Tempo comum XXX Semana
34 Os
fariseus, tendo sabido que Jesus reduzira ao silêncio os saduceus, reuniram-se.
35 E um deles, doutor da Lei, querendo pô-l'O à prova,
perguntou-Lhe: 36 «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». 37
Jesus disse-lhe: «”Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a
tua alma, com todo o teu entendimento”. 38 Este é o maior e o
primeiro mandamento. 39 O segundo é semelhante a este: “Amarás o teu
próximo como a ti mesmo”. 40 Destes dois mandamentos depende toda a
Lei e os Profetas».
Comentário:
O amor a Deus tem a ver com o Dom
da Piedade.
O Espírito Santo inspira na nossa
alma, no nosso coração essa necessidade, esse desejo de retribuir ao Senhor um
pouco do amor que nos tem.
Que é imenso!
Pois é, deu a própria vida por nós!
Que não conseguiremos retribuir
totalmente!
Pois não, mas, se nos empenharmos a
sério Ele, na Sua Bondade Infinita, ficará tão agradecido que nos pagará com
juros altíssimos e desproporcionados.
(ama,
comentário sobre Mt 22, 34-40, 2013.08.23)
Leitura espiritual
HISTÓRIA DE UMA ALMA
Santa Teresinha do Menino Jesus
Manuscrito "A" -
Parte I
…/3
Eis aí mais uma passagem
que deparo nas cartas de mamãe. Minha pobre Mãezinha já pressentia o fim do seu
desterro: "As duas meninas não me preocupam, estão tão bem todas as duas,
são temperamentos primorosos, serão por certo boas criaturas. Maria e tu estareis
em perfeitas condições de educá-las. Celina não comete jamais a mínima falta
voluntária. A pequerrucha será boa também. Por todo o ouro do mundo não diria
uma mentira; é de uma finura de espírito como jamais a observei em nenhuma de
vós".
"Estava ela outro dia
na mercearia com Celina e Luísa. Falava de suas práticas e discutia fortemente
com Celina. A senhora disse à Luísa: "Mas então o que quer ela dizer?
Quando brinca no jardim não se ouve falar senão de práticas. A Sra. Gaucherin
mete a cabeça para fora da janela num esforço de entender o que significa essa
altercação sobre práticas..." A coitada da pequena faz a nossa felicidade,
vai ser boa, já se vê pelo indício. Só fala do Bom Deus, por nada no mundo
deixaria de fazer suas orações. Gostaria que a visses recitar pequenas fábulas,
nunca presenciei algo de tão gentil. Encontra por si mesma a interpretação e a
tonalidade que é preciso dar, mas isto é sobretudo quando diz: -
"Criancinha de cabeça loura, onde imaginas que está o Bom Deus?"
Quando ela chega às palavras: - "Ele está lá no alto do Céu azul",
volve o olhar para 'cima com uma expressão angélica. Tão belo é que a gente não
se cansa de fazê-la recitar. Há em seu olhar algo de tão celestial que nos
deixa encantados!..."
Ó minha Mãe! Quão feliz
era eu nessa idade! Já começava a desfrutar a vida. A virtude tinha encantos
para mim, e eu estava, parece-me, nas mesmas disposições em que me acho agora,
já dispondo de grande domínio sobre meus atos. - Ah! como se foram rapidamente
os ensolarados dias de minha meninice, mas que doce impressão me deixaram na
alma! Com prazer recordo os dias em que Papai nos levava consigo ao Pavilhão.
