Tempo comum XXXII Semana
Evangelho: Lc 17 11-19
11
Indo Jesus para Jerusalém, passou pela Samaria e pela Galileia.12 Ao
entrar numa aldeia, saíram-Lhe ao encontro dez homens leprosos, que pararam ao
longe, 13 e levantaram a voz, dizendo: «Jesus, Mestre, tem compaixão
de nós!». 14 Ele tendo-os visto, disse-lhes: «Ide, mostrai-vos aos
sacerdotes». Aconteceu que, enquanto iam, ficaram limpos. 15 Um
deles, quando viu que tinha ficado limpo, voltou atrás, glorificando a Deus em
alta voz, 16 e prostrou-se por terra a Seus pés, dando-Lhe graças.
Era um samaritano. 17 Jesus disse: «Não são dez os que foram
curados? Onde estão os outros nove? 18 Não se encontrou quem
voltasse e desse glória a Deus, senão este estrangeiro?». 19 Depois
disse-lhe: «Levanta-te, vai; a tua fé te salvou».
Comentário:
A gratidão é o sentimento mais nobre
do homem. Nas coisas grandes como nas pequenas, agradecer algo que nos fazem
enobrece e dá um sentimento de indesmentível tranquilidade.
Quem
deu não se esquecerá!
(ama,
comentário sobre Lc 17, 11-19, 2013.10.13)
Leitura espiritual
HISTÓRIA DE UMA ALMA
Santa Teresinha do Menino Jesus
Manuscrito «B»
…/2
CARTA A IRMÃ MARIA DO SAGRADO CORAÇÃO
...A resposta estava clara, mas não
satisfazia aos meus desejos, não me propiciava paz... Como Madalena se
inclinando sempre junto ao túmulo vazio acabou por encontrar o que desejava,
também me abaixei até as profundezas do meu nada e elevei-me tão alto que consegui
atingir minha meta... Sem desanimar, prossegui com minha leitura e esta frase
aliviou-me: "Aspirai, também, aos carismas mais elevados. Mas vou
mostrar-vos ainda uma via sobre todas sublime". E o apóstolo explica como
todos os mais perfeitos dons não valem nada sem o Amor... Que a caridade é a
via excelente para levar seguramente a Deus. Enfim, tinha encontrado repouso...
Considerando o corpo místico da Igreja, não me reconheci em nenhum dos membros
descritos por são Paulo, melhor, queria reconhecer-me em todos... A Caridade
deu-me a chave da minha vocação. Compreendi que se a Igreja tem um corpo,
composto de diversos membros, o mais necessário, o mais nobre de todos não lhe
falta. Compreendi que a Igreja tem um coração e que esse coração arde de amor.
Compreendi que só o Amor leva os membros da Igreja a agir, que se o Amor viesse
a extinguir-se os apóstolos não anunciariam mais o Evangelho, os mártires
negar-se-iam a derramar o sangue... Compreendi que o Amor abrangia todas as
vocações, que o Amor era tudo, que abrangia todos os tempos e todos os
lugares... numa palavra, que ele é Eterno!...
Então, na minha alegria delirante,
exclamei: ó Jesus, meu Amor... enfim, encontrei minha vocação, é o Amor!...
Sim, achei meu lugar na Igreja e esse
lugar, meu Deus, fostes vós quem o destes a mim... no Coração da Igreja, minha
Mãe, serei o Amor... serei tudo, portanto... desta forma, o meu sonho será realizado!!!...
Por que falar de uma alegria
delirante? Não, essa expressão não está adequada. Era antes a paz calma e
serena do navegante avistando o farol que deve guiá-lo ao porto... ó Farol
luminoso do Amor, sei como chegar a Ti, encontrei o segredo para apropriar-me
da tua chama.
