28/10/2014

Tratado do verbo encarnado 13

Questão 2: Do modo da união do Verbo Encarnado

Art. 7 — Se a união da natureza divina e humana é algo de criado.

O sétimo discute-se assim. — Parece que a união da natureza divina e humana, nada é de criado.

1. — Pois, em Deus nada pode haver de criado, porque tudo o que nele existe é Deus. Ora, há união em Deus, porque Deus mesmo está unido à natureza humana. Logo, parece que a união não é nada de criado.

2. Demais. — Em tudo, o principal é o fim. Ora, o fim da união é a divina hipóstase ou pessoa, na qual a união tem o seu termo, Logo, parece que tal união deve ser apreciada sobretudo pela condição da divina hipóstase, que nada tem de criado. Logo, também não é nada de criado a união.

3. Demais. — O princípio donde uma coisa tira tal propriedade  possui-a a ela em mais alto grau, segundo o Filosofo. Ora, o homem é dito Criador por causa da união. Logo, com maior razão, a união mesma nada é de criado, mas, o Criador.

Mas, em contrário — Tudo o que começa temporalmente é criado. Ora, a referida união não existiu abeterno, mas começou a existir no tempo. Logo, a união é algo de criado.

A união de que falamos é uma relação considerada entre a natureza divina e a humana, enquanto convêm na pessoa una do Filho de Deus. Ora, como dissemos na Primeira Parte, toda a relação considerada entre Deus e a criatura, está, sem dúvida, realmente na criatura, cuja mudança dá origem a essa relação, mas não existe realmente em Deus, senão só segundo a razão, porque não nasce de nenhuma mudança em Deus. Donde devemos concluir que a união em questão não existe em Deus realmente, mas só segundo a razão, mas existe realmente a natureza humana, que é uma criatura. Por onde, é necessário admitir que é algo de criado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Essa união em Deus não existe realmente mas só segundo a razão, pois, dizemos que Deus está unido à criatura, porque a criatura está unida com ele, sem mudança em Deus.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Por sua noção, a relação, como o movimento, depende do fim ou termo, mas a sua existência depende do sujeito. E como essa união não tem um ser real senão na natureza criada, segundo dissemos, há-de necessariamente ter o ser criado.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O homem é chamado e é Deus por causa da união, enquanto terminada na hipóstase divina, mas daí não se segue que a própria união seja Criador ou Deus, pois, quando dizemos que um ser é criado levamos em conta, antes, a sua existência que a sua noção.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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