As mínimas particularidades gravaram-se em meu coração... Lembra-me, antes de
tudo, os passeios de Domingo, nos quais Mamãe sempre nos acompanhava. Sinto
ainda as profundas e poéticas impressões 'que me nasciam na alma à vista dos
trigais esmaltados de centáureas e flores campestres. Já era aficionada pelos
longes. O espaço e os agigantados abetos, cuja ramagem chegava até ao chão,
deixavam-me na alma impressão semelhante à que ainda hoje sinto quando
contemplo a natureza... Muitas vezes nestes longos passeios encontrávamos com
pobres e era sempre a Teresinha incumbida de dar-lhes a esmola, o que a deixava
toda venturosa. Mas, também outras vezes, achando Papai que a caminhada ficava
longa demais para sua rainhazinha, levava-a mais cedo de volta para casa (com
grande desgosto dela). Para a consolar Celma enchia então de margaridas seu
lindo cestinho e dava-lho, quando chegava em casa. A boa da vovó-", ainda
mal, achava que a netinha tinha flores demais, tomava-lhe grande parte para sua
imagem da Santa Virgem... Isso não agradava à Teresinha, mas ela muito se
precavia para que nada dissesse. Tinha adquirido o bom hábito de nunca se
queixar, mesmo quando lhe tiravam o que era seu, ou então quando era acusada
injustamente. Preferia calar e não escusar-se. Não era mérito seu, mas virtude
natural... Que pena que esta boa disposição se tenha desvanecido!
Oh! realmente, tudo me
sorria na terra. Deparava com flores a cada passo que desse, e minha boa índole
contribuía também para me tornar a vida agradável. Ia, porém, começar um novo
período para minha alma. Devia passar pelo cadinho da provação e sofrer desde a
minha infância, a fim de que pudesse ser oferecida mais cedo a Jesus. Assim
como as flores da primavera começam a germinar debaixo da neve e desabrocham nos
primeiros raios do Sol, assim também a florzinha, cujas reminiscências estou a
escrever, teve que passar pelo inverno da provação...
Todos os pormenores da
doença de nossa querida Mãe estão ainda vivos em meu coração. Lembro-me,
principalmente, das últimas semanas que passou na terra. Celina e eu vivíamos
como pequeninas exiladas. Todas as manhãs, a Sra. Leriche vinha buscar-nos, e
passávamos o dia em casa dela. Um dia não tivemos tempo de fazer nossa oração
antes de sair, e no caminho disse-me Celina bem baixinho: "Convém
dizer-lhe que não fizemos nossa oração?..." - "Oh! sim",
respondi-lhe. Então, com bastante timidez, disse-o à Sra. Leriche.
Respondeu-nos ela: - "Está certo, minhas filhinhas, ireis fazê-la". E
depois, largando-nos ambas num quarto grande, foi-se embora... Então Celina
olhou para mim, e dissemos: "Ah! não é como a Mamãe... Sempre nos fazia
recitar nossa oração!" ... Quando brincávamos com as crianças, o
pensamento de nossa querida Mãe sempre nos acompanhava. Certa vez, tendo
ganhado um lindo damasco, Celina abaixou-se e cochichou-me: "Não vamos
comê-lo, dá-lo-ei à Mamãe". Que lástima! a coitada de nossa Mãezinha já
estava doente demais para comer as frutas da terra. Já não se saciaria senão no
Céu com a glória de Deus e não beberia senão com Jesus o misterioso vinho, do
qual Ele falara em sua última Ceia, quando disse que o tomaria connosco no
reino de seu Pai'.
A comovente cerimónia da
Extrema-Unção também me ficou gravada na alma. Vejo ainda o lugar onde me
achava ao lado de Celina. Todas as cinco estávamos pela ordem de idade, e nosso
pobre Paizinho estava ali também e soluçava...
No próprio dia ou no dia
imediato à partida da Mamãe, tomou-me nos braços, dizendo-me: "Vem beijar
pela última vez tua pobre Mãezinha". E sem dizer nada cheguei os lábios à
fronte de minha Mãe querida... Não me lembra ter chorado muito. Não dizia a
ninguém os profundos sentimentos que experimentava... Olhava e escutava em
silêncio... Ninguém tinha tempo de ocupar-se comigo. Por causa disso via muitas
cousas que teriam a intenção de ocultar-me. Primeiramente, dei comigo diante da
tampa do esquife... Fiquei longo tempo parada a contemplá-lo. Nunca tinha visto
nenhum, e, no entanto, compreendia... Era tão pequena que, apesar de estar
pouco alto o corpo da Mamãe, precisava erguer a cabeça para o avistar de cima,
e parecia-me muito grande... muito triste... Quinze anos mais tarde, estive
diante de outro esquife, o da Madre Genoveva 4. Tinha a mesma medida que o da
Mamãe, e julguei estar ainda nos dias de minha infância!... Todas ás minhas
reminiscências retornaram a tropel. Era por certo a mesma Teresinha que estava
a olhar, mas havia crescido e o esquife parecia-lhe pequeno. Já não precisava
erguer a cabeça para o enxergar. Já não a erguia senão para contemplar o Céu
que lhe parecia bem alegre, pois todas as suas provações tinham tomado um fim e
o inverno de sua alma passara para sempre...