Sou apenas uma criança, impotente e
fraca, mas é minha própria fraqueza que me dá a audácia para me oferecer coma
Vítima ao teu Amor, ó Jesus! Outrora, só as hóstias puras e sem manchas eram
aceitas pelo Deus forte e poderoso. Para satisfazer a justiça divina, havia
necessidade de vítimas perfeitas. Mas à lei do temor sucedeu a do Amor e o Amor
escolheu-me para holocausto, eu, fraca e imperfeita criatura... Não é escolha
digna do Amor?... Sim, a fim de que o Amor seja plenamente satisfeito é preciso
que se abaixe, que se abaixe até o nada e que transforme esse nada em fogo...
Ó Jesus, sei, o amor só se paga com o
amor; por isso, procurei, achei o meio de aliviar meu coração retribuindo Amor
com Amor. "Granjeai amigos com a vil riqueza, para que quando esta vier a
faltar eles vos recebam nas tendas eternas". Eis, Senhor, o conselho que
dás a teus discípulos depois de teres dito a eles que "os filhos deste
mundo são mais atilados que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes".
Filha da luz, compreendi que meus desejos de ser tudo, de abraçar todas as
vocações, eram riquezas que bem poderiam tornar-me injusta, servi-me delas para
granjear amigos... Lembrando-me do pedido de Eliseu a seu Pai Elias quando se
atreveu a pedir-lhe dupla porção do seu espírito, apresentei-me diante dos
anjos e dos santos e lhes disse: "Sou a menor das criaturas, conheço minha
miséria e minha fraqueza, mas sei também como os corações nobres e generosos
gostam de fazer o bem, suplico-vos, portanto, ó bem-aventurados habitantes dó
Céu, que me adopteis por filha, a glória que me fizerem adquirir será só para
vós, mas dignai-vos atender o meu pedido; sei que é temerário, mas atrevo-me a
pedir que obtenhais para mim vosso duplo Amor.
Não posso, Jesus, aprofundar o meu
pedido, recearia ver-me acabrunhada sob o peso dos meus desejos audaciosos...
Minha desculpa é ser uma criança e as crianças não medem o alcance das suas palavras.
Quando colocados no trono e donos de imensos tesouros, seus pais não hesitam em
contentar os desejos dos pequenos seres que amam tanto quanto a si mesmos; para
agradar a eles, fazem loucuras, chegam até a fraqueza... Bem! eu sou a CRIANÇA
da Igreja e a Igreja é Rainha, pois é tua esposa, o divino Rei dos Reis... Não
são as as riquezas e a Glória, nem a Glória do Céu, que o coração da criança
deseja... Compreendo que a Glória pertence por direito a seus irmãos, os anjos
e os santos... A glória dele será o reflexo daquela que brotará da fronte de
sua Mãe. O que pede é o Amor... Só quer uma coisa, te amar, ó Jesus... As obras
de grande repercussão lhe são interditadas, ele não pode anunciar o Evangelho,
derramar o próprio sangue... mas não importa, seus irmãos trabalham no lugar
dele e ele, criancinha, fica junto do trono do Rei e da Rainha. Ama pelos seus
irmãos que combatem... Como irá testemunhar seu amor se o Amor se prova pelas
obras? A criancinha lançará flores, perfumará o trono real, com sua voz argêntea,
cantará o cântico do Amor...
Eis, meu Bem-Amado, como se consumará
minha vida... Não tenho outros meios para te provar meu amor, a não ser lançar
flores, isto é, não deixar escapar nenhum pequeno sacrifício, nenhum olhar,
nenhuma palavra, aproveitar as menores coisas e fazê-las por amor... Quero
sofrer e mesmo gozar por amor, dessa forma lançarei flores diante do teu trono,
não encontrarei uma só sem desfolhá-la para Ti... e, ao jogar minhas flores,
cantarei. Caberia chorar fazendo uma ação tão alegre? Cantarei, até mesmo
quando for preciso colher minhas flores no meio dos espinhos e meu canto será
mais melodioso na medida em que os espinhos forem longos e pungentes.
