encontro o meio de ser feliz e tirar proveito das minhas misérias... Sem dúvida, isso não desagrada a Jesus, pois parece encorajar-me nessa via. Um dia, contrariamente a meu hábito, estava um pouco perturbada ao ir comungar, tinha impressão de que Deus não estava contente comigo e pensava: "Ah! se hoje eu receber só metade de uma hóstia, vou ficar muito aflita, vou crer que Jesus vem forçado ao meu coração". Aproximo-me... oh felicidade! pela primeira vez na minha vida, vejo o padre pegar duas hóstias, bem separadas, e dá-Ias a mim!... Compreendeis minha alegria e as doces lágrimas que derramei vendo tão grande misericórdia...

No ano seguinte à minha profissão, isto é, dois meses antes da morte de Madre Genoveva, recebi grandes graças durante o retiro.

Ordinariamente, os retiros pregados são-me mais dolorosos que os que faço sozinha, mas naquele ano foi diferente. Tinha feito uma novena preparatória com muito fervor, apesar do sentimento íntimo que me animava, pois tinha a impressão de que o pregador não saberia compreender-me, por ser destinado sobretudo aos grandes pecadores, mas não às almas religiosas. Querendo Deus mostrar-me que só Ele era o director da minha alma, serviu-se justamente desse padre que não foi apreciado por mim... Tinha então grandes provações interiores de diversos tipos (até me perguntar, às vezes, se o Céu existe). Sentia-me disposta a nada dizer sobre minhas disposições interiores, não sabendo como expressá-las; logo que entrei no confessionário, senti a minha alma dilatar-se. Depois de falar poucas palavras, fui compreendida de modo maravilhoso e até adivinhada... minha alma parecia um livro no qual o padre lia melhor do que eu mesma... Lançou-me de velas desfraldadas nas ondas da confiança e do amor que me atraíam com muita força, mas nas quais não ousava avançar... Disse-me que minhas faltas não entristeciam a Deus, que, estando no lugar Dele, me dizia em nome Dele que estava muito satisfeito comigo...

(cont.)




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