No dia que a Igreja lançou
a bênção sobre os despojos mortais de nossa Mãezinha do Céu, nosso Deus quis
dar-me outra na terra, e quis que a escolhesse livremente. Está vamos juntas,
todas as cinco, a olhar umas às outras, Luísa também estava ali. Quando viu
Celina e a mim disse: "Pobres pequenas, já não tendes Mãe!..." Então
Celina lançou-se aos braços de Maria e disse: "Pois bem! Mamãe serás
tu". Eu, habituada a fazer igual a ela, voltei-me, no entanto, para vós,
minha Mãe, e como se o porvir já tivesse rompido seu véu, atirei-me aos vossos
braços, exclamando "Pois, sim, para mim Paulina será Mamãe!"
Como o disse mais acima, foi
a partir dessa época de minha vida que tive de iniciar o segundo período de
minha existência, o mais doloroso dos três, mormente desde a entrada no Carmelo
daquela que tinha escolhido como minha segunda "Mamãe". Este período
vai da idade de quatro anos e meio até a data de catorze anos, época em que
recuperei minha índole de criança, bem justamente quando entrava no lado sério
da vida.
Devo dizer-vos, minha Mãe,
que depois da morte da Mamãe minha boa índole mudou por completo. Tão viva; tão
expansiva, que era, fiquei tímida e frouxa, sensível a mais não poder. Bastava
um olhar para me desfazer em lágrimas. Era preciso que ninguém me desse maior
atenção para me sentir contente. Não podia tolerar a companhia de pessoas
estranhas, e só recuperava minha alegre disposição na intimidade da família...
Continuava, entretanto, a ser cercada do mais sensível carinho. Ao amor que já
possuía, o tão meigo coração do Papai teve por acréscimo um amor
verdadeiramente maternal! Minha Mãe, vós e Maria não éreis para mim as mais
carinhosas e mais abnegadas das mães? Ah! se o Bom Deus não tivesse prodigalizado
à sua florzinha seus raios benfazejos, ela nunca teria podido aclimar-se na
terra. Era ainda débil demais para suportar chuvas e tempestades. Precisava de
calor, de um orvalho suave, de um bafejo primaveril. Nunca careceu de todos
estes benefícios. Jesus lhos fez encontrar até debaixo da neve da provação!
Não senti nenhum desgosto
por deixar Alençon. Crianças gostam de mudança e com prazer vim para Lisieux.
Tenho lembrança da viagem, da chegada pela tarde à casa de minha tia. Vejo
ainda Joana e Maria que nos aguardavam à porta... Estava muito satisfeita de
ter umas priminhas tão amáveis. Gostava tanto delas como de minha tia, e
sobretudo de meu tio; somente que ele me fazia medo e não me sentia tão à
vontade em sua casa como nos Buissonnets, onde minha vida era realmente
feliz... Logo de manhã vínheis para junto de mim a perguntar-me se já entregara
meu coração ao Bom Deus. Em seguida me púnheis a roupa, enquanto me faláveis
Dele e depois ao vosso lado fazia minha oração. Depois, vinha a lição de
leitura. A primeira palavra que consegui soletrar sozinha foi esta:
"Céus". Minha querida madrinha encarregava-se das aulas de
caligrafia, e vós, minha Mãe, de todas as outras. Não tinha muita facilidade de
aprender, mas dispunha de bastante memória. O catecismo e antes de tudo a
história sagrada eram as minhas preferências, estudava-os com alegria. Mas a
gramática fazia-me às vezes derramar lágrimas... Estais lembrada do masculino e
do feminino?