Em que minhas flores e meus cantos
irão te servir, Jesus?... Ah! sei. Essa chuva perfumada, essas pétalas frágeis
e sem valor, esses cantos de amor do menor dos corações te encantarão. Sim,
esses nadas te agradarão, farão sorrir a Igreja triunfante que recolherá minhas
flores desfolhadas por amor e, fazendo-as passar por tuas mãos divinas, ó
Jesus, essa Igreja do Céu, querendo brincar com sua criança, lançará essas
flores que, pelo teu toque divino, terão adquirido um valor infinito.
Lançá-las-á sobre a Igreja padecente, a fim de apagar as chamas; lançá-las-á
sobre a Igreja combatente, a fim de lhe propiciar a vitória! ...
Ó meu Jesus! amo-Te, amo a Igreja,
minha Mãe, lembro-me de que: "O menor movimento de puro amor lhe é mais
útil que todas as outras obras reunidas". Mas será que o puro amor está em
meu coração?... Meus desejos imensos não seriam sonho, loucura?... Ah! se assim
for, Jesus, esclarece-me, tu sabes que procuro a verdade...'' se meus desejos
são temerários, fá-los sumir pois são para mim o maior dos martírios... Mas
sinto, ó Jesus, que depois de ter aspirado às regiões mais elevadas do Amor, se
eu não puder alcançá-las, terei experimentado mais doçura no meu martírio, na
minha loucura, do que haverei de experimentar no seio das alegrias da pátria, a
menos que, por um milagre, Tu me tires a lembrança das minhas esperanças
terrestres. Então, deixa-me gozar, durante meu exílio, das delícias do amor.
Deixa-me saborear as doces amarguras do meu martírio...
Jesus, Jesus, se o desejo de Te amar é
tão delicioso, como será o de possuir, de gozar o Amor?...
Como pode uma alma tão imperfeita como
a minha aspirar à plenitude do Amor?... Ó Jesus! meu primeiro, meu único Amigo,
Tu que amo unicamente, diz-me que mistério é esse. Por que não reservas essas
imensas aspirações para as grandes almas, para as águias que planam nas
alturas?... Considero-me apenas um mero passarinho coberto de leve penugem, não
sou uma águia, só tenho dela os olhos e o coração, pois apesar da minha extrema
pequenez ouso fixar o Sol Divino, o Sol do Amor, e meu coração sente em si
todas as aspirações da águia... O passarinho quer voar para esse Sol brilhante
que encanta seus olhos, quer imitar as águias, suas irmãs, que vê chegar ao lar
divino da Trindade Santíssima... ai! o que pode fazer é bater as asinhas, voar,
porém, não está em seu pequeno alcance! O que será dele? Morrer de tristeza por
se ver tão impotente?... Oh não! o passarinho nem vai ficar aflito. Com total
abandono, quer ficar olhando seu divino Sol; nada poderá assustá-lo, nem o
vento nem a chuva, e se nuvens escuras vierem esconder o Astro de Amor o
passarinho não trocará de lugar. Sabe que, além das nuvens, seu Sol continua brilhando,
que seu brilho não cessará. Às vezes, o coração do passarinho é vítima de
tempestade, parece não acreditar que existem outras coisas além das nuvens que
o envolvem. Esse é o momento da felicidade perfeita para o pobre serzinho
frágil. Que felicidade ficar aí, assim mesmo; fixar a luz invisível que escapa
à sua fé!!!... Jesus, até agora, compreendo o teu amor para com o passarinho,
pois ele não se afasta de Ti... mas sei e Tu sabes também, muitas vezes a criaturinha
imperfeita, embora permaneça a postos, isto é, debaixo dos raios do Sol;
distrai-se um pouco da sua única ocupação, cata um grãozinho aqui, outro acolá,
corre atrás de um insecto... e, encontrando uma pocinha d'água, banha suas
peninhas. Quando, vê uma flor que lhe agrada, sua mente se prende a ela...