Logo que terminava a aula,
subia ao mirante e levava a papai minha caderneta e minha classificação. Como
ficava radiante, quando lhe podia dizer: "Tenho 5 com louvor, foi Paulina
a primeira que o declarou!..." Pois, quando vos perguntava se tinha 5 com
louvor e vós me dizíeis que sim, aos meus olhos era uma nota a menos. Vós
também me dáveis bons pontos, e quando tinha alcançado certo número deles,
ganhava um prêmio e uma folga. Lembro-me de 14 que os dias de folga se me
afiguravam mais longos do que os demais, o que vos dava prazer, por demonstrar
que não apreciava ficar sem nenhuma ocupação.
Todas as tardes ia a
pequeno passeio com papai. Fazíamos juntos a nossa visita ao Santíssimo
Sacramento, e cada dia visitávamos uma nova igreja. Assim entrei pela primeira
vez na capela do Carmelo. Papai mostrou-me as grades do coro, dizendo-me que
atrás delas havia religiosas. Muito longe estava de pensar que, nove anos mais
adiante, me encontraria entre elas! ...
Depois do passeio (durante
o qual papai me comprava sempre um presentinho de um ou dois soldos),
recolhia-me em casa. Fazia então minhas lições. A seguir, ficava todo o resto
do tempo a saltitar no jardim em volta do papai, pois não sabia brincar com
boneca. Para mim era grande alegria preparar chás com grãozinhos e com cascas
de árvores que encontrava pelo chão. Levava-os depois ao papai numa linda
xícara pequena. O coitado do paizinho largava sua ocupação e depois sorridente
fazia de conta que tomava. Antes de me devolver a xícara perguntava-me (como
que em segredo) se era para jogar fora o conteúdo. As vezes, dizia que sim, mas
o mais frequente era levar de volta meu precioso chá, com a intenção de tornar
a servi-lo várias vezes... Gostava de cultivar minhas florzinhas no jardim que
papai me tinha dado. Entretinha-me em armar altarzinhos no vão que havia ao
centro do muro. Quando terminava a obra, corria a papai e, levando-o comigo,
dizia-lhe que fechasse bem os olhos e só os abrisse no momento que lho
mandasse. Fazia tudo o que eu queria, e deixava-se conduzir até a frente do meu
jardinzinho. Então eu gritava: "Papai, abre os olhos!" Ele abria-os e
extasiava-se para me dar prazer, admirando o que eu julgava ser uma
obra-prima!... Seria um nunca acabar se quisera contar mil pequenos episódios
desse género, que me acodem profusamente à memória... Ah! como poderia enumerar
todos os carinhos que "Papai" prodigalizava à sua rainhazinha? Há
cousas que o coração sente, mas que a palavra e a própria idéia não conseguem
formular...
Bonitos para mim eram os
dias em que meu "rei querido" me levava à pescaria consigo. Tinha
tanto amor ao campo, às flores e às aves! Tentava às vezes pescar com minha
varinha, mas de preferência ia sentar sozinha na relva florida. Meus
pensamentos aprofundavam-se bastante e, sem saber o que era meditar, minha alma
mergulhava em autêntica oração... Ouvia ruídos ao longe... O murmúrio do vento
e até a música indecisa de soldados, cuja sonoridade me chegavam aos ouvidos,
melancolizavam suavemente meu coração... A terra parecia-me lugar de degredo, e
eu sonhava com o Céu... A tarde passava rápida, e dentro em pouco era hora de
regressar aos Buissonnets, Antes de partir, porém, tomava o lanche trazido no
meu cestinho. Mudara de aspecto, a linda merenda com geleia de fruta que me
tínheis preparado. Em lugar da cor ativa, já não via senão uma ligeira mancha
cor de rosa, toda ressequida e amarfanhada... Então a terra se me apresentava
mais tristonha ainda, e compenetrava-me de que só no Céu haverá alegria sem
anuviamento.. .
A propósito de nuvens,
lembro-me de que um dia o formoso Céu azul campestre se anuviou e logo começou
a zunir a tempestade. Os coriscos sulcavam as nuvens carregadas, e vi cair um
raio a pouca distância. Longe de ficar com medo, extasiava-me, tendo a impressão
de que o Bom Deus estava tão perto de mim!...
Papai não estava, de modo
algum, tão contente como sua rainhazinha. Não que a tempestade lhe incutisse
medo, mas porque o capim e os malmequeres (mais altos do que eu) brilhavam como
pedrarias preciosas, tendo nós de atravessar vários vergéis antes de chegar a
um caminho. E meu querido paizinho, temeroso que os aljôfares molhassem sua
filhinha, tomou-a às costas, apesar da carga dos apetrechos de pesca.
Nos passeios que fazia com
ele, o papai gostava de me mandar entregar a esmola aos pobres que
encontrássemos. Certo dia vimos um que se arrastava com dificuldade em muletas.
Acerquei-me para lhe dar um óbolo. Mas, não se julgando bastante pobre a ponto
de aceitar esmola, ele olhou-me com triste sorriso e não quis pegar o que lhe
oferecia. Não consigo descrever o que se passou em meu coração. Quisera
consolá-lo e reconfortá-lo. Em lugar disso, porém, julguei que o tinha magoado.
O pobre doente adivinhou por certo meu pensamento, pois que o vi virar-se para
trás e envolver-me num sorriso. Papai acabava de comprar um doce para mim. Bem
me veio a vontade de lho dar, mas não tive coragem. Ainda assim queria dar-lhe
alguma cousa que não me pudesse refugar, pois sentia por ele uma simpatia muito
grande. Ocorreu-me então ter ouvido falar que, no dia da primeira comunhão, a
gente obteria tudo o que pedisse. Este pensamento foi um consolo para mim, e
disse comigo mesma, embora só tivesse seis anos ainda: "Rezarei pelo meu
pobre no dia da minha primeira comunhão". Cumpri a promessa cinco anos
mais tarde, e espero que o Bom Deus tenha atendido a oração que me inspirara a
fazer-lhe por um de seus membros sofredores...
Tinha muito amor ao Bom
Deus, e amiúde lhe oferecia meu coração, valendo-me da breve fórmula que mamãe
me ensinara. No entanto, certo dia, ou melhor, certa noite do lindo mês de
Maio, cometi uma falta que bem merece referência. Deu-me grande motivo de humilhar-me,
e a respeito dela creio ter tido contrição perfeita. Sendo muito pequena para
frequentar o mês de Maria, ficava com Vitória' e fazia com ela minhas devoções
diante do meu altarzinho do mês de Maria, adornado de acordo com minha
capacidade. -Tudo era tão miudinho: castiçais e vasos de flores, de sorte que
dois fósforos, à guisa de velas, clareavam tudo perfeitamente. As vezes,
Vitória fazia-me a surpresa de dar-me uns pedacinhos de torcida, mas era caso
raro. Uma noite, estando tudo prestes para nos pormos em oração, digo-lhe:
"Vitória, queres começar com o "Lembrai-vos", que vou acender".
Ela fez menção de começar, mas não disse palavra, e olhava-me rindo. Eu que via
meus preciosos fósforos consumirem-se rapidamente, supliquei-lhe fizesse a
oração, e ela continuou calada. Levantei-me então e pus-me a dizer-lhe, com voz
gritada, que era maldosa, e, abandonando minha habitual brandura batia o pé com
toda a minha força... A pobre da Vitória já não tinha vontade de rir. Olhou
para mim com estranheza, e mostrou-me as torcidas que me havia trazido...
Depois de verter lágrimas coléricas, derramei lágrimas de sincero
arrependimento, com o firme propósito de não tornar a fazê-lo!...
(cont.)
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