enfim, não podendo planar como as águias, o passarinho ocupa-se com as
bagatelas da terra. Após todas essas indelicadezas, em vez de esconder-se num
cantinho para chorar sua miséria e morrer de arrependimento, o passarinho
volta-se para seu bem-amado Sol, expõe suas asinhas molhadas aos seus raios,
geme como a andorinha e no seu canto suave confidencia, relata detalhadamente
suas infidelidades, pensando, no seu temerário abandono, adquirir mais poder,
atrair mais fortemente o amor Daquele que não veio chamar os justos, mas os
pecadores... Se o Astro Adorado permanece surdo aos chilreios plangentes da sua
criaturinha, se continua encoberto... pois bem! a criaturinha permanece
molhada, aceita ficar gelada e alegra-se por esse sofrimento que não deixa de
merecer... Jesus! como teu passarinho está feliz por ser fraco e pequeno, o que
seria dele se fosse grande?... Nunca se atreveria a ficar na tua presença, em
dormitar diante de Ti... sim, é mais uma fraqueza do passarinho quando quer
fixar o Sol divino e as nuvens o impedem de ver um raio sequer. Contra sua
vontade, seus olhinhos se cerram, sua cabecinha se esconde sob sua asinha e o
pobre serzinho adormece, crente ainda de que está fixando seu Astro querido.
Com o despertar, não se perturba, seu coraçãozinho fica em paz, recomeça seu
ofício de amor. Invoca os anjos e os santos que se elevam como águias para o
foco devorador, objecto de seus anseios. Com pena do irmãozinho, as águias o
protegem, o defendem e afugentam os abutres que querem devorá-lo. O passarinho
não tem medo dos abutres, imagens dos demónios, não se destina a ser presa
deles, mas sim da Águia que ele contempla no centro do Sol de Amor. Ó Verbo
divino, és tu a Águia adorada que amo e que me atrai, és tu que correndo para a
terra do exílio tens querido sofrer e morrer para lançar as almas no seio do
Eterno Lar da Santíssima Trindade. És tu que, subindo para a inacessível Luz
que de agora em diante será tua morada, ainda permaneces no vale de lágrimas,
oculto sob a aparência de uma hóstia branca... Águia Eterna, queres
alimentar-me com tua divina substância, eu, ser pobre e pequeno, que voltaria
ao nada se teu divino olhar deixasse de me dar vida a cada instante... Ó Jesus!
deixa-me no extremo da minha gratidão, deixa-me te dizer que teu amor vai até a
loucura... Como queres que diante dessa loucura, meu coração deixe de se jogar
em teus braços? Como pode minha confiança ter limites?... Ah! sei, para Ti, os
santos cometeram loucuras também, fizeram grandes coisas, pois eram águias...
Jesus sou pequena demais para fazer
grandes coisas... e minha loucura pessoal é esperar que teu amor me aceite como
vítima... Minha loucura consiste em suplicar às Águias, minhas irmãs, que
consigam para mim o favor de voar para o Sol do Amor com as próprias asas da
Águia divina...
Enquanto quiseres, ó meu Bem-amado,
teu passarinho ficará sem forças e sem asas, com os olhos sempre fixos em Ti.
Quer ser fascinado pelo teu olhar divino, quer tornar-se a presa do teu Amor...
Um dia, espero, Águia adorada, virás buscar teu passarinho e, subindo com ele
ao Lar do Amor, mergulharás para sempre no ardente Abismo desse Amor a quem se
ofereceu como vítima...
Ó Jesus! como posso dizer a todas as
almas pequeninas o quanto é inefável a tua condescendência... sinto que, embora
seja impossível, se tu encontrasses uma alma mais fraca, menor que a minha,
terias prazer em cumulá-la de favores ainda maiores, caso ela se abandonasse
com inteira confiança à tua misericórdia infinita. Mas por que desejar
comunicar teus segredos de amor, ó Jesus. Não foste tu quem os ensinaste a mim
e não podes revelá-los aos outros?... Sim, sei, e te suplico para fazê-lo, te
suplico que abaixes teu olhar divino sobre um grande número de almas
pequeninas... Suplico-te escolher uma legião de pequenas vítimas dignas do teu
AMOR!
A pequenina Irmã Teresa do Menino
Jesus e da Sagrada Face religiosa carmelita ind.
(cont